Mais que conquistar a confiança das “andorinhas”, isto é, das prostitutas de estrada, Nana Moraes teve de superar o preconceito e a "decepção com as pessoas" para produzir o livro “Andorinhas” (156 páginas, R$ 65), pela NAU Editora, com prefácio de Walter Salles. A fotógrafa contou os bastidores do livro, nesta segunda-feira (21), em palestra na PUC-Rio, e alertou para a eliminação de etapas na fotografia decorrente do avanço tecnológico. Decidida a revelar "o que as pessoas não querem ver ou se recusam a ver", Nana lembrou aos estudantes:
– Não estamos aqui para julgar ninguém, o ser humano não é dono da verdade.
A obra reúne fotos feitas com filme preto e branco. As opções – filme, em vez de digital; preto e branco, em vez de cor; e lente de 50mm – foram pensadas para que Nana interferisse menos possível na vida de Doroth, Roseli, Gerenilza, Betissa e Simone. Por causa do tempo, a troca do digital pelo filme, porém, não seria possível no trabalho comercial intenso, observou Nana, a 40 alunos de fotojornalismo do professor Weiler Finamore, do Departamento de Comunicação Social.
A pressa pode ser ainda mais prejudicial, acredita, com a eliminação de etapas da fotografia, consequência dos avanços tecnológicos. Já para o desafio de tirar as “andorinhas” da defensiva, Nana lembra que teve a ajuda da ONG Da Vida, que lhe apresentou duas das cinco prostitutas. Mas os esforços da fotógrafa não se resumiram a isso:
– Fui para a (Rodovia Presidente) Dutra à procura dessas mulheres. Depois, frequentei a casa delas por um tempo. Chegava na hora do almoço, e ficava a tarde toda. Às vezes, ia para o batente também.
Nem sempre a câmera lhe acompanhou. Nana optou por não carregá-la ao buscar os filhos de uma das andorinhas para visitar a mãe no Instituto do Câncer.