A quatro dias das eleições municipais, o candidato do PSOL Marcelo Freixo, segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, atrás do prefeito Eduardo Paes (PMDB), concentra esforços para levar a corrida à prefeitura do Rio para o segundo turno. Parte deles significa, literalmente, suar a camisa. Freixo e os demais concorrentes mostram que, mesmo na era digital, a sola de sapato mantém-se estratégica às ambições eleitorais. Assim apontou o corpo a corpo de Freixo na Cidade de Deus, nesta segunda-feira, acompanhado por equipe do Portal.

Em pouco mais de uma hora pela comunidade da Zona Oeste, foram 2.090 passos, o suficiente para uma pessoa de 63kg perder, aproximadamente, 83 calorias. Disposto a converter o gasto calórico em gordura eleitoral, Freixo cumprimentou 60 eleitores, 17 crianças, e beijou sete moradoras. Foi parado por cinco motoristas, atrás de um aperto de mão. Cena clássica, que resiste à febre dos contatos virtuais (o Brasil já é o segundo país com mais usuários, por exemplo, no Facebook: 46 milhões de contas).

Numa caminhada, não há tempo ou razão para a consulta não raramente frenética às mensagens acumuladas no smartphone. Corpo a corpo, como diz o nome, exige fôlego, desprendimento uma dose nada desprezível de paciência e, claro, a habilidade inerente à categoria para transformar em capital político os pedidos, críticas e gracinhas pelo caminho. Naquela manhã de primavera, Freixo colheu mais incetivos que cobranças. Abordado por um grupo animado de cinco mulheres, que gritavam "meu candidato, meu candidato", Freixo trocou os sorrisos de praxe pela emoção do reconhecimento: uma delas, que se disse casada com um ex-detento, agradeceu-lhe o “carinho” do candidato aos presidiários, em defesa dos direitos humanos.

A andança por trechos dos 1,2 quilômetro quadrado da Cidade de Deus cumpriu uma rotina seguida à risca pelo candidato. Ele dedica cinco horas diárias à campanha de rua, mesmo tempo que resta para dormir. Apesar do cansaço da reta final, considera o corpo a corpo, mais que necessário, insubstituível:

– A campanha virtual não substitui a presencial. Só o contato direto com o eleitor permite conhecer os problemas dele para propor soluções – justifica.

As redes sociais, no entanto, assumem um peso representativo nas campanhas, sobretudo aos candidatos com menor exposição na TV. Enquanto o prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição, conta com mais de 16 minutos diários no Horário Eleitoral, Marcelo Freixo tem a menor exposição entre os cinco primeiros nas pesquisas de preferência de voto: menos de dois minutos. Segundo ele, a internet é a saída:

– Como não temos aliança, nosso horário eleitoral é reduzido. A campanha virtual se torna o antídoto a essa barreira.

Enquanto a página oficial do canditado no Facebook, principal canal de comunicação com a militância virtual, reúne 67 mil likes – usuários que recebem o conteúdo publicado na página –, os outros quatro principais concorrentes, incluindo Paes, somam 52 mil likes. Freixo aproveita o desempenho da sua campanha na internet para, em tom de ironia, alfinetar os adversários:

– Não pagamos ninguém para ficar compartilhando foto na internet. São as pessoas que se identificam com a campanha que ajudam com a divulgação do material.

A página do Facebook é alimentada com sete postagens diárias produzidas pela equipe do candidato.Já o twitter oficial é controlado, segundo a assessoria, pelo próprio Marcelo Freixo.

Assédio internacional

Em meio aos acenos de praxe, às abordagens de moradores da Cidade de Deus e à empolgação coreografada dos militantes, Marcelo Freixo atende um público pouco íntimo dos escaninhos eleitorais e da realidade carioca – cujas informações, dispersas, chegam via satélite reportagem. "É importante mostrar a verdadeira realidade do Rio", enunciou Freixo, como um bordão de campanha, à repórter da rede TV chinesa CCTV.

A brasileira Tatiana Lemos, produtora da Pro HD Vídeos, parceira local da CCTV, diz que o filme Tropa de Elite 2 (2010), de José Padilha, ajudou a divulgação da imagem do Freixo, no qual é supostamente inspirado um dos personagens. Mas ressalva que o interesse internacional tem outros motivos:

– O Freixo desperta interesse por ser de um partido nanico que vai contra a imagem do Rio que o mundo aprova. Isso causa espanto, então todos querem conhecer um pouco mais dele.

A caminhada pela Cidade de Deus também foi registrada pela francesa Aude Chevalier-Beaumel, que produz documentário sobre as eleições cariocas. O vídeo será veiculado em uma emissora da França.

– O Freixo ficou conhecido na França pela luta contra as milícias, durante sua trajetória como deputado. Essa história foi repercutida em diferentes veículos na Europa – observa a documentarista, que enxerga semelhanças "socialistas" entre o candidato carioca e presidente francês, François Hollande.