Renan Rodrigues - Do Portal
01/11/2012Impulsionado pela internet, pelas novas tecnologias digitais e pela participação crescente em vitrines como os Festivais do Rio e de São Paulo, em setembro e outubro, o curta-metragem avança alguns degraus acima da etiqueta de porta de entrada para o mercado cinematográfico. Dos 50 filmes da Premiere Brasil 2012, a mostra competitiva do Festival de cinema do Rio, 29 eram curtas – volume que, segundo o cineasta e professor da PUC-Rio Marcelo Taranto, traduz a consolidação do gênero no país. Alguns deles ganharão novamente a tela grande, no cine Odeon, Centro, em duas iniciativas seguidas dedicadas exclusivamente a este tipo de produção: o Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro, de 1 a 8 de novembro, primeiro a indicar filmes ao Oscar, reunirá cerca de 300 filmes nacionais e estrangeiros (veja a programação completa), além de debates e workshops (aqui); e a Mostra PUC-Rio Kinoplex, de 9 a 11 de novembro, exibirá 66 curtas feitos por estudantes do curso de Cinema da universidade, como Agoniza mas não morre (2011), de Gabriel Meyohas, que havia participado do Festival do Rio. O diretor iniciante comemora a visibilidade:
– Já participamos dos festivais do Rio e de Montevidéu deste ano. Agora, vamos ter espaço também no Odeon. A visibilidade está ótima. Isso é muito bom para gente – anima-se o jovem de 21 anos.
Agoniza mas não morre é inspirado em música de mesmo nome de Nelson Sargento. Como na letra de 1979, o filme aborda a “mercantilização do samba”, segundo o diretor. Personagens como o próprio Nelson Sargento e Dona Ivone Lara, ícones do samba, são entrevistados no documentário de aproximadamente 13 minutos:
– Eu e Maíra Motta, minha amiga de curso, nos baseamos na música para montar o roteiro, embora eu acredite que o roteiro de um documentário só saia, efetivamente, na própria edição. Falamos sobre a transformação do samba em produto, sobre os desfiles das escolas de samba e a participação da mídia. Enfim, falamos sobre a trajetória do samba – sintetiza Gabriel.
Agoniza mas não morre disputará com os demais 65 curtas a chance de ser exibido para o grande público. Inserida na agenda de comemoratções dos 60 anos do Departamento de Comunicação, a Mostra PUC-Rio Kinoplex de Cinema, no Odeon, premiará três filmes de ficção e três documentários, que serão compilados para entrar no circuito comercial, em abril do próximo ano (veja a lista completa no fim do texto). Os vencedores serão anunciados na noite de encerramento (11), no próprio Odeon. Um dos articuladores da iniciativa, o professor de cinema da PUC-Rio Arturo Netto, considera que a parceria entre a universidade e o grupo brasileiro do setor seja um complemento entre a formação acadêmica e o mercado:
– A habilitação em cinema, criada em 2005, é a mais nova do Departamento de Comunicação Social, fundado em 1952. Nós queremos atingir a excelência acadêmica e, ao mesmo tempo, promover a aproximação do aluno com o mercado.
Em busca de mais visibilidade para o trabalho desenvolvido pelos alunos, o Odeon foi escolhido, ainda de acordo com Arturo, por "associar tradição e qualidade". Ele acredita que a exibição em um “cinema de referência" seja um estímulo a mais aos alunos:
– Escolhemos o cinema Odeon porque ele é emblemático. A Cinelândia era a maior concentração de cinemas do Rio, mas hoje restou apenas o Odeon – lamenta.
Emblema também um tempo em que, para o bem e para o mal, a internet assume um peso signficativo na rotina e nos movimentos profissionais. No caso do cinema, boa parte dos estudantes, cineastas e professores concorda que as tecnologias digitais e a rede mundial convertem-se – de forma complementar ao prestígio e a visibilidade amealhados nos festivais – em canais pródigos para a divulgação de curtas-metragens. Gabriel só não tornou o seu Agoniza mas não morre integralmente disponível na internet porque a exibição integral na rede impossibilitaria a participação em mostras competitivas, que, em geral, admitem só inéditos. Mas o estudante não perdeu a oportunidade de divulgar o filme nas redes sociais:
– Como não podemos disponibilizar o filme todo, fazemos a divulgação por meio de trailer. Mesmo com a limitação, é muito bom fazer a divulgação. A visibilidade lá (na rede) é muito grande, principalmente para quem faz cinema independente – argumenta o aluno do oitavo período.
Aquela limitação imposta pela maioria dos festivais fez com que o também estudante de cinema na PUC-Rio Pedro Bueno, diretor de A menina e o monstro, deixasse o filme, pelo menos por enquanto, fora da internet. O curta, concluído há apenas um mês, será exibido pela primeira vez no festival do Odeon:
– Alguns festivais querem exclusividade, então não se pode divulgar o filme na internet. Mas vamos pensar em trailer para o Youtube e o Facebook. A internet é uma grande aliada, porque, apesar dos avanços, não temos grande divulgação de curtas no Brasil. Fora do circuito de festivais, os curtas não chegam – ressalva.
O curta A menina e o monstro investe na relação entre uma menina e o monstro que vive embaixo da sua cama. Com o tempo, eles se tornam amigos. Segundo o diretor, a história é de fácil identificação por todas as pessoas:
– Eu pensei em contos de fada e lembrei de um amigo de infância. Todo mundo se identifica.
A menina e o monstro se passa nos anos 1950, o que, ressalta Pedro, possibilitou "um trabalho especial na fotografia". O apoio recebido para a caracterização de época também é reconhecido pelo cineasta da nova geração:
– A produtora em que trabalhei cedeu o equipamento de fotografia e uma loja infantil, o figurino – conta.
Embora colaborações externas e criatividade sejam importantes para concretizar o sonho de fazer um curta, de ficção ou documental, os alunos contam com o suporte – de estrutura e financeiro – da universidade. Apoiado pelos professores, o processo de produção, desde o desenvolvimento e aprovação do roteiro até a edição final, corresponde a parâmetros do mercado; reúne as principais qualificações e responsabilidades inerentes à realização cinematrográfica.
Já quanto à divulgação dos filmes produzidos, os alunos desdobram-se entre a participação em festivais e mostras competitivas, especialmente necessárias ao reconhecimento e à visibilidade no setor, e ao apelo maciço da internet. Na carona da popularização da web e das redes sociais, o curta atravessa as fronteiras dos festivais de cinema, avalia Taranto. O enorme acesso à internet, que atingiu, segundo o Ibope, 83,4 milhões de usuários em todo o Brasil, ajuda na disseminação do gênero:
– A geração atual tem uma necessidade da informação imediata. Ela é ligada a muitas coisas ao mesmo tempo. Um filme de oito ou nove minutos no Youtube, por exemplo, pode ser mais assistido que um longa-metragem – constata o cineasta e professor.
Arturo reconhece que o maior uso das redes sociais possibilita, às produções com pequeno orçamento, uma melhor divulgação. Ele até orienta que os alunos "façam o marketing dos seus filmes" por meio desses canais:
– Essa geração é digital. As ferramentas digitais podem ajudar na divulgação. Eu sugiro aos meus alunos de Produção Cinematográfica II que utilizem as redes sociais para a divulgação dos seus trabalhos.
Ele acredita até que a internet ajude a dirimir os preconceito que tradicionalmente recaem sobre o gênero. Muitos ainda associam a produção, não raramente feita com poucos recursos, a prejuízo de qualidade. Para Arturo, a maior visibilidade dos curtas, exibidos de forma crescente na rede, mostra que "há boas produções nesse formato".
– Uma lei obrigava a exibição de um curta antes de um longa nas salas de cinema. A produção era ruim porque o espaço estava garantido. Isso gerou uma imagem negativa para o gênero. Agora, sem a obrigação, a tendência é que o curta se valorize – acrescenta o especialista.
Mesmo com a maior divulgação dos curtas-metragens na internet, Taranto observa que tal ferramenta não mudará a produção. Pois, "a exposição do gênero não muda a arte, mas a linguagem como ela se apresenta":
– A arte sempre vai ser infinita. Não é o curta, mas a arte cinematográfica. O curta existe como ele é.
Mostra PUC-Rio Kinoplex de Cinema Cinema Odeon: Praça Floriano, 7, Cinelândia. Entrada gratuita: alunos, professores e funcionários da PUC-Rio. Público em geral: R$ 5. Dia 09, às 13h: A VONTADE DE PEDRO (2009.2), Ficção, 18 min. Diretor: André Ryff AGORA EU SOU ESTAMIRA (2011.2), Documentário, 16 min. Diretora: Priscila Steinman
CINEMA É MARESIA (2008.1), Documentário, 19 min. Diretor: Diogo Cavour
DE CARA LIMPA (2008.2), Documentário, 20 min. Diretores: André de Franco e Sabrina Gregori
LÁGRIMA (2012.1), Documentário, 17 min. Diretor: Eduardo Reznik
REMO USAI (2007.2), Documentário, 20 min. Diretor: Bernardo Uzeda
Dia 09, às 15h15 À MARGEM (2010.2), Ficção, 15 min. Diretores: Alan Ribeiro e Leonardo Neuman
CABEÇA DE TOURO (2012.1), Ficção, 15 min. Diretor: Diego Zimermann
CARAPEBUS (2010.1), Ficção, 43 min. Diretor: Fabian Cantieri
ESTILHAÇOS DE UMA CIDADE (2012.1), Documentário, 15 min. Diretor: Thiago Ortman
FLUXOS (2011.2), Documentário, 13 min. Diretor: Dogivan Vasconcelos
RESPOSTA (2011.1), Documentário, 15 min. Diretor: Victor Fiuza
Dia 09, às 17h30
EU FICO (2011.1), Ficção, 14 min. Diretor: Lucas Mendonça
MOTO GRANDE (2010.2), Documentário, 13 min. Diretor: Victor Quintanilha
PÁGINA 325 (2009.1), Documentário, 29 min. Diretores: Fabian Cantieri e Luis Gustavo
UM SEXTO SENTIDO (2012.1), Documentário, 15 min. Diretora: Amana Gomes
VERDADE VERDADEIRA (2011.2), Ficção, 15 min. Diretores: Felipe de Carolis, Eline Porto e Jaqueline Alvine
VIRGINIA (2008.1), Ficção, 15 min. Diretora: Sabrina Bitencourt
Dia 09, às 19h45
AGONIZA, MAS NÃO MORRE (2011.2), Documentário, 14 min. Diretor: Gabriel Meyohas
ALGUNS GOSTAM DE POESIA (2012.1), Documentário, 15 min. Diretora: Manuelle Rosa
COPYRIGHT COPS (2010.2), Ficção, 7 min. Diretor: Julio Secchin
O SONHO DE LAURA (2010.2), Documentário, 14 min. Diretores: Sabrina Gortz e Jasmin Sánchez
PSEUDOCIESE (2008.1), Ficção, 25 min. Diretor: Eduardo Albuquerque
ROSA AMARELA (2011.2), Ficção, 12 min. Diretora: Adélia Jeveaux
Dia 10, às 13h00
COMO SE FOSSE O ÚLTIMO (2008.2), Ficção, 19 min. Diretora: Sabrina Magalhães
OUTSIDERS (2008.2), Documentário, 22 min. Diretores: Antonio Campos, Bernardo Adeodato, Ricardo Elia, Luiz Octavio Guimarães, Jonas Louzada
POR ENQUANTO (2011.1), Documentários, 16 min. Diretora: Eline Porto
SONHOS CEGOS (2011.2), Documentário, 22 min. Diretora: Jess Weiss
SUBTAMENTE V (2010.1), Ficção, 19 min. Diretora: Ana Carolina Lopes
VIOLINO AZUL (2009.2), Ficção, 15 min. Diretores: Filipe Pontes e Renata Lima
Dia 10, às 15h15 MÉNAGE À TROIS (2012.1), Ficção, 11 min. Diretor: Joel Souza
NO TEMPO EM QUE A MÚSICA ERA MODERNA (2012.1), Documentário, 15 min. Diretoras: Ana Paula Ferreira e Érika Nunes
OS AMIGOS DE 68 (2010.2), Documentário, 15 min. Diretora: Elena Diniz
PEREIRA (2011.2), Documentário, 11 min. Diretor: Pedro Elias
TEMPO TERRA (2009.1), Documentário, 40 min. Diretor: Tiago Rios
UBUNTU (2011.1), Documentário, 13 min. Diretor: Bender Arruda
Dia 10, às 17h30
ANIMAÇÃO (2010.2), Documentário, 14 min. Diretores: Natasha Santana, Deborah Barra, Carolina Salgueiro, Jaqueline Alvine e Pedro Bueno
ANOTAÇÕES EM NOVEMBRO (2008.2), Documentário, 26 min. Diretor: Pedro Ferreira
ENQUANTO ISSO (2008.1), Ficção, 13 min. Diretor: Vitor Leite
NA DÚVIDA, ACELERA (2010.1), Documentário, 15 min. Diretor: Marcelo Velloso
O INFERNO SÃO OS OUTROS (2011.1), Ficção, 12 min. Diretora: Carolina Jessula
PARA ONDE VÃO OS PEIXES DOURADOS (2010.2), Ficção, 11 min. Diretora: Maíra Scherer
Dia 10, às 19h45
7 & 70 (2011.2), Ficção, 16 min. Diretores: Diego de Angeli e Helena Cosi
A CONSTRUÇÃO DA RUÍNA (2011.1), Documentário, 13 min. Diretor: Caíque Mello
CULTURA LIVRE (2009.1), Documentário, 28 min. Diretores: Pedro Galliez e Yuri Amorim
INTERVENHA AQUI (2011.2), Documentário, 15 min. Diretor: Sidney Dore
PADEDÊ (2010.2), Documentário, 14 min. Diretora: Adélia Jeveaux
SOBE, SOFIA (2008.2), Ficção, 15 min. Diretor: André Mielnik
Dia 11, às 13h00
1 + 1 = 11 (2007.2), Documentário, 18 min. Diretora: Fernanda Frotté
A MENINA E O MONSTRO (2011.2), Ficção, 17 min. Diretor: Pedro Bueno
ALIENATION (2011.2), Documentário, 17 min. Diretora: Julia Bragatto
ASSIM COMO ELA (2010.1), Ficção, 16 min. Diretora: Flora Diegues
ONDE OS MOSRTOS NÃO TÊM VEZ (2011.1), Documentário, 16 min. Diretores: Bernardo d’Ávila, Eduardo Gutherz e Gabriel Fontes
WALTER LIMA JR. – A VIDA INSPIRA A ARTE (2008.2), Documentário, 24 min. Diretor: Marcelo Feijó
Dia 11, às 15h15
A PERSISTÊNCIA DAS COISAS (2009.2), Ficção, 35 min. | 2009.2 Diretor: Tiago Rios
DIREITA É A MÃO QUE VOCÊ ESCREVE (2008.2), Ficção, 15 min. Diretora: Paula Santos
FILME PIPOCA (2010.2), Documentário, 12 min. Diretor: Mário Franca
FLOW (2012.1), Documentário, 10 min. Diretora: Rafaella Buzzi
NO ESCURO (2010.2), Ficção, 12 min. Diretora: Letícia Pires
O CORAÇÃO AS VEZES PARA DE BATER (2009.1), Ficção, 14 min. Diretora: Maria Camargo
Dia 11, às 17h30
BARBARA EM CENA (2011.2), Documentário, 15 min. Diretora: Ellen Ferreira
CONDIÇÃO (2011.2), Ficção 15 min. Diretor: Victor Quintanilha
PALHAÇOS NÃO CHORAM (2011.1), Ficção, 15 min. Diretora: Luisa Mello
PARA INGLÊS VER (2008.2), Documentário, 26 min. Diretores: Vitor Granado e Robson Ribeiro
SOUVENIRS DE VERÃO (2012.1), Ficção, 13 min. Diretoras: Luíza Carneiro e Marina Erlanger
VOLTA (2011.1), Documentário, 14 min. Diretores: Diego Zimermann e Victoria Visco |