Tiago Coelho e Caio Lima - Do Portal
27/01/2012O desabamento de três prédios na noite de quarta-feira (25) na Avenida Treze de Maio, no Centro do Rio, provocando a morte de pelo menos oito pessoas e dezenas de feridos, é mais uma tragédia carioca provocada por negligência. O prédio de 20 andares, outro de 10 andares e um sobrado foram abaixo deixando mais de 20 pessoas desaparecidas. As causas do desmoronamento ainda estão sendo investigadas, mas especialistas apontam que uma obra no prédio de 20 andares, feita sem autorização do Conselho Regional de Engenharia (Crea), pode ter causado danos na estrutura do edifício, levando à sua queda.
O engenheiro Antonio Eulálio Pedro, especialista do Conselho Regional de Engenharia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), esteve no local e apontou esta intervenção como a principal hipótese para o desabamento. A opinião é compartilhada pelo engenheiro Raul Rosas e Silva, diretor do Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio.
– Um edifício que não apresenta sintoma de falhas tende a permanecer como está. Eventualmente, há deteriorização, mas não é comum em estruturas mais antigas que não tenham tido intervenções ao longo do tempo – explica Rosas, que considera improvável a hipótese de explosão por vazamento de gás.
O engenheiro civil, especializado em estruturas de edifício, lembra que qualquer intervenção deve ser acompanhada por engenheiros que de preferência conheçam o projeto estrutural do edifício.
– É preciso ter plena noção de como interagem as vigas, colunas e lajes da construção para saber o que pode ser feito ou não – destaca.
Rosas diz não haver motivo para preocupação com os prédios do entorno, como o Teatro Municipal. Ele afirma que só haveria risco se uma galeria subterrânea tivesse cedido.
– Mas é muito importante fazer uma vistoria de todos os prédios ao redor, para confirmar se não houve impacto – ressalva.
Todo o quarteirão foi interditado. O fornecimento de luz e água na região do desabamento foi interrompido e o trânsito, desviado para facilitar a busca aos desaparecidos.
Região de valor histórico
Construída em cima de uma grande lagoa aterrada no século XVII, a região da Cinelândia, no entorno do recém-reformado Teatro Municipal, é conhecida por seus prédios históricos, como a Biblioteca Nacional, a Câmara Municipal e o Liceu Literário Português, além do Teatro Municipal. O historiador Milton Teixeira, estudioso do Centro do Rio, lembra que os próprios edifícios que desabaram tinham grande valor artístico e cultural. Segundo Teixeira, os três prédios, todos com mais de 70 anos, foram construídos em um momento de mudanças na arquitetura da Avenida Rio Branco.
– Nunca poderia imaginar que aquele arranha-céu de 20 andares poderia desmoronar. Era uma bela construção de estilo art déco, uma perda lamentável.
Cidade revive tragédias do Palace II e do Filé Carioca
No dia 28 de fevereiro de 1998, o edifício Palace II, de 22 andares, desabou na Barra da Tijuca, deixando oito mortos e 150 famílias desabrigadas. A perícia concluiu que as obras de construção do prédio foram mal executadas. Foram encontrados pilares ocos e indícios de que a construção foi feita com areia da praia. O desabamento parcial da construção levou à demolição total do prédio. O deputado Sérgio Naya, dono da construtora Sersan, apesar de absolvido pela Justiça, foi obrigado a indenizar as famílias. Mas ainda hoje, mais de dez anos depois da tragédia, menos de um décimo do valor do patrimônio de Naya, já morto, chegou às mãos das famílias.
No ano passado, um vazamento de gás na cozinha do restaurante Filé Carioca, na Rua da Carioca, também no Centro do Rio, causou graves danos à estrutura do prédio onde funcionava o restaurante, no andar térreo. Três pessoas foram mortas e 17 ficaram feridas. Botijões de gás estocados sem autorização foram a causa da explosão.