Trinta e cinco anos depois de acolher refugiados das mais diversas crenças que tentavam escapar da repressão política, a PUC-Rio renovou o empenho pela tolerância e pela paz com o Seminário sobre Mapeamento das Casas de Religiões Afro-Brasileiras, no dia 12 de maio. Ao reunir lideranças católicas e de religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé, professores, pesquisadores e jovens estudantes, o encontro foi um emblema do diálogo entre as religiões proposto pelo Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente (Nirema).
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- A busca de entendimento entre as religiões não é uma ação do governo, e sim da sociedade civil. Vivemos em um tempo no qual a sociedade precisa saber o que quer e buscar soluções. Quando ela se organiza, as coisas acontecem.
A platéia do seminário expressava a pluralidade e os esforços contra o preconceito: mães e pais-de-santo vestidos a caráter constrastavam com participantes de terno e gravata e com o despojamento de estudantes de variadas idades e etnias. Para Sônia Giacomini, professora do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio e coordenadora do Nirema, este contato com outras religiões é imprescindível.
- Fundado em 2003, o Nirema vem desenvolvendo pesquisas sobre relações raciais. Já prevíamos contato mais estreito com outras nações afro-religiosas - disse a pesquisadora especializada em questões afrodescendentes.
A iniciativa da PUC-Rio de mapear as casas de matriz africana no estado vai fortalecer as religiões afro-brasileiras e combater o preconceito, prevê Fernando Pinto, integrante do Conselho Nacional de Umbanda do Brasil:
- Os povos de cultos de matriz africana passaram a ter uma espécie de vergonha de se declarar umbandistas ou candomblecistas. Com o mapeamento, eles conhecerão sua abrangência, vão se aceitar mais e aprofundar sua tradição espiritual.
Para Fernando Pinto, a geografia do Rio pode ser o único obstáculo. Segundo ele, em uma cidade na qual a região metropolitana alcança mais de 10 milhões pessoas há comunidades de difícil acesso. Jocélio dos Santos, diretor do Centro de Estudos Afro-Orientais, sugeriu que o mapeamento fluminense tenha como referência o censo iniciado há dois anos em Salvador - que já contabilizou 1.165 terreiros na capital baiana. “É o tipo de trabalho no qual ciência encontra poesia”, observou Jocélio. Jocélio concluiu citando letra de música do compositor baiano Gerônimo:
- Nesta cidade todo mundo é de Oxum.
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