Com momentos beligerantes, mas com espaço para o debate de ideias, Aspásia Camargo (PV); Eduardo Paes (PMDB); Marcelo Freixo (PSOL); Otávio Leite (PSDB) e Rodrigo Maia (DEM), candidatos à Prefeitura do Rio, se enfrentaram por cerca de duas horas em debate na Rede Globo, na noite desta quinta-feira, o último antes das eleições de 7 de outubro. A primeira parte do debate foi marcada pelo embate entre Freixo/Paes. O candidato do PSOL fez acusações contra o prefeito sobre o “mensalão carioca”; e Paes acusou Freixo de falta de critérios citando um miliciano que se candidatou pelo PSOL.
Logo no início do primeiro bloco de perguntas livres, Freixo questionou Paes sobre as recentes denúncias feitas pela revista Veja a respeito de um vídeo em que integrantes do PTN dizem ter recebido dinheiro para fazer parte da base de governo do prefeito. Paes reconheceu que fez acordo com o PTN, segundo ele de forma legal, e negou ligações com Jorge Sanfins Esch, presidente estadual do partido.
Marcelo Freixo e Rodrigo Maia fizeram dobradinha para atacar Paes. Quando o tema foi transporte, não faltaram acusações contra as políticas do setor adotadas pelo peemedebista. Os dois acusaram a prefeitura de ter uma relação subserviente com a Fetranspor.
No momento de maior ironia do debate, Rodrigo Maia acusou Paes de ingratidão a Cesar Maia, com quem iniciou sua carreira, e o prefeito reagiu rindo: “Não vou ficar fazendo psicoterapia em grupo com você, aqui não é lugar para isso”.
Otávio Leite fez suas propostas para a educação enquanto discutia com Aspásia Camargo sobre a perimetral e as obras do Porto Maravilha. Leite se posicionou contra a demolição da Perimetral, alegando que a obra é cara. Aspásia defendeu a derrubada do viaduto, que considera feio, e acrescentou que a região deveria ser articulada com outras por trilhos. A candidata do PV questionou a Rodrigo Maia sobre a tendência dos últimos prefeitos cariocas de se definirem como gestores, como Cesar Maia, afirmando que a cidade precisa de liderança para tomar decisões, muito mais do que gestores. Rodrigo defendeu a administração do pai.
No segundo bloco, Otávio Leite e Rodrigo Maia falaram de suas propostas para a geração de empregos. O estímulo à instalação de empresas verdes e a capacitação de jovens foi consenso.
Aspásia Camargo criticou o gerenciamento hospitalar do Rio. Freixo acusou a politica habitacional de Paes de ser elitista e estimular a especulação imobiliária tornando o Rio uma das cidades mais caras para se viver. Acrescentou que as politicas habitacionais só são feitas na zona oeste onde o acesso ao transporte é deficiente. Freixo perguntou a Otavio Leite sobre as propostas sobre as creches que na cidade não atende em grande escala. O terceiro round, no terceiro bloco.
“Mensalão carioca” e legado das Olimpíadas
Iniciado o terceiro bloco, cujos temas eram livres, a relação de Paes com o PTN veio à tona por Rodrigo Maia, que perguntou de bate-pronto: “Se o PTN custou R$ 1 milhão, quanto custaram os outros partidos?”. Eduardo Paes afirmou não ter pagado nenhum “mensalão” para ter o apoio do PTN, e reafirmou não ter qualquer ligação com o líder do partido. Rodrigo disse que Paes fica “descontrolado” quando é questionado sobre acusações contra si.
Otávio Leite criticou a crise na saúde; Freixo reclamou da falta de investimento da prefeitura em classes especiais para pessoas deficientes nas escolas; Freixo e Aspásia falaram da necessidade de a Olimpíada deixar um legado para a cidade, assunto que voltou no quarto bloco.
Eduardo Paes começou o penúltimo bloco, que foi temático, perguntando a Aspásia qual seria seu legado (palavra batida entre os candidatos) para a Copa, caso eleita. A candidata afirmou que pretende desenvolver o esporte nas escolas, a fim de formar talentos e melhorar a qualidade do ensino: “Não vamos formar campeões com déficit educacional e analfabetismo funcional”.
Aspásia e Freixo criticaram o trânsito na cidade e a falta de investimentos de transporte sobre trilhos por parte do prefeito, que segundo eles, só investe no transporte rodoviário, que não é veículo de massa.
Rodrigo Maia e Marcelo Freixo retomaram a dobradinha e condenaram a subserviência de Paes às empresas de ônibus, chamadas de cartel pelos opositores do prefeito.
Agradecimentos e apelo por segundo turno
Como o quinto bloco era livre, os candidatos aproveitaram para mandar recados de otimismo aos eleitores:
Otávio Leite: “As pessoas devem vir em primeiro lugar. Obras são importantes, mas quero um Rio mais humano, não só asfalto e concreto”.
Marcelo Freixo: “Agradeço aos jovens que foram às ruas. Peço a oportunidade de segundo turno, onde os dois candidatos terão o mesmo espaço para os debates de ideias”.
Rodrigo Maia: “Tenho orgulho de fazer parte do grupo de que faço parte (sic). Queremos que os grandes acontecimentos do Rio deixem um legado para cada um, e não para poucos”.
Eduardo Paes: “A prefeitura, ao longo destes quatro anos, recuperou a autoestima da cidade, e acabou com a briga que havia antes com os outros prefeitos”.
Aspásia Camargo: “Minha presença nesta campanha é discutir e aprofundar os problemas do Rio. A sustentabilidade deve estar em todos os níveis da política”.
Candidatos se acusam e fazem declarações polêmicas
O clima “paz e amor” do fim do debate se dissipou ao fim do programa, quando os candidatos foram responder a perguntas da imprensa. Neste momento, os ânimos voltaram a se acirrar. Já era mais de uma hora da manhã quando começou a sabatina com os jornalistas. Os candidatos entraram um a um na sala de imprensa, para responder às perguntas por 10 minutos, sozinhos no púlpito, sem assessores. Sobraram declarações polêmicas, resgistradas por câmeras fotográficas, de TV, gravadores, bloquinhos, tablets e notebooks de repórteres de rádio, TV, jornal e internet, todos a postos para capturar escorregadas dos postulantes ao cargo de prefeito. Eduardo Paes ironizou Rodrigo Maia e negou acusações que lhe fizeram. Marcelo Freixo disse que, se houver segundo turno, o prefeito “não lhe irá escapar”. Otávio Leite ironizou a “candidatura cinematográfica” de Freixo, que rebateu a ironia; e Rodrigo Maia voltou à carga contra Paes. Aspásia Camargo, que contou com a ajuda de um banquinho para compensar seus 1,55m, disse que evita brigas porque é educada. A seguir, trechos das respostas, na ordem em que foram sabatinados:
RODRIGO MAIA
Sobre Eduardo Paes:
“Ficam ele e seus assessores rindo, debochando. Vira homem, pô! O Eduardo trata a minha candidatura com desdém”.
Questionado sobre os altos índices de rejeição apontado em pesquisas:
“Não avalio pesquisas. Domingo o eleitor vai decidir de forma democrática. Estes números de rejeição para mim são indiferentes”.
Sobre as denúncias de pagamento do PMDB de Paes ao PTN:
“A denúncia da Veja demonstra o tipo de política que se faz no Rio desde 2006, com o Sérgio Cabral. Uma formação de vários partidos que se juntam para ganhar um tempo grande na TV que desequilibra o jogo político. Há muitas conexões desta ligação”.
Sobre o segundo turno e a possibilidade de apoiar Freixo no segundo turno:
“Espero segundo turno sim. Estarei na rua até o último dia. No segundo turno zera o tempo na TV, e os dois candidatos passam a ter o mesmo tempo. Não vou dizer quem vou apoiar se houver segundo turno, pois tenho convicções de que disputarei o segundo turno”.
ASPÁSIA CAMARGO
Sobre o segundo turno:
“Até o domingo vou esperar segundo turno. Em política não existe dizer que vai apoiar um candidato no segundo turno se você não sabe se estará no segundo turno”.
Sobre políticas sustentáveis:
“Se o Rio ficar de fora das discussões sobre sustentabilidade, a cidade irá perder o bonde da história e nem a Copa nem a Olimpíada nos salvarão”.
Questionada sobre comportamento pouco combativo:
“Sou uma pessoa educada e não gosto de partir para a agressão. Mas enfrento os temas”.
Sobre Rodrigo Maia e Marcelo Freixo:
“O Rodrigo faz dobradinha com o Freixo. Isso para mim é um mistério, já que o voto dele vai para o Freixo”.
EDUARDO PAES
Sobre provocações de Rodrigo Maia:
“Considero baixarias de campanha. Não vou discutir a opinião do Rodrigo”.
“Eu que sou agressivo? Fui permanentemente agredido, mas não sou agressivo, os outros é que me atacam. Só não quis fazer terapia de grupo com o Rodrigo”.
Sobre as denúncias contra partidos da sua base aliada:
“Ter uma base grande não me traz problema. Não entrego meu governo. Não vejo problema”.
Sobre a possibilidade de haver segundo turno:
“Não sei comentar se vai ter segundo turno. Vou trabalhar até o último dia. Se não der no primeiro, pode ser no segundo. Meu objetivo é ganhar a eleição. Se não der, volto para casa”.
OTÁVIO LEITE
Sobre não ter criticado Paes durante o debate:
“O debate deve ter como prioridade o Rio. O Rodrigo e o Freixo já tinham abordado o assunto, seria chover no molhado. Fui o primeiro a me pronunciar sobre as denúncias contra o Eduardo. Debate é para falar sobre os assuntos da cidade”.
Sobre as dificuldades da campanha:
“Fico feliz de ter feito campanha tendo que enfrentar uma estrutura que trabalha nas três esferas: municipal, estadual e federal”.
Sobre a campanha de Marcelo Freixo:
“O Freixo, com todo o respeito que tenho por ele, é um candidato de cinema. Embora haja uma verdade sobre sua trajetória, o filme Tropa de Elite potencializa sua imagem. Quantas vezes o filme passou na TV durante a campanha?”.
Sobre o debate e a esperança de ir para o segundo turno:
“O debate serviu para tirar dúvidas. Vamos aguardar as águas rolarem”.
MARCELO FREIXO
Sobre as denúncias contra Eduardo Paes:
“A denúncia é muito séria e gravíssima. Uma aliança com 20 partidos não se faz com ideologia, se faz com acordos. Quando se faz tanta aliança, se distribuem cargos e não se possibilitam as mudanças necessárias para a cidade”.
Sobre o segundo turno:
“Vai ter que ser entre eu (sic) e ele. O debate vai ser mais profundo, e o Paes não vai poder fugir”.
Sobre resultado das pesquisas:
“Meu sentimento é diferente das pesquisas. Vamos esperar o dia 7 para ver. O universo de votos nulos, brancos e indecisos é grande. Quem assistiu ao debate pode achar que o segundo turno pode ser importante”.
Sobre a declaração de Otávio Leite, que disse que sua candidatura é de cinema:
“Minha candidatura pode ser de cinema. Mas é um roteiro de um lindo filme. A dele é de terror ou de comédia”.
A posição dos candidatos no estúdio da Central Globo de Produção, na Zona Oeste, foi definida por sorteio. Da esquerda para a direita ficaram Eduardo Paes, Otávio Leite, Aspásia Camargo, Rodrigo Maia e Marcelo Freixo, que responderam a perguntas uns dos outros em cinco blocos, com mediação do jornalista Márcio Gomes. Não houve pedidos de réplica ou reclamações por parte dos candidatos.
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