Quatro painéis criados pela arquiteta carioca Virgínia Fienga reproduzem corredores do Museu d’Orsay no térreo do Centro Cultural Banco do Brasil, trazendo a atmosfera do museu parisiense ao Rio. Logo na entrada, o visitante encontra uma reprodução gigantesca do Tocador de pífano, de Édouard Manet. O uso de cores fortes em fundo liso, em que a única noção de profundidade é um leve sombreamento dos pés, fez do soldadinho uma quebra dos padrões vigentes em 1866. Por isso, a obra é a principal da exposição Impressionismo – Paris e a modernidade.
As 85 obras estão divididas em seis módulos. Os temas Paris: a cidade moderna; A vida urbana e seus autores; e Paris é uma festa foram dedicados à vida na metrópole moderna. Nessas encontram-se quadros de artistas como Renoir, Paul Cézanne, Toulouse-Lautrec e Edgar Degas, que retrataram as óperas, balés, cafés e teatros franceses. Em uma palestra de abertura, na última terça-feira, a curadora-chefe do d’Orsay, a francesa Caroline Mathieu, lembrou que a geografia de Paris na segunda metade do século XIX permitia a entrada plena da luz, o que colaborava para os efeitos explorados pelos impressionistas.
– Paris passava por diversas transformações urbanas, e a intenção desses artistas era retratar a vida no mundo moderno. Assim como Charles Baudelaire retratou na literatura, os impressionistas buscaram cenários típicos das capitais modernas – disse a curadora. – Degas, por exemplo, era apaixonado pela ópera e pelo balé. Na obra Dandeuses montant um escalier, mostra um enquadramento fantástico de bailarinas subindo as escadas.
Já os módulos Fugir da cidade, Convite à viagem e A vida silenciosa reúnem obras de artistas que buscaram uma vida mais calma e bucólica, com destaque para os mestres Claude Monet, Paul Gauguin, Georges Seurat e Paul Signac. Eles retrataram o envolvimento do homem com a natureza.
Van Gogh também está nesse grupo com La salle de danse à Arles, único quadro do artista presente na exposição. Segundo a curadora, as obras de Van Gogh, muito frágeis e requisitadas, não puderam ser trazidas ao Brasil. Em compensação, o público encontrará o lago luminoso de Monet em Le bassin aux nymphéas (foto).
– Monet era fascinado pela luz. O lago das ninfeias surgiu nos 30 últimos anos da sua vida. Assim como todos os impressionistas, ele se interessava pelas variações de climas e iluminações. Na obra Régates à Argenteuil fica clara a intenção do artista em mostrar o efeito de cada pincelada ao retratar o mundo dos reflexos.
Números impressionantes
A organização do evento está confiante. Pretende superar os 320 mil visitantes que Impressionismo: Paris e a modernidade teve nos 54 dias em cartaz no CCBB paulistano, média de 5.900 visitas diárias. No Rio, a temporada, de 72 dias, vai até 13 de janeiro.
Na terça-feira, o primeiro dia da exposição aberta ao público, a espera para percorrer a mostra não levou mais que 20 minutos. Grupos de até 300 pessoas, ou 400 nos dias de visita escolar, podem percorrer as alas simultaneamente.
As estudantes Vanessa Marinho, de História da Arte, e Ester Formiga, de Educação Artística, foram ao primeiro dia para a palestra com os organizadores. Para Vanessa (à esquerda na foto), a exposição é uma excelente oportunidade de conhecer de perto as obras impressionistas.
– Amo a arte impressionista, mas nunca fui ao d’Orsay. Vim de Campo Grande, na Zona Oeste, só para ouvir os curadores, e pretendo voltar para ver melhor os quadros. Não poderia perder essa chance, até hoje me arrependo de não ter visto a do Escher – disse, referindo-se à mostra O mundo mágico de Escher. Recorde mundial de público em 2011, de acordo com a revista britânica The Art Newspaper, a exposição do artista holandês no CCBB carioca atraiu 573.691 visitantes, cerca de 9.600 espectadores diários.
Co-curador e diretor-geral da Fundação Mapfre, patrocinadora da exposição, o espanhol Pablo Jiménez Burillo ressaltou a importância de se refletir sobre a história e os feitos dos artistas impressionistas. Para Pablo (à direita na foto, com os outros curadores, Caroline Mathieu Guy e Cogeval), as obras vão além da beleza estética, mas representam o próprio desenvolvimento da humanidade sob a visão dos grandes artistas da época:
– Esses artistas contribuíram com o mundo, e deixaram um legado sobre o seu tempo. Espero que esta exposição não fique na memória somente como um passeio, mas como uma oportunidade para refletir sobre a nossa realidade.
Museu francês ganhou nova iluminação
Na palestra dos curadores a cerca de 150 pessoas, no Teatro I do CCBB, o presidente do d’Orsay, Guy Cogeval, mostrou o resultado dos dois anos de reformas feitas no museu, entre 2009 e 2011, para modernizar sua estrutura – o Museu d’Orsay foi aberto em 1986.
Cogeval exibiu o café do museu, reformado por dois arquitetos brasileiros, os irmãos Humberto e Fernando Campana. Entre o moderno design de aço retorcido de cores fortes, se destaca o enorme relógio dourado da antiga Gare d’Orsay (foto), estação de trem parisiense inaugurada em 1900, retratada no filme A invenção de Hugo Cabret.
Em um museu com grande concentração de obras impressionistas, a preocupação da direção foi coerente, ao investir em iluminação:
– Além das restaurações nas vidraças, instalamos holofotes ocultos. Antes, tínhamos um foco de luz em cada quadro; hoje temos seis em diferentes pontos, para preservar as cores. Mudamos também as cores das paredes para aumentar o contraste com as obras expostas.