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Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2024


Cultura

O sonho não acabou: a beatlemania está na PUC-Rio

Tiago Coelho - Do Portal

04/05/2012

 Jefferson Barcellos

A derradeira canção The end, do álbum Abbey road, o último gravado pelos Beatles, é o perfeito epitáfio do fim da união de John, Paul, George e Ringo. Os versos profetizam a relação dos Beatles com a música pop em frases como “você vai estar nos meus sonhos” e a clássica “no final, o amor que você recebe é igual ao amor que você dá”. O amor e a dedicação do quarteto foram tão intensos que, 42 anos depois do fim da banda, os fãs continuam retribuindo ao legado do grupo formado em Liverpool.

Quando surgiram as primeiras notícias de que a Coordenação Central de Extensão da PUC-Rio ofereceria um curso sobre a banda, chamado Beatles: História, Arte e Legado, as matrículas se esgotaram rapidamente. Na universidade, a beatlemania se renova, entre tantas outras fontes, nas noites de quarta-feira, quando fãs das mais diversas idades se reúnem para ouvir historias da banda contadas por sete professores da universidades (não menos fãs).

O que faz dos Beatles esse fenômeno da cultura pop, capaz de angariar paixões e dinheiro anos a fio? Consultados pelo Portal, todos os professores do curso, um especialista em marketing cultural e um artista brasileiro influenciado pelos Beatles são unânimes em afirmar que o casamento entre o pioneirismo, tanto na arte como no marketing, e o talento do quarteto de Liverpool é o segredo do sucesso que atravessa o tempo e se expande nas novas mídias que surgem.

Fã da banda desde pequeno, quando matava aula no colégio para assistir a Yellow submarine na Sessão da tarde, o professor Rafael Russak observa: graças ao empresário Brian Epstein, a trajetória da banda foi marcada pela construção do marketing:

– Eles foram pioneiros no marketing musical. Tiveram sorte em contar com o Brian Epstein, que tinha um profundo conhecimento de marketing, vanguarda para a época. Ele era envolvido com negócios, tinha loja de discos e já fazia produtos dos Beatles, como travesseiros, canequinhas. Estes subprodutos, comuns hoje em dia, já indicavam que se tratava da primeira banda exponencial no mundo do pop.

Cinco momentos que ajudaram a construir o mito

Especialistas apontam momentos da carreira dos Beatles que contribuíram para a construção mítica da banda.

A viagem à Alemanha

A ida do quarteto à Alemanha  foi uma grande escola, tocavam cinco horas por dia todos os dias e despertaram o interesse de pessoas importantes ligadas à vanguarda artística como Astrid Kirchherr e Klauss Huffman. A dupla foi responsável inclusive pelo visual da banda. Os terninhos impecáveis e o cabelinho estilo tigela foram concebidos pelos dois.

A beatlemania

O inicio da beatlemania em 63, a partir dos programas de rádio da BBC e dos Compactos LPs. Nos programas de rádio da BBC a banda tocava ao vivo, havia perguntas e cartas das fãs. Eles falavam diretamente com os ouvintes. Nestes programas além de transmitir uma música de qualidade,os quatro mostravam suas personalidades fortes e interessantes, e isso abriu as portas para a beatlemania, primeiro na Europa e posteriormente nos Estados Unidos quando lançaram o compacto “I Saw Her Standing There” e “I Want to Hold Your Hand” e chegaram nos primeiros lugares da parada.

O fim das excursões

Quando pararam de excursionar e se dedicaram ao estúdio, em 66, eles pararam com a loucura das excursões. Até esta decisão ninguém mais via o trabalho propriamente dito. Eles eram bonecos. Eles tocavam com amplificadores de 100 watt num estádio aberto para uma multidão, o que tornava a qualidade do som ruim. Passaram então a se dedicar aos álbuns de estúdio. Tendo como grande trabalho de referência o disco  “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band”, um disco conceitual onde se tem todo o universo fantasioso da banda do sargento pimenta num mundo lisérgico.

Lançamento do próprio selo

Depois da morte do empresário Brian Epstein em 1967, o quarteto ficou deteriorado e perderam as referências. Em 1968 lançaram o próprio selo e tomaram as rédeas da carreira. A Apple Corps não era somente o selo próprio da banda, mas também gerenciavam a marca e as licenças do trabalho do grupo.

A excelência de gravação do último disco

A excelência do último disco gravado, o “Abbey Road”, mesmo não sendo lançado por ultimo, que foi o “Let It Be”, contribui para o fim do grupo em grande estilo. É o disco mais bem feito da carreira considerado por muitos.

Mas se desde o início da carreira o grupo gerava lucros, a ingenuidade e a falta de experiência dos jovens de família operária (com exceção de John Lennon, que era da classe média) os fizeram perder dinheiro nas mãos de empresários.

– Os quatro não tinham muita informação e cultura. Eles foram violentamente roubados por acordos abusivos. Não tinham conhecimento, mas tinham sensibilidade, criatividade e uma capacidade ímpar para produzir músicas de qualidade – avalia o professor Rafael, que tem o álbum "Revolver" entre os seus preferidos.

O professor Eduardo Brochi cita a criação da Apple, empresa que detinha os direitos da banda, como divisor de águas para a profissionalização dos Beatles na área do marketing:

– As coisas ficaram organizadas e eles passaram a ganhar muito dinheiro com a criação da Apple. Antes, muitos produtos eram vendidos e eles não ganhavam nada.

As superturnês, que garantem cifras milionárias para artistas como U2 (US$ 293 milhões em 2011) e Madonna (US$ 408 milhões em 2009), também é um feito inaugurado pelos Beatles. Sua chegada à América foi importante para a construção do mito. O show no Shea Stadium em Nova York reuniu mais de 50 mil pessoas e serviu de parâmetro para os grandes espetáculos que surgiram a partir daquele momento.

– Não existiam shows para multidões. Faziam-se shows em teatros e ginásios, lugares pequenos. O show no Shea Stadium criou uma referência para os supershows que existem até hoje. Depois disso passaram a ser comuns, como o de Woodstock, em 1969.

Especialista em marketing cultural, Manoel Marcondes Machado Neto ressalta que os Beatles foram fundamentais no desenvolvimento do audiovisual. O aperfeiçoamento da qualidade do som foi uma importante contribuição para o showbusiness. Da música ao cinema, o critério artístico é a grife da banda.

– A história da música gravada que conhecemos hoje, em termos de qualidade de captação, edição, masterização e fixação, começou com os Beatles. Foram responsáveis por investimentos maciços nessas tecnologias, o que transformou a experiência de ouvir música gravada. A banda também foi pioneira e superlativa na produção de imagens. Fotógrafos consagrados foram contratados para clicar os músicos em situações pouco convencionais para artistas da música até então, em capas de disco eternamente posadas. Os Beatles ainda foram produzidos em cinema, naquela época a mais importante indústria formadora de imagens. Seus filmes rodaram o mundo – diz Marcondes, que dá a dica para quem pensa em fazer sucesso na carreira: se cercar de bons profissionais, como fizeram os Beatles.

Os Beatles entram no mundo digital: o talento garante o sucesso

O poder da marca atravessa o tempo e une gerações. Os Beatles entraram no século XXI penetrando no mercado digital com relançamentos remasterizados, jogos de videogame e músicas vendidas em formato digital. Há dois anos, depois de muita espera, o catálogo dos Beatles passou a ser vendido na iTunes Store com grande repercussão. Três álbuns do grupo inglês ficaram na lista dos mais vendidos da loja virtual em poucas horas. Em 2010, ano em que as músicas dos Beatles entraram no catálogo, eles venderam mais de duas milhões de músicas individuais e 450 mil álbuns completos. A Disney atualmente negocia os direitos de relançar o filme Yellow Submarine em 3D.

A criatividade da banda contribui para a indústria lucrativa dos produtos com a chancela dos Beatles, como avalia Manoel Marcondes:

– O que garante uma exploração pela indústria, que só depende da criatividade. Vide o fenômeno dos games que simulam performances de astros. Essa é a força da indústria cultural tradicional, ainda um grande poder no campo das artes e espetáculos.

Liverpool é aqui: Tropicália e Clube da Esquina foram influenciados pelos Beatles

Em meio às transformações dos anos 60, os estilos musicais no Brasil se posicionavam de acordo com o dualismo político da época. De um lado, a Jovem Guarda, liderada por Roberto Carlos; do outro, os artistas engajados, como Chico Buarque e Edu Lobo. No meio de tudo isso, o movimento antropofágico da Tropicália, que pregava a mistura da cultura tradicional brasileira com a cultura pop estrangeira. A psicodelia influenciou a sonoridade da música produzida por Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, que convidaram a banda de rock Os Mutantes para integrar o movimento.

Fã dos Beatles, o mutante Arnaldo Baptista falou com exclusividade ao Portal, e ressaltou o pioneirismo artístico da banda que tanto inspirou o grupo que formou com o irmão Sérgio Dias e Rita Lee, outra fã do grupo:

– Eles foram descobridores como Cabral. O início de tudo. Adoro, o LP Abbey road, principalmente – tieta Baptista, que em 2004 lançou um disco chamado Let it bed.

Lô Borges e Milton Nascimento tiveram grande influência da banda no clássico disco Clube da Esquina, de 1972. Milton inclusive compos uma canção chamada Para Lennon e McCartney.

Que Beatle você é?

John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr tinham uma química perfeita, segundo os especialistas. Responda o quiz abaixo e veja com qual dos Beatles você mais se parece:

1 – Você se reúne com os colegas para fazer um trabalho da faculdade. Neste ambiente você é:
(A) O metódico e CDF que não gosta que ninguém disperse do trabalho
(B) O cool e descolado que não esquenta muito a cabeça e prefere ir pro bar para ter alguma inspiração
(C) O religioso que puxa uma oração para zelar pela harmonia do grupo
(D) O descontraído que faz uma piada para quebrar o gelo quando a coisa fica tensa entre os integrantes

 2 – Entre seus amigos, quais destas características costumam ser atribuídas a você?
(A) O certinho e careta, queridinho dos professores, que só tira dez nas provas
(B) O rebelde que não se encaixa em parâmetros pré-estabelecidos, sempre fechadão e que esconde tristezas profundas
(C) O calmo e zen que faz ioga e sempre respira três vezes para não perder o controle
(D) O engraçadinho e bem humorado que tira risadas de todo mundo

 3 – Qual destas personalidades públicas mais combinam com você?
(A) Frank Sinatra – o republicano conservador
(B) Che Guevara – ídolo latino revolucionário
(C) Dalai Lama – líder budista
(D) Jerry Lewis – comediante norte-americano

4 – Em uma banda você seria:
(A) O frontman que quer tomar todas as decisões do grupo e dispensa atenção às fãs
(B) O ídolo atormentado, preocupado com os problemas do mundo, e que não gosta muito da tietagem alucinada
(C) O integrante não-materialista preocupado com a mística transcendental que música pode provocar
(D) O músico versátil que acompanha a banda em todas as músicas

 5 – Com qual das músicas abaixo você mais se identifica:
(A) Um grande hit para cantar junto com o celular aceso como Hey Jude
(B) Uma música densa e introspectiva como A day in the life
(C) Uma canção harmoniosa com toques orientais como While my guitar gently weeps
(D) Uma musiquinha alegre e divertida como Yellow submarine

Se você marcou mais a opção A, você é Paul McCartney . Certinho e bom moço, você é um pouco controlador e gosta de ter o domínio sobre o trabalho de todos. Os grandes hits dos Beatles são seus. Romântico, tome cuidado com as modelos ativistas sociais. Elas podem tirar de você uma boa grana no divórcio. Algumas pessoas podem chamá-lo de careta e conservador, mas sua prudência vai fazê-lo viver mais que os outros e manter o sucesso depois de muitos anos. Obladi, obla-a! Life goes on!
Se marcou mais a opção B, você é John Lennon. Rebelde e inquieto, está sempre pensando nas grandes questões políticas do mundo. Amargurado, compõe as músicas mais sensíveis e alternativas. Tome cuidado com as orientais excêntricas e com os fãs malucos, eles podem acabar com seus ideais. Se cuida, sonhador.
Se a opção C foi a que mais você marcou, então você é Geoge Harrisson. Você curte demonstrar seu lado místico. Curte as religiões orientais e a sonoridade da música indiana. Convide um coro de Hare Krishna e saia por aí celebrando. Só não esqueça de incluir Ana Julia no repertório. Você é um iluminado. Guru Brahma!
Se marcou mais a alternativa D, você é Ringo. Engraçado e bem-humorado, você é versátil e segura a onda do grupo, mesmo com a luta de egos dos integrantes e o perfeccionismo de Paul McCartney. Algumas pessoas podem chamá-lo de medíocre, mas saiba que você é querido por todos.