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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Cidade

Roteiro reúne banquetes para o carioca comer com os olhos

Maria Christina Corrêa - Do Portal

24/08/2012

 Maria Christina Corrêa

Quando se decide comer fora, pensa-se na opção mais adequada ao paladar e ao bolso, pesquisa-se o lugar mais perto, mais seguro, verifica-se se aceita cartão, se há estacionamento. Avalia-se, sobretudo, "onde é mais gostoso". No Rio, um tempero extra pesa nesta escolha. Os cenários que renderam o título de Patrimônio Mundial apimentam os cardápios de bares e restaurantes da cidade, e não raramente se tornam o prato principal. O Portal PUC-Rio apresenta um menu com oito desses lugares, de estilos diversos, mas unidos pela combinação entre os sabores da boa mesa e a vista, igualmente saborosa, para beldades naturais. (Veja o ensaio fotográfico.)

O roteiro começa com o Quiosque Palaphita, cuja cozinha conjuga especialidades amazônicas e contemporâneas. Localizado no Parque do Cantagalo, de frente para a Lagoa Rodrigo de Freitas, o badalado espaço serve um visual fabuloso do Corcovado, do Dois Irmãos e da Pedra da Gávea. Para Mário de Andrade, idealizador e dono do quiosque, a vista é o carro-chefe. "Justamente por isso, aqui é um lugar de contemplação onde a grande estrela é a Lagoa", observa. Ele admite que o panorama de um dos espelhos d'água mais famosos e bonitos no Brasil é essencial ao negócio.  

Igualmente poderosa é a panorâmica no alto do hotel Caesar Park, onde funciona o Galani. Do restaurante de "comida brasileira criativa", avista-se toda a orla de Ipanema e do Leblon, com o morro Dois Irmãos ao fundo – cenário especialmente apetitoso em dias como esses produzidos por um inverno com pinta de verão. Dependendo da época do ano, o lugar, que não é exclusivo para hóspedes, fica extremamente concorrido nos fins de tarde embalados pela perspectiva do pôr-do-sol atrás do morro.

Ainda na orla, o Forte de Copacabana concentra duas opções frequentadas por quem deseja ver o mar de Copa quebrar na praia e sentir a brisa do Arpoador, enquanto, por exemplo, uma prancha de stand-up, que há alguns verões entrou para o acervo praiano carioca, deslizar pelas águas frequentemente plácidas daquela "esquina". Logo no começo do corredor ao lado da entrada principal do forte estão as mesas externas da filial da Confeitaria Colombo. Ali as tradicionais iguarias da casa ganham o reforço da vista de toda a praia de Copacabana. Mais à frente, com o mesmo pano de fundo, ficam o Café 18 e seus típicos bolinhos de chuva.

 Maria Christina Corrêa Do outro lado da rua, no terceiro andar do Sofitel, o restaurante Atlantis também combina sua especialidade – refeições mediterrâneas – com um panorama generoso da orla de Copacabana. Embora o restaurante tenha uma parte coberta, é na grande varanda que os comensais se deliciam com um banquete compatível ao status de Patrimônio Mundial.

— Aqui os clientes têm uma experiência inesquecível, de frente para uma das praias mais famosa do mundo — ressalta a gerente de marketing Letícia Woodrow,

Ainda na Zona Sul, o tradicional Bar Urca é outro que transformou a vista em chamariz. Mais que isso, temperou um costume, eventualmente alvo de polêmicas, mas já incorporado à cena carioca. Ali os clientes não disputam mesas ou lugares na fila, e sim um pequeno espaço na famosa muretinha à beira-mar, em frente ao bar e restaurante. Naqueles 20 metros, nas costas do Pão de Açúcar, a degustação de uma caprichada empada de frango regada a cerveja gelada, por exemplo, ganha a doce companhia da enseada, dos barcos, dos pescadores.

— Gosto do visual. Não tem coisa melhor do que beber uma cervejinha vendo um dos ângulos mais lindos da nossa cidade — delicia-se o estudante Comunicação João Marcos Pinto, 19 anos, que há dois anos bate ponto naquela muretinha.

Na Praça XV, Centro, o não menos tradicional Albamar manteve a vista para a Ilha Fiscal e a Ponte Rio-Niterói fora da reforma que revitalizou o negócio. De arquitetura singular, o restaurante especializado em frutos do mar e frequentado por políticos e celebridades é cultuado pelos acompanhamentos que harmonizam os barquinhos, a ilha, a ponte, regatas, um avião descendo (o aeroporto Santos Dumont fica ali perto), um transatlântico passando.

A floresta urbana também adoça os prazeres do paladar. Com um jardim encantador, cenário de muitos casamentos e festas, o restaurante Os Esquilos, fundado em 1945, na Floresta da Tijuca, tem um cardápio compatível à exuberância verde ao redor: reúne de pratos da culinária internacional a especialidades brasileiras. O Filet Esquilos é a sugestão para acompanhar o clima aconchegante 620 metros acima do nível do mar.

– Fazemos muitas comemorações em família e muitos casamentos – conta Luiz Eduardo Xavier de Sousa, atual dono do restaurante.

Amparado também no clima de montanha, a poucos metros da praia, o Hansl, no Joá, atrai pelas especialidades austríacas, mas também pela vista para a Barra da Tijuca e Pedra da Gávea, A mineira Dalva Srch, gerente da casa, diz que o visual e o romantismo associados ao restaurante ajudaram a desenvolver uma cumplicidade com os clientes:

 — O Hansl já foi palco de muitos pedidos de casamento. Inclusive, já deixaram as alianças comigo.

Apesar de especialidades, públicos e vistas diferentes, todos os estabelecimentos encaram a mesma ansiedade dos clientes para pegar as melhores mesas e ter um banquete para se comer com a boca e com os olhos:

— Tem gente que chega sem reserva, encontra o restaurante vazio e que prefere esperar pela mesa com vista. Ou às vezes começa a comer em uma mesa qualquer e depois pede para mudar para a que tem vista— comentou Paulo Corrêa, sócio do Restaurante Albamar.

Além de terem a vista ao seu favor, muitos fazem parte da história do Rio de Janeiro e cresceram junto com a cidade, como é o caso da Confeitaria Colombo, localizada no Forte de Copacabana. Cátia Assis, responsável pela filial, acredita que além da tradição da confeitaria, que é conhecida mundialmente, a vista é o grande atrativo que tornou o restaurante um ponto turístico da cidade.

O mesmo acontece com o Albamar. No lugar onde hoje funciona o restaurante, em 1932, era um mercado municipal. Inclusive, o próprio nome Albamar remete ao mar, que significa um olhar sobre o mar ao entardecer. A construção é original daquela época e passará por uma restauração da fachada ainda esse ano. Maria Christina Corrêa

Os donos desses estabelecimentos acreditam que o Rio ter recebido o título como Patrimônio Mundial, unido ao fato de estar sediando a Copa e as Olimpíadas em breve, é motivo de agitação nos restaurantes. Espera-se que todo o mercado, não só da cidade, mas do país inteiro, seja afetado. 

Dalva discorda. Ela acredita que existem alguns lugares da cidade que só são visitados por aqueles que moram aqui, como, por exemplo, o Hansl. Seus clientes são na maioria cariocas, e os que vêm de fora, só chegaram lá porque foram trazidos por alguém.  E ela diz que isso é uma característica dos cariocas:

— O carioca gosta de lugares escondidos, mais íntimos, que só eles podem chegar. A atmosfera é diferente daqueles restaurantes que tem convênios com empresas de turismo. São sempre mais barulhentos e cheios de gente. Enquanto lugares como aqui são mais calmos, mais tranquilos, bons para ficar.