Amanda Reis e Caio Fiusa - Do Portal
01/06/2012
Cinco postos de gasolina na orla de Copacabana vivem um empasse para serem fechados. No fim do ano passado, o governador do Rio, Sérgio Cabral, anunciou que não renovaria com a BR Distribuidora a concessão dos terrenos, alegando a importância turística da área. O governo quer ceder os terrenos à Prefeitura do Rio, para que amplie o canteiro central. Com o término do contrato, os postos teriam que encerrar suas atividades até a próxima quarta-feira, 6 de junho. Porém, no último dia 30, o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência (Sindcomb – RJ) e proprietários de postos conseguiram uma liminar adiando o fechamento, por tempo indeterminado. O governo do Estado pretende recorrer da decisão.
A princípio, seriam desativados dez postos, nove deles da Zona Sul (cinco na Avenida Atlântica, três na Lagoa, um no Aterro do Flamengo) e um na Zona Norte, na Avenida Radial Oeste, próximo à Uerj. Alegando risco de prejuízo no abastecimento da Zona Sul, a distribuidora fez acordo com o governo para entregar apenas os cinco da Atlântica.
No último dia 15, o Portal acompanhou uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que reuniu empresários do ramo, funcionários, deputados, representantes de associações de moradores de Copacabana e um do Ministério Público para tentar impedir o fechamento (leia aqui). Eles alegam que os postos atendem a 1,2 milhão de motoristas por ano e empregam cerca de 200 funcionários.
– Nos últimos anos, 15 postos fecharam por conta da especulação imobiliária. Se isso acontecer, Copacabana terá dois postos (nas ruas Cardeal Arcoverde e Francisco Otaviano) para atender a 250 mil moradores – disse na ocasião o representante do Sindcomb, Ricardo Maranhão.
A sobrecarga de serviços é uma preocupação dos moradores. O presidente da Sociedade Amigos de Copacabana (SAC), Horácio Magalhães, concorda que os dois postos apenas não vão atender à demanda.
De acordo com a o presidente da SAC, a maioria no bairro é contra a medida do governo. Horácio Magalhães disse que os moradores já se mobilizam para evitar o fim dos postos.
– Temos várias frentes que estão fazendo abaixo-assinados. As pessoas estão divulgando na internet através de um link.
O governo do Estado não abre mão de reaver as áreas públicas num dos principais cartões-postais da cidade. Segundo Juliana Ramos, da assessoria de comunicação da Casa Civil, o governo já cedeu liberando os postos da Lagoa, do Aterro e da Radial Oeste, e demanda em Copacabana "é uma questão que não cabe ao estado".
O engenheiro Luiz Guilherme Gonçalves, 73 anos, morador de Copacabana e cliente do posto da Rua Júlio de Castilho, criticou a iniciativa do governo:
– É um absurdo fecharem os postos. Vamos ficar restritos a apenas dois e vão cobrar o preço que quiserem, em virtude da diminuição da concorrência. Além disso, a praia vai continuar lá, e ela é tão linda que até gente feia fica bonita – afirma o engenheiro.
No posto na altura da Rua Hilário de Gouveia, o técnico em refrigeração Glauco Pereira, 40 anos, lamentou a medida, que para ele vai prejudicar usuários como ele. A caminho de um atendimento, ele precisou parar para encher o pneu do carro, que estava vazio.
– Se não tivesse o posto, como eu iria calibrar o pneu?
De acordo com o presidente do Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo (Sinpospretro – RJ), Eusébio Pinto, aproximadamente 300 funcionários seriam demitidos.
O posto emprega 17 pessoas, que seriam transferidas para outros postos do mesmo dono. O gerente Diego Moreira, 29 anos, não acredita no fechamento, mas conta que o impasse fez cair o movimento e desmotivou os funcionários.
– Estamos sempre conversando com a equipe para tranquilizá-los.
Já no posto próximo à Rua Júlio de Castilho, os funcionários não terão a mesma sorte. O encarregado Alessandro da Silva, 33 anos, trabalha há um ano no local e não tem perspectiva de um novo emprego. A família depende exclusivamente da sua renda para sobreviver.
– Vou bater na porta do governador para pedir comida todo dia. Tenho uma mãe e uma esposa doentes, e quatro filhos para sustentar.
Os ciclistas também ficariam sem ter onde encher os pneus das bicicletas. Este é o caso do analista de comércio exterior, Nielson Vieira, 41 anos, morador da Rua Sá Ferreira, que calibra o pneu pelo menos três vezes na semana.
– Vou ter que dar uma volta enorme com a bicicleta no carro para ir até um posto ou comprar uma bomba.
O frentista Paulo Henrique Vieira, 47 anos, que trabalha no mesmo posto há três semanas, também está preocupado. Segundo ele, o dono tem outros postos em São Cristóvão, mas o quadro está completo. Muitos de seus colegas já buscaram outro emprego. Paulo ressaltou a boa relação dos empregados com a vizinhança:
– Todos perguntam se o posto vai fechar. Sempre que eles têm um problema com o carro na garagem ou aqui perto, chamam a gente.
Outros são a favor da medida do governo. A Associação de Moradores e Amigos de Copacabana (Amacopa) está mobilizada e acredita que o melhor para o bairro é a construção de áreas de lazer. De acordo com a presidente da associação, Myriam Pinho de Barbosa, a presença dos postos prejudica a beleza da orla.
– Isso sempre foi uma aberração. Queremos praças e bancos. Em lugar nenhum do mundo tem posto na orla. Aquele calçadão é tombado.
Um taxista que é morador de Copacabana há 50 anos também apoia a decisão de Cabral. Segundo ele, os postos não têm grande movimento e a área é utilizada por famílias nos fins de semana. O morador ainda fez um alerta:
– Os postos podem trazer algum malefício à praia. E se algum deles explode com tantas crianças por aqui?
O taxista, que não quis se identificar, acredita que o transporte público pode ser uma alternativa para as pessoas que seriam prejudicadas com o fim dos postos, e sugere outra medida para o governo melhorar o trânsito:
– Tinha que acabar com todos os estacionamentos públicos da Zona Sul até o Centro, porque hoje é muito barato estacionar na rua.