Renan Rodrigues - Do Portal
14/08/2012Um dia depois de a primeira audiência aberta da Comissão da Verdade no Rio lotar o auditório da OAB, no Centro, a PUC recebe a 61ª Caravana da Anistia, que será aberta, às 19h, pelo reitor da universidade, padre Josafá de Siqueira. A iniciativa, inédita numa universidade carioca, faz parte da Conferência Internacional Memória: América Latina em perspectiva internacional e comparada, cuja programação se estende de hoje à noite, quando o ex-retator especial da ONU Doudou Déne reforçará a importância da memória e da ética para os direitos humanos, até a próxima sexta-feira, quando o auditório do RDC acolherá, das 9h30 às 13h, sessão extraordinária de apreciação de pedidos de anistia política.
A avaliação dos cinco casos (três deles referentes a "deseparecimento político") pela Comissão de Anistia, presidida por Paulo Abrão, será acompanhada por 80 convidados internacionais, envolvidos na luta contra a repressão em diversos países, por professores, estudantes universitários e membros da sociedade civil. Telões instalados do lado de fora do auditório e nos pilotis do editfício Kennedy vão transmitir a sessão, que também poderá ser acompanhada ao vivo no Portal PUC-Rio Digital.
Ao propiciar esta pluralidade de olhares, o acolhimento da Caravana por uma universidade ajuda a passar a limpo a história e a melhor esclarecer uma das passagens mais significativas do Brasil e do mundo. Assim avalia Miguel Amaro Nim Ferreira, irmão do Raul Amaro, ex-aluno da PUC e um dos seis homenageados pela Caravana por contribuições na luta contra a repressão. Em conversa com o Portal por telefone, Miguel destacou a necessidade do envolvimento social para iluminar a memória com justiça e sem revanchismo:
– Esse tipo de iniciativa é um grito de liberdade. Mas só se pode esclarecer a história, de forma precisa, se houver uma participação grande da sociedade. Neste sentido, a ida da Caravana para a PUC colabora para torná-la mais aberta.
Ele lembra com carinho da influência do irmão mais velho nas suas escolhas de vida:
– O engajamento de Raul na luta pela democracia me fez abraçar as discussões políticas.
Os demais homenageados são o filósofo Leandro Konder, professor do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio; Maria Augusta Martins Davidovich, do Centro Técnico Científico; o padre Fernando Bastos de Ávila e os ex-funcionários da universidade Joana Brandão de Aguiar e Moisés de Mesquita Melo. Tais exemplos de resistência à ditadura juntam-se às referências internacionais que virão à PUC, inclusive da África e de Bangladesh, ressalta a professora do Departamento de Direito da PUC-Rio, Carolina de Campos Melo, uma das organizadoras da conferência. Ela acredita que a troca de experiências seja igualmente importante para revitalizar a memória "nesse momento do Brasil":
– Quando são observados esforços como o da Comissão da Verdade, que busca esclarecer crimes ocorridos naquela época, a Caravana e a conferência caminham no mesmo sentido.
A lubrificação da memória em busca de esclarecimento e justiça encontra reforço no ambiente plural da universidade. Ainda de acordo com a professora Carolina de Campos Melo, a pioneira abertura à comunidade universitária no Rio é muito positiva, alinhada ao avanço democrático:
– Existe um envolvimento com o público diferente dos julgamentos em Brasília. Nos tribunais, a apreciação restringe-se aos limites jurídicos. Numa universidade, a sessão ganha apelo popular.
Todas as palestras e painéis da conferência serão transmitidos ao vivo pelo Portal PUC-Rio Digital. Uma das mesas mais aguardadas é História, Memória e Testemunho, nesta quarta-feira, às 11h. Sob a coordenação do professor Castor Bartolomé Ruiz, do Instituto de Filosofia da Unisinos, o painel reúne a diretora do Núcleo de Memória da PUC-Rio, professora Margarida de Sousa Neves; a professora Maria Paula Araújo, do Instituto de História da UFRJ; o professor José Carlos Moreira da Silva Filho, da Faculdade de Direito da PUC-RS; e a professora Bethania Assy, do Departamento de Direito da PUC-Rio.
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