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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


País

Aluna da PUC recebe prêmio por promover diversidade religiosa

Tiago Coelho - Do Portal

12/12/2011

Roberto Stuckert Filho / Divulgação

Aluna do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio e babá de umbanda, Flávia Pinto, de 36 anos, recebeu, sexta-feira passada, das mãos da presidente Dilma Rousseff, o Prêmio Nacional de Direitos Humanos 2011 – que marca dez anos de luta pelo respeito às religiões de matrizes africanas. O mérito é um reconhecimento ao empenho da estudante em propagar a tolerância religiosa e, em especial, à iniciativa de mapear as casas de religiões de matrizes africanas no Rio.  

O mapeamento começou a se desenhar há dois anos, quando Flávia, orientada pela Mãe Beata de Iemanjá, propôs o estudo pioneiro ao Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente da PUC-Rio (Nirema). A ideia, conta a jovem, era "dar visibilidade aos terreiros e às discriminações ainda recorrentes". 

 – Surgiu da percepção, dentro do seguimento religioso afrodescendente, que essas casas não tinham os mesmos direitos e reconhecimento do que as outras religiões. A partir do mapeamento, construímos um conhecimento inédito a respeito desss religiões e da violência que vêm sofrendo – observa Flávia, que fez a coordenadoria de campo do mapeamento.

 Reprodução da TV

A violência a que se refere decorre, ainda conforme a pesquisadora, da "intolerância contra as religiões afros". Com base nos depoimentos levantados, ela identificou "uma série graves crimes contra terreiros":

– Ouvimos relatos de ameaças de morte, incêndio contra os terreiros, invasão dessas casas e até atentados envolvendo tiros – relata a estudante, que já viajou para o Senegal com o apoio da Vice-reitoria Comutária da PUC-Rio.

O mapeamento das casas de religiões de matrizes africanas do Rio de Janeiro foi apoiado também  pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. As professoras Denise Pini Rosalem da Fonseca, do Departamento de Serviço Social, e Sônia Maria Giacomini, do Departamento de Sociologia e Política, coordenaram a pesquisa considerada inédita nesta área. Até agora, foram registradas  847 casas. Sônia acredita, no entanto, que a quantidade seja maior. Ela espera "concluir logo" o levantamento no município do Rio:

– Agendamos as visitas nos terreiros e entregamos questionários para saber mais sobre estas casas. É uma pesquisa qualitativa inédita neste campo. Pretendemos fazer um fechamento de todos os centros existentes pelo menos na cidade do Rio.

O estudo acadêmico corresponde a uma cartografia social, explica Sônia, pois abrange diversos dados sobre essas religiões. Segundo a professora, a pesquisa revela, por exemplo, que a especulação imobiliária em áreas nobres contribuiu para deslocar os terreiros para áreas periféricas da cidade.

O levantamento também ajudou a evidenciar subdivisões do candomblé e da umbanda: nagô, umbanda cruzada, umbanda cardecista, encantado, jurema. Sônia avalia que uma pesquisa como essa "não só é importante pelo caráter religioso, mas também social":

– Tais religiões têm a tradição de acolher os excluídos. Não raramente assumem a função de família, escola, hospital, distribuem alimentos. Fazem um trabalho que chamamos de social, por eles interpretado como missão religiosa – compara.