Alheios ao vaivém dos carros que se tornaria ainda maior à noite, quando bares e restaurantes transbordam casais novos e antigos. Alheios à nova ordem das mensagens pulsantes nos smartphones. Alheios à cascata de discursos ambientais que ganhavam as prévias da Rio+20 no Jardim Botânico, no Planetário, na PUC. Como se lhes bastasse uma praça e um sol de outono, Ticiana Camarão, 30 anos, e Guilherme Marques, 29, abriram o Dia dos Namorados como se fizessem parte da história shakesperiana. Num canto da Praça Santos Dumont, curtiam um ao outro. Abriam exceção só para suas duas cadelas, a border collie Aisha e a schnauzer Guinevere. Entre uma jogada de disco e outra para Aisha, eles contaram ao Portal PUC-Rio por que, na contramão do uso intenso de redes sociais e torpedos via celular, eles preferem um relacionamento à antiga
Os aparelhos chegam a ficar esquecidos quando estão juntos, lembram. As mensagens eletrônicas só são usadas quando estão longe um do outro e precisam se falar. Eles não conseguem entender como alguns casais preferem o contato virtual ao real.
– Nada substitui o contato e a capacidade de conseguir se entender apenas com um olhar, como é o nosso caso. Isso só vem com a intimidade, que não nasce com uma tela de computador – argumenta, poeticamente, Ticiana.
Até a aproximação foi do jeito tradicional, sem internet ou mensagens virtuais. Conheceram-se na igreja que frequentam, a Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. A missa comum aos domingo fortaleceu aamizade e fez nascer um "amor meteórico, que caminha a passos largos, como o sentimento de Romeu e Julieta", comparam. Em oito meses de namoro, ficaram noivos e marcaram o casório. Será em outubro, na mesma igreja em que se encontraram.
O rápido casamento não é para fugir de nenhuma rixa entre famílias, como a clássica desavença entre os Capuleto e os Montéquio. Neste ponto, os dois trocam a ficção pela segurança de "construir uma conviência de verdade". Esperam jamais ter de compensar a "ausência física", decorrente de rotinas profissionais, com mensagens eletrônicas. Ticiana ressalva, no entanto, que as semelhanças com Romeu não significam a obediência a clichês do gênero:
– Ele é o tipo de romântico que eu gosto. Daqueles que não mandam flores, mas fazem tudo para garantir a felicidade da amada. Quando eu olho para ele, vejo que será sempre assim – derrete-se a Julieta pós-moderna.