Jorge Neto - Do Portal
20/03/2012O Projeto Mambembão, que levou centenas grupos de dança e teatro a circular pelo país entre 1978 e 1990, trocando experiências e formando plateias, está de volta aos palcos e à estrada. Retomado pela atual gestão da Funarte e com verba do Ministério da Cultura (MinC), o circuito estreou no Rio em fevereiro. Vinte trabalhos de 15 companhias de Norte a Sul do país foram selecionados para apresentações em teatros cariocas, até 1º de abril. Mas esta é apenas uma prévia do que promete apresentar por todo o país até o fim do ano.
– O projeto envolve o cruzamento da produção teatral e de dança das cinco regiões. Queremos chamar o público e a classe artística para essa retomada do Mambembão – explicou o diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Funarte, Antônio Gilberto Porto Ferreira.
A retomada do circuito conta também com uma renovação em sua fórmula, abandonando os temas regionalistas para virar um espelho da produção cultural do Brasil.
– Desde que se encerrou o Mambembão, as peças mudaram. Procuramos refletir a produção teatral que está sendo feita agora, e não mais uma representatividade regional, que era o que o projeto procurava atender anos atrás – explica o jornalista e crítico teatral Macksen Luiz, curador da primeira etapa carioca.
Cumprindo a “obrigação” de fugir do eixo Rio-São Paulo, Macksen procurou selecionar espetáculos de temática e regiões diversas para essa reestreia. Há grupos de Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina:
– Como fui crítico de diversos festivais de teatro no ano passado, pude assistir a várias peças de outros estados, o que me facilitou a escolha.
A continuação do projeto contará com um grupo maior de curadores para selecionar os espetáculos.
– Se não conhecemos os projetos de um estado vizinho, como Espírito Santo, imagine do Norte e Nordeste. O cruzamento que faremos promoverá uma circulação da produção e contemplará o público com a produção artística dos demais estados – realça Antônio Gilberto.
Entre as companhias que já se apresentaram no Rio, o Movasse – Coletivo de Criação em Dança, de Minas Gerais, fez sua quarta passagem pelo Teatro Cacilda Becker, no Centro, trazendo dois espetáculos, Novo algo de sempre e Vago (foto), com a bailarina e criadora Ester França.
– São poucos os circuitos no Brasil, e abrir mais um, ainda mais com essa proposta da Funarte de circulação entre as regiões, é muito bom. Tanto a dança como as artes cênicas precisam juntar forças para se mostrar, pois senão o público fica em casa assistindo novela e não sai para ver o que está sendo feito, ao vivo, ao lado de suas casas – comemora Ester.
Entre os grupos que ainda se apresentaram o clima é de ansiedade. Ator e diretor da Cia. Teatro Mosaico, de Mato Grosso, Sandro Luiz fica na expectativa da estreia de sua montagem de Anjo negro (foto no alto), dia 29 de maio. Selecionada pessoalmente por Macksen Luiz, que viu a peça no Festival de Curitiba, a companhia faz uma homenagem aos 100 anos de Nelson Rodrigues:
– Montamos o espetáculo em 2009 para homenagear Nelson Rodrigues nos 30 anos de sua morte. Continuamos fazendo a peça e coincidentemente a estamos apresentando no centenário de seu autor – conta Sandro Luiz, que depois do Rio vai mambembar pelo país, por conta própria: – Estamos animados por ser a primeira parte do nosso circuito. Vamos fazer uma série de apresentações no Brasil inteiro.
No Rio, o público pode conferir a produção artística de outros estados nos três teatros da Funarte na cidade: Ducilna, Glauce Rocha e Cacilda Becker, todos no Centro, de quinta a domingo. Consulte aqui a programação completa.