A agenda ambiental mudou depois da assinatura do Protocolo de Quioto – compromisso internacional de redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa, considerados a principal causa do aquecimento global. Quioto foi um dos marcos para que os países compreendessem os perigos dos poluentes na atmosfera. As conseqüências do aquecimento global e propostas para a redução dos impactos foram discutidas no II Seminário de Mudanças Climáticas, em abril, na PUC-Rio.
A agenda pós-Quioto e os reflexos no Brasil marcaram os debates do segundo encontro. Participaram os professores Sérgio Besserman, presidente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos e economista formado pela PUC-Rio; Eduardo Viola, da UNB; Bertha Becker, da UFRJ; e Ricardo Ojima, da UNICAMP. A mesa foi coordenada pelos decanos da PUC-Rio Maria Clara Bingemer, do CTCH, e Reinaldo Calixto, do CTC.
O agenda ambiental se aprofundou a partir de fevereiro de 2007, quando surgiu um novo fenômeno político, cerne da agenda do século XXI: O relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o IPCC. O documento alerta que, até 2100, a temperatura na Terra vai aumentar quatro graus, caso não ocorra uma redução da emissão de poluentes. O aquecimento global vai causar derretimento das geleiras, aumento do nível do mar, mudanças bruscas no clima, alagamento de áreas próximas ao mar. Segundo o relatório, o aquecimento é causado pelo aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera.
Os palestrantes reforçaram a necessidade de avanço nos mecanismos de controle de emissão de poluentes. Ações que aprimorem o compromisso firmado pelo Protocolo de Quioto. Em vigor desde fevereiro de 2005, o acordo propõe a redução da quantidade de gases poluentes em, pelo menos, 5,2% até 2012.
Para Sérgio Besserman, o controle da emissão de gases é um desafio essencial à sobrevivência do planeta, ou à qualidade de vida. Cinco eras já foram extintas. Não basta adotar medidas paliativas. É preciso equilibrar desenvolvimento e ambientalismo, preservar natureza e amenizar a fome:
- O aquecimento de 6,4% no século prevê uma mudança global do clima. Provocará transformações nas ações políticas e no pensamento. É necessário pensar mudanças no processo de produção e no modo de consumir: 33% da água que usamos em casa são para descarga, cada quilo de carne de boi consumido corresponde a três horas e meio ar condicionado ligado, 75% das emissões de gases são feitos na cidade. O desafio é não morrer queimado nas chamas do aquecimento global. Desenvolver não é crescer. Se o único objetivo for o desenvolvimento, sem pensar no meio ambiente, vamos bater a cabeça na parede.
A conjugação entre crescimento econômico e preservação ambiental ocupa o centro das discussões. Para Eduardo Viola, o Protocolo de Quioto gerou uma dissonância entre ciência e economia. A ciência prevê um 2050 catastrófico: a cada ano, crescem em 3% as emissões de gases, 20% destas enquadradas nas restrições do protocolo.
Segundo Viola, Quioto tem baixa eficácia: carrega um valor simbólico, sem interferir nas dinâmicas próprias dos países:
- No século XXI, os desastres ambientais já modificaram o cenário político, como o furacão Katrina, que devastou Nova Orleans (EUA), em 2005, e orientou os debates entre democratas e republicanos - lembrou.
Como Besserman, Viola propôs uma mudança no padrão comportamental. Se não frearmos o aquecimento, partiremos para um colonialismo climático ocidental, e a responsabilidade será nossa, alertou especialista. No Brasil, 50% do gases produzidos são causados pelo desmatamento da Amazônia e 80% deste desmatamento é ilegal, disse o professor.
As reflexos do aquecimento global no Brasil foram discutidos pelo pesquisador Ricardo Ojima e pela professora Bertha Becker. Segundo Ojima, o cenário de crise econômica e o crescimento populacional são obstáculos, mas não as únicas explicações para as mudanças climáticas. O pesquisador incluiu a transformação no uso da ocupação do solo e, principalmente, o desmatamento e as demandas energéticas. Segundo ele, este são os principais respinsáveis da transformação atmosférica.
- Uma família que mora na cidade consome mais recursos do que um família que mora na zona rural. As famílias urbanas estão cada vez menores e com um padrão de consumo em ascensão. Quanto mais dispersa a cidade, maior o nível de impermeabilização do solo, e assim, mais alagamentos e doenças hídricas, como a dengue - explicou.
Ojima apresentou dados de uma pesquisa realizada em São Paulo: 42% dos entrevistados em Campinas e 36% em Santos acreditam que o desmatamento é o principal responsável pelo problema climático. Já para professora Bertha Becker, as mudanças são características do mundo contemporâneo. Ela ressaltou: “Não devemos ter uma visão unilateral sobre um assunto tão complexo”.
- A população deve ser elucidada sobre as mudanças, para não entrar em pânico. A postura apocalíptica é recorrente da modernidade. Temos que propor projetos para resolver os problemas. O meu projeto para Amazônia é usar o imenso patrimônio sem destruí-lo. Não dá para ser só ambientalista ou só desenvolvimentista, há mil formas de combinar os dois. Produzir para conservar - propôs a professora.
Becker sugere "agregar valor" aos produtos da floresta e organizar a indústria madeireira. "O espaço da floresta está nos serviços e não na indústria", conclui.
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