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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


País

Defesa nacional aproxima universitários de militares

Thaís Bisinoto - Do Portal

24/11/2011

 Arquivo pessoal

Quatro alunos do curso de Relações Internacionais (RI) da PUC-Rio participaram pela primeira vez do Congresso Acadêmico de Defesa Nacional, organizado para discutir com universitários assuntos relacionados à área. Levados pelo professor Danilo Marcondes Neto, os jovens João Moura, João Pedro Sá Teles, Marcel Fonseca e Isadora de Andrade, entre 21 e 24 anos, passaram uma semana na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende. Como os demais estudantes reunidos, de 25 universidades, eles aprenderam aspectos sobre operações de paz; acordos de cooperação internacional, como firmado entre Brasil e Suécia para o lançamento de foguetes; armas nucleares; e "Amazônia Azul". Discutiram até leis para combater a guerra cibernética. Mas, talvez uma das principais lições tenha vindo de fora das fronteiras da proteção nacional: o convívio com militares –especialmente cadetes, encarregados de acompanhá-los – derrubou resquícios de preconceitos e equívocos decorrentes ainda da associação à ditadura.  

"Os generais de hoje nem tinham nascido, ou eram crianças, durante a ditadura", lembra o professor Danilo. Para ele, ao participarem da oitava edição desse encontro, os alunos da PUC-Rio contribuíram para a melhor compreensão das Forças Armadas e a integração entre militares e civis:

 Jefferson Barcellos 

– O congresso inseriu a PUC nas discussões sobre defesa, na relação entre civis e militares nesse discurso – acrescentou – Além disso, a maioria dos alunos do grupo desenvolvia pesquisas sobre defesa e segurança internacional, então o encontro os ajudou no trabalho de monografia e na iniciação cientifica com outros professores.

O Portal PUC-Rio conversou com os integrantes da delegação da PUC que participou das palestras e debates ministrados entre os dias 19 e 23 de setembro. Eles contam por que a experiência inédita revelou-se tão proveitosa, por vezes surpreendente.

João Moura, 21 anos

Estudante do oitavo, e último, período do curso de Relações Internacionais da PUC-Rio, João Moura admitiu ter se surpreendido “positivamente” com o congresso. Assim como a colega Isadora, o rapaz não tinha tido a oportunidade de conviver com militares. Para ele, este foi o trunfo da experiência: aprender tanto com as palestras, quanto com o ambiente das Forças Armadas. Diz ter saído da Aman motivado a aprender mais sobre a área de segurança.

 Arquivo pessoal 

Estagiário do Brics Policy Center , centro de estudos dos Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia e China), parceria entre o governo do estado e a PUC-Rio, João acredita que o aprendizado daqueles cinco dias vão se somar aos seus estudos regulares, mais centrados na área de cooperação nacional.

– Foi ótimo, porque praticamente não toco na área de segurança nacional. Eu e Isadora estávamos bem por fora do assunto. Por isso, nosso contato com o congresso foi bastante diferenciado. Motivou o interesse por essa área – justifica.

João confessa que esperava encontrar “pessoas fechadas”. Mas, ao contrário, encontrou “pessoaas muito abertas”:

– Os cadetes com os quais tivemos contato diário eram muito parecidos com a gente. Tinham uma mente muito mais aberta do que eu poderia esperar.

João Pedro Sá Teles, 22 anos

O curso de Relações Internacionais era a primeira opção de João Pedro Teles, mas só conseguiu realizar o sonho depois de passar um ano pelo Direito, também na PUC-Rio. A exemplo de João Moura e Marcel, está na reta final: recebe o diploma ainda este ano. Mas, diferentemente do xará, sempre se interessou por segurança nacional. Fez dela um dos focos principais nos estudos.

 Arquivo pessoal

Por conta das participações no Modelo Intercolegial de Relações Internacionais (Mirin), desde 2005, João Pedro já conhecia o congresso. Assim que soube da iniciativa do professor Danilo de levar uma delegação da PUC-Rio, candidatou-se. "Quem se interessou em ir acabou recompensado", conta Danilo. 

A paixão pela segurança nacional começou cedo, “desde pequeno”, mas João Pedro não sabe explicar o motivo. “Assim como uns se interessam por economia, eu me interesso por segurança nacional”, compara.

Para o formando em RI, o mais interessante do congresso foi o intercâmbio não só com os militares, mas com alunos de diferentes regiões do país, "ver o que estão estudando, conhecer a visão de outras escolas".

– É importante entender onde você se encaixa no contexto acadêmico nacional – acrescenta.

Quase bacharel em RI, João Pedro também é aprendiz de jornalista. Trabalha com "jornalismo militar". Segundo ele, cobre eventos militares. Devido à  familiaridade com o Exército, ele não se surpreendeu com a "boa relação estabelecida com o grupo de militares no congresso". Mas reconhece que o encontro contribuiu para “quebrar um tabu que existe dos civis com os militares”, um resquício da ditadura.

– Os militares ficaram muito tempo à margem da sociedade, isolados, e isso criou uma barreira natural. Não é bom separar essas classes. Tem que reintegrar – argumenta – Gostaria de ver a PUC participando (do congresso) todo ano.

Marcel Fonseca, 24 anos

 Arquivo pessoal

Aluno também do último período de RI, Marcel Fonseca investe nos estudos. Pretende aprofundar-se em segurança. “Sempre pego o máximo possível de matérias relacionadas à segurança, que é inclusive o tema da minha monografia: a defesa aérea no Brasil”, orgulha-se.

Diferente de João Pedro, Marcel sabe de onde vem o interesse pelo tema: nasceu cercado por militares na família. A relativa intimidade com as Forças Armadas não impediu, no entanto, a surpresa – “não com relação ao modo como eles agiram, mas com as atividades apresentadas”, observa. Marcel destaca a "seriedade" e a abordagem desenvolvimentista com que os militares trataram do tema principal:

– Foi interessante ver que estavam lá não só para defender, mas para fazer o Brasil crescer. Vi um sentimento de patriotismo, que eles querem o desenvolvimento da nação acima de tudo.

Depois da universidade, Marcel tem planos ambiciosos. Quer, acima de tudo, entrar para o Itamaraty. Pretende também prestar concurso para o Ministério da Defesa.

Isadora de Andrade, 22 anos

No quinto período de RI, Isadora era a caçula do grupo, e, como dizem, a única menina. Para ela, a convivência diária com os quatro (incluindo o professor Danilo, de 26 anos) foi “muito positiva”: “Eles sabiam mais sobre quase tudo, e me explicavam. Foram bem fraternais”, conta.

 Jefferson Barcellos 

Isadora destaca a convivência com os cadetes, formandos Aman. Por terem idades próximas, “as preocupações eram muito semelhantes, pensando em provas, no que tinham que estudar”, lembra a estudante.

Outro ponto positivo do congresso, na opinião de Isadora, foi a "descoberta" de aspectos referentes à defesa. Ela se impressionou, por exemplo, com a demonstração militar: desfile de blindados, tiros, exibição de armas, paraquedistas.

Bolsista do IRI, Isadora dedica-se a pesquisa sobre humanitarismo. Também tem bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), e trabalha em projeto da Cruz Vermelha. Ela pretende seguir os passos da área de segurança. “Não de defesa, o tema do congresso, mas de de ajuda humanitária internacional”, esclarece.