Guilherme Costa e Olivia Haiad - Do Portal
05/06/2008“Haverá uma disputa bastante competitiva entre Obama e McCain”. Antecipando-se à escolha oficial do candidato democrata à Casa Branca, que só foi confirmada no dia 3 de junho, Thomas F. Schaller já considerava certa a vitória de Barack Obama sobre Hillary Clinton. O dignóstico do professor de Ciência Política da Universidade de Maryland foi acompanhado pelos demais participantes do debate sobre as eleições americanas da série Encontros O Globo, dia 19 de maio, no auditório do jornal.
No encontro mediado pela jornalista Sandra Cohen, editora internacional do Globo, o ex-chanceler Luiz Felipe Lampréia, o ex-embaixador do Brasil nos EUA Roberto Abdenur e o historiador e professor do departamento de Economia da PUC-Rio Márcio Scalércio também apontavam o senador Barack Obama como um favorito capaz de passos ainda mais largos na “eleição histórica”:
- É a primeira eleição em meio século na qual houve disputa significativa nas primárias, entre uma mulher e um negro. Para políticos e jornalistas isso é emocionante. Milhões de dólares foram gastos apenas nas campanhas destes pré-candidatos - frisou Schaller.
Em que pese o caráter representativo desta corrida à Casa Branca, Scalércio ressalvou: as campanhas presidenciais dos Estados Unidos dedicam pouca ou nenhuma atenção à América Latina. Para ele, os candidatos não têm propostas concretas em relação aos países vizinhos. E o Brasil, por mais que mantenha relações diplomáticas estreitas com os EUA, enfrenta a perspectiva de manutenção do protecionismo americano. Neste aspecto, o professor da PUC-Rio acredita que o sucessor de Bush não produzirá mudanças significativas:
- Haverá uma postura reticente em relação àquilo que mais nos interessa: a abertura do mercado americano a commodities e produtos agrícolas brasileiros.
Abdenur explicitou as diferenças entre Obama e John McCain, o oponente republicano: enquanto o primeiro “ressalta a importância do diálogo e de abrir pontes com os inimigos”, o outro “é um homem respeitável, que passou cinco anos no Vietnã e joga com o patriotismo”. A maior preocupação do ex-chanceler remete à relação entre EUA e Venezuela:
- Temo que a questão envolvendo Chávez e as guerrilhas colombianas criem atritos. Caso isso aconteça, as forças diplomáticas brasileiras podem intervir e tentar mediar a situação.
Depois de traçar prognóstico favorável a Obama, Schaller destacou a importância de novas mídias, especialmente a internet e o celular, na disputa eleitoral. Os pré-candidatos criaram sites nos quais donativos podem ser feitos pelos eleitores. Hillary Clinton foi a primeira a se lançar online. Obama fez sua página no site Facebook.
- Fornecendo pequenas informações pessoais como gosto musical, ele conseguiu 830.000 mil 'amigos' em duas semanas. Eu, por exemplo, tenho apenas 200 – brincou o professor americano.
Schaller também esclareceu porque Barack Obama se tornou um fenômeno ao ultrapassar, em fevereiro, Hillary Clinton. De acordo com o especialista, o senador de Illinois foi subestimado, a partir da Super Terça (eleições dos delegados para as Convenções Nacionais dos Partidos que escolherão o candidato presidencial):
- O grande erro de Hillary foi achar que a eleição já estava ganha em fevereiro. Ela foi pega desprevenida – explica.
Para Schaller, a disputa entre Obama e McCain será muito acirrada. Ele estimou que a porcentagem de votos ficará entre 48% e 52%, com vantagem para o democrata nas eleições de novembro. Scalércio previu um confronto ainda mais duro:
- As eleições serão muito apertadas. Os republicanos têm um candidato com chances de ganhar. McCain é palatável e tem conseguido se descolar da imagem de Bush.
A candidatura de Hillary como vice é incerta para Schaller. Ele acha difícil a incorporação da senadora na chapa de Obama. “Desta forma, o candidato democrata não conseguirá se desvencilhar das décadas Clinton e Bush”, explicou. Sobre o futuro da guerra no Iraque, os participantes da mesa de debate concordaram que o candidato republicano tem maior tendência belicista que seu oponente democrata.
- Duvido que os EUA se retirem totalmente do Iraque - disse Scalércio.
Schaller também veio à PUC-Rio
No mesmo dia, na parte da tarde, Thomas Schaller participou de um debate na PUC-Rio, em uma mesa com Mac Margolis, da Newsweek, Ricardo Ismael, cientista político da PUC-Rio, e Letícia Pinheiro, do Instituto de Relações Internacionais.
Em entrevista exclusiva para o PUC-Rio Digital, Schaller diz que, se McCain vencer as eleições, não haverá muitas diferenças entre suas políticas e as de Bush:
- Será o mais próximo em termos de continuidade. Existem algumas diferenças entre Bush e McCain, mas ambos têm uma postura política agressiva, particularmente com alguns países do hemisfério, como Venezuela, Cuba e Bolívia.
Schaller acredita que a vitória de Obama acalmaria os ânimos nas relações dos Estados Unidos com os países que tradicionalmente não são seus aliados, não apenas os países da América Latina:
- Em ambos os casos os candidatos não fazem grandes discursos nas políticas para as Américas. O foco dos Estados Unidos provavelmente será o Oriente Médio, com Afeganistão e Iraque.