Monique Rangel - Do Portal
01/10/2012São 84 milhões os brasileiros que acessam a internet, segundo pesquisa do Ibope. Desses, 54 milhões usam o Facebook para se comunicar, fazer amigos – ou apoiar seu candidato. Nestas eleições, as redes sociais se tornaram espaço de debate, polarização de ideologias e, em especial, de campanha pela candidatura. Poderoso meio de comunicação a custo reduzido, as redes sociais têm como desvantagem falar a um público segmentado, embora a internet seja, cada vez mais, fonte de informação e de formação de opinião.
– As pessoas que estão na rede sofrem influência de todo tipo, inclusive eleitorais. O sucesso da propaganda eleitoral online depende do foco no público a que se destina a mensagem – afirma o cientista político e professor da PUC-Rio Antônio Carlos Alkmim, que pondera: – Mas os usuários da rede não constituem a maioria da população. Um grande segmento está excluído, porque nem todos têm acesso à internet. A televisão ainda é o meio de comunicação mais forte.
O prefeito Eduardo Paes (PMDB) tem 16 minutos e 17 segundos de propaganda eleitoral no rádio e na TV, tempo proporcional às suas coligações partidárias. Com espaço bem inferior nesses meios, os demais candidatos apostam nas redes sociais na tentativa de aumentar sua popularidade e divulgar suas propostas.
Coordenador da campanha de Aspasia Camargo (PV), Paulo Senra diz que não pode “abrir mão de nada”, porque a campanha eleitoral é curta e o tempo de TV da candidata (1 minuto e 40 segundos), pouco.
– É muito difícil quebrar 16 minutos de TV, é quase um longa-metragem. A gente tenta de outras maneiras. Aspasia usa o Twitter, meio que mais tem informações, a meu ver – diz Senra.
Se a eleição fosse online
O Instituto Datafolha divulgou na quinta-feira, 27, pesquisa estimulada que mostra Paes com 55% das intenções de voto. O segundo colocado é Marcelo Freixo (PSOL), com 19%. Atrás vêm Rodrigo Maia (DEM), com 4%; Otávio Leite (PSDB), com 3%: Aspasia Camargo, com 2%; Cyro Garcia (PSTU) e Fernando Siqueira (PPL), ambos com 1%. Em branco/nulo somam 8% e indecisos, 7%. Dados semelhantes aos apontados pelo Ibope na quarta-feira, 26, em que Paes tem 52%; Freixo, 17%; Rodrigo Maia, 4%; Otávio Leite (PSDB), 3%; Fernando Siqueira e Aspásia, 1%. Os indecisos somam 12% e os que pretendem votar em branco, 10%. Cyro Garcia (PSTU) e Antonio Carlos não atingiram 1%.
Assim como nas pesquisas de intenção de voto, no mundo do Twitter ninguém bate os 108 mil seguidores de Eduardo Paes. Marcelo Freixo, segundo colocado na rede, fala para mais de 53 mil pessoas no microblog. Otávio Leite tem 6.344 followers. Rodrigo Maia conta com 11 mil seguidores para ler os 140 caracteres por mensagem da rede social. Já Aspasia tem 2.002 seguidores.
O sucesso no microblog pode ser uma vantagem de vidro com o risco de ser quebrada pelo Facebook. Segundo a consultoria britânica comScore, os acessos ao Twitter caíram de, aproximadamente, 12 milhões, em julho de 2011, para 9 milhões, em agosto deste ano, queda de audiência de 24%. Em contrapartida, a rede social de Mark Zuckerberg cresceu 146% no Brasil no último ano, e já conta 54 milhões de usuários no Brasil, de acordo com relatório da empresa.
Se curtidas valessem votos, Marcelo Freixo daria um banho em Paes. O candidato à reeleição teve sua fanpage curtida por 23.470 pessoas, enquanto Freixo tinha 65.689 curtidas até a tarde desta segunda-feira (1). A página de Otávio Leite tem pouco mais de 19 mil, Rodrigo Maia foi curtido por cerca de 7.300 mil, e Aspásia aparece com 1.660.
Estratégias em rede
A necessidade dos candidatos de divulgar seus planos de governo esbarra na (má) vontade dos usuários de aceitar a temática política nas redes sociais. “O candidato deve ter cuidado, pois nem todos que estão nas redes sociais querem tratar de política na internet”, pondera Alkmim.
Júlio Uchôa, coordenador de mídias sociais de Otávio Leite, conta que este foi um dos dilemas na hora de estabelecer as estratégias de campanha online. Se de um lado não queria invadir a privacidade das pessoas, de outro considerou que o Twitter e o Facebook eram fundamentais para que o eleitor conhecesse o candidato, que tem 3 minutos e 35 segundos de TV.
– A gente não quer invadir o espaço pessoal. A ideia é usar as redes sociais para que a pessoa tenha todos os dados sobre o candidato. No Instagram postamos fotos das passeatas, o Twitter é o próprio Otávio que escreve e postamos pequenos vídeos – explica Uchôa.
Na batalha pela prefeitura do Rio, Marcelo Freixo (PSOL), segundo colocado nas pesquisas, também tem outra arma: o bate-papo com eleitores através do Twitcam. Desde o começo da campanha foram cinco Twitcams com cerca de dois mil participantes em média.
– A ideia surgiu para ter uma melhor comunicação com os eleitores. Essa foi a forma que encontramos para ampliar o conhecimento sobre o Marcelo – explica Renata Stuart, mulher e assessora do candidato.
Mas, na disputa online pela prefeitura, nada se compara aos apoiadores de Freixo no Facebook. Graças a pessoas que adotaram o sobrenome do candidato na rede social, a “família Freixo” cresce a cada dia.
– A adoção de "Freixo" no nome é completamente espontânea. Não temos nem a mais vaga ideia de quantas pessoas já o fizeram – conta Renata.
São pessoas como o estudante de Cinema da PUC-Rio Marcos Carvalho. Sem qualquer grau de parentesco com o candidato, ele assina na rede social “Marcos Carvalho Freixo”. O estudante recebeu o convite para participar do flashmobile via Facebook.
–É uma forma de mostrar que existe apoio, porque eu sabia que ele teria pouco tempo de TV (1 minuto e 22 segundos). A internet é o único lugar democrático do mundo – justifica Marcos, que usa o sobrenome há três meses e tem oito amigos “Freixo” na rede social.
Com foco no Facebook e no Twitter, Rodrigo Maia pretende usar a internet como “um ambiente de troca e de conversa”. A coordenação de campanha destaca que é o próprio candidato o usuário das redes: “Quando é a equipe, sinalizamos com #EquipeRodrigoMaia, no Face, e #EqRM, no Twitter”.
Recurso de divulgação disponível 24 horas por dia, as redes sociais são, de acordo com Alkmim, “um poderoso meio de comunicação com custo reduzido”. O cientista político ressalta a importância de buscar as linguagens da rede para passar a informação, porque “quanto mais a campanha estiver integrada da linguagem da rede social, mais eficaz será o envio das mensagens ao eleitorado”. Nesse emaranhado de possibilidades, Júlio Uchôa destaca o Facebook:
– O Twitter é bastante forte, mas o Facebook é a ferramenta online mais importante destas eleições.