Rodrigo Pegado* - Da sala de aula
25/06/2012Um dos maiores desafios da cidade do Rio de Janeiro para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 será hospedar com qualidade os milhares de turistas que desembarcarão na capital fluminense. O setor hoteleiro do Rio vem passando um amplo processo de modernização nos últimos anos. A Prefeitura tem investido no setor, com a liberação de construção de novos hotéis na cidade, programas de capacitação para profissionais da área, e melhorias na infra-estrutura. Na corrida contra o tempo, uma das soluções é transformar muitos motéis da cidade em hotéis, além de investir no serviço de hospedagem domiciliar.
São mais do que otimistas as expectativas de representantes da rede hoteleira do Rio de Janeiro de cumprir o compromisso, assumido pela Prefeitura com o Comitê Olímpico Internacional (COI), de criar pelo menos mais 10 mil quartos de hotéis até as Olimpíadas de 2016. Estima-se que até o ano dos Jogos Olímpicos, a meta do COI será batida com folga: até lá, a cidade terá cerca de 12 mil novas vagas de hospedagem, totalizando mais de 33 mil. Hoje o Rio conta com cerca de 4.800 quartos licenciados para início imediato e praticamente 6.500 quartos em análise, segundo dados da ABIH- RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro).
Para os grandes eventos que estão por vir, o Rio necessita construir novos hotéis. A Copa do Mundo e as Olimpíadas são eventos que duram cerca de um mês apenas. E depois deste período? Como proceder com estes novos hotéis? Esta é uma questão que vem sendo muito abordada pela população carioca. Atualmente, os hotéis na África do Sul – sede da última Copa – estão com ocupações baixíssimas. Para Fabiana Dantas, da área de Treinamento do Copacabana Palace, o principal desafio é aprimorar a habilidade dos funcionários em novas línguas.
– O Rio de Janeiro tem em média uma ocupação de 70% nos hotéis ao ano. Demanda nós temos. É preciso que a Secretaria de Cultura organize eventos na baixa temporada. Aqui no Copacabana Palace nós temos eventos o ano todo. Mas a Prefeitura, junto com a indústria hoteleira, vem trabalhando para ampliar o calendário de eventos no Rio. Além disso, é necessário que o Governo invista em melhorias na segurança da cidade para que atraia os turistas em outras épocas do ano. Ainda há muitos relatos de turistas que têm medo da violência no Rio – diz ela.
Muitos destes novos hotéis serão construídos na Barra da Tijuca. O Rio de Janeiro recebeu cerca de R$ 1 bilhão em investimento na construção de novos hotéis na Zona Oeste da cidade. A rede de hotéis Windsor, que possui atualmente dez empreendimentos na cidade, irá construir dois novos hotéis na Barra da Tijuca nos próximos quatro anos. A informação é de Leandro Bittencourt, que trabalha na área de Marketing do Windsor Barra.
– Já vem sendo feito um grande investimento pela Rede Windsor visando aos grandes eventos que acontecerão na cidade. Serão inaugurados dois hotéis cinco estrelas na Barra da Tijuca nos próximos anos – antecipa Leandro.
Segundo ele, o Turismo no Rio só tende a crescer nos próximos anos.
– Atualmente, o Turismo é um ótimo negócio na cidade do Rio de Janeiro. A cidade está em evidência. Há um grande interesse de outras redes internacionais em investir no Rio – afirma.
Coordenadora de Eventos do JW Marriot de Copacabana, Natalia Motta afirma que a marca pretende investir pesado no país devido aos grandes eventos.
– O Marriott anunciou recentemente a construção de 14 novos hotéis pelo Brasil até 2014. Ainda não foram confirmados os destinos, mas a marca pretende investir pesado no país devido à economia fortalecida e aos grandes eventos na cidade do Rio de Janeiro. Também estamos investindo na retenção dos funcionários, pois o mercado hoteleiro está muito aquecido e a concorrência está grande entre as redes – diz ela.
Natalia ainda ressalta a importância de treinamentos específicos para os funcionários. Segundo ela, é preciso sempre dar o melhor atendimento possível aos hóspedes.
– Algumas redes ainda não dão ênfase para treinamentos, mas até estas já estão percebendo que os funcionários são a alma do negócio e que precisam estar em constante reciclagem para acompanhar as altas expectativas dos hóspedes, afinal a diária média do Rio de Janeiro gira em torno de R$ 880 na rede cinco estrelas. Nem Paris é tão caro – afirma.
Motéis viram solução
Além dos investimentos no setor hoteleiro, o Rio de Janeiro encontrou outra solução para acomodar os turistas: os motéis. É surpreendente a transformação dos motéis na cidade de olho no lucro até os Jogos Olímpicos de 2016. Como a cidade ainda sofre com a falta de quartos de hotéis para receber os turistas que assistirão à Copa e às Olimpíadas, os "ninhos de amor" se transformarão para receber os visitantes. Quarenta motéis estão em obras para se adaptar, segundo a Associação dos Proprietários de Motéis do Rio. No total, o Rio tem 180 motéis. Segundo a Prefeitura, antes da Copa, o Rio terá mais cinco mil quartos, e muitos virão dos motéis, que serão transformados.
Hospedagem domiciliar, uma nova forma de acolher os turistas
Outra opção para os turistas que desembarcarão na cidade é a Hospedagem Domiciliar. A existência de um sistema de hospedagem domiciliar de modo estruturado e formal é recente no Brasil. Este negócio vem crescendo bastante nos últimos anos. Atualmente no Rio de Janeiro há inúmeros albergues, apartamentos e casas aptos a receberem bem os turistas com a proposta de proporcionar um local acolhedor com atendimento personalizado, onde certamente o turista se sentirá em casa. A expectativa é de que nos próximos anos este negócio prospere cada vez mais.
Valeska Santos administra o albergue Casa da Valeska, um aconchegante apartamento com localização privilegiada a apenas alguns passos da praia de Copacabana, que surgiu em 2007. Segundo ela, os serviços de hospedagens domiciliares só tende a crescer nos próximos anos.
– No Pan, em 2007, foi um sucesso. A receptividade tem sido muito boa. Desde o anúncio que o Rio seria sede das Olimpíadas, o movimento de turistas aumentou muito por aqui. A Hospedagem Domiciliar é um serviço que deu certo aqui no Rio e só tende a crescer nos próximos anos – analisa.
Já para Alexandre Santos, dono da Vila CasaNova, uma charmosa casa situada em uma pacata rua residencial de Santa Teresa, o serviço de hospedagem domiciliar não conseguirá atender a demanda para os grandes eventos na cidade.
– O impacto não será grande. Não sei se conseguiremos prosperar tanto como estão dizendo. Estes eventos duram só um mês. O volume de turistas será enorme. Não temos como fabricar quartos. São hospedagens pequenas, acho que não será a solução. Mas é claro que repercute. O negócio fica em evidência e pode ser que os donos de albergue, casas e apartamentos lucrem bastante neste período – afirma.
Fiquem em hotéis, motéis ou albergues, os turistas irão pagar caro no período entre a Copa e as Olimpíadas. A expectativa é a de que as diárias médias dos hotéis dupliquem durante este período. O maior desafio do Rio de Janeiro será evitar situações como as vividas em Joanesburgo, na África do Sul, na Copa de 2010, onde muitos quartos ficaram prontos na hora em que os turistas chegavam aos hotéis. Afinal, todos precisam de um bom descanso para aproveitar ao máximo estes eventos.
* Reportagem produzida para a disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso, sob orientação da professora Carla Rodrigues.