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Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2024


Cidade

A Rocinha fala dentro da van e longe dos holofotes

Mariana Alvim - Do Portal

18/11/2011

 Arte de Monalisa Marques

Com a ocupação da maior favela da América Latina pela polícia, abrindo caminho para a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a Rocinha é o assunto do momento no morro e no asfalto. O Portal quis saber a opinião dos moradores sobre a instalação da UPP e as mudanças na rotina do lugar. Mas, se a comunidade hoje está no foco dos holofotes da mídia, buscamos ouvir a voz do povo sem pompa, microfone ou gravador. A reportagem arranjou espaço na van e embarcou nas conversas. A seguir, confira o que o povo falou dentro do mais popular transporte público local, a caminho de casa ou do trabalho, durante o trajeto Gávea-São Conrado, pela Estrada da Gávea, na tarde desta quinta-feira, 17 de novembro.

Vem a delegacia, vai o baile
Dois passageiros conversavam em pé dentro de uma van lotada.
– Parece que vai ter uma delegacia e um Corpo de Bombeiros aqui dentro. Só quero ver como vai ser com os bailes (de funk), isso vai ser complicado...

Cuidado com o zap
De uma mulher, falando pelo celular:
– Eu não vou deixar minha casa vazia, agora que estão zapeando tudo. Meus móveis são todos novos, vou ficar desesperada se encontrar minhas coisas quebradas, sumidas.

Olha a dura
Do lado de fora da van, um amigo brincou com o outro:
– Cuidado que vão te prender, hein, os policiais do batalhão estão aí!

Sabrina Sato para o trânsito
Na subida da favela, dezenas de pessoas se aglomeravam em volta de Sabrina Sato, que gravava o Pânico na TV. Sabrina parou para comer um churrasquinho e a ruela foi ocupada por curiosos.
– É aquela japonesa do Pânico – disse um homem.
– Essa mulher nem sabe onde está! – disse outro.
– Se eu fosse ela, nem estaria aqui! – respondeu o amigo.
– Logo agora que eu ia comprar meu churrasquinho?! Agora não dá! – reclamou uma vendedora de loja.
– Ela está achando que é alguém importante? – desdenhou uma moradora que passava.

Guardas param o trânsito
O trânsito na favela deixou muitos moradores impacientes. Motoqueiros impacientes buzinavam sem parar. O motorista de uma van reclamou de um guarda da CET-Rio no local:
– Esse cara aí só tá atrapalhando! Também não conhece nada da favela...
– É um otário – xingou um passageiro.

Garis param o trânsito
Caminhões da Comlurb pareciam atrapalhar ainda mais o tráfego. Algumas vezes, o trânsito foi interrompido para que os garis recolhessem os detritos.
– É, agora tem tudo aqui. É gari para todo lado – resmungou o motorista da van.

Caixinha 1
Mototaxistas se reuniam na praça em frente à Igreja Universal, na entrada da favela. Os ânimos pareciam exaltados. Do outro lado da rua, um grupo de policiais do Bope observava. Na véspera, uma operação flagrou e prendeu suspeitos de cobrar propina de motoristas de vans e mototáxis para que circulassem na comunidade.
– Os caras estão ali, estão olhando – alerta um dos rapazes.
– Vamos ali para o canto, que você está falando muito alto – chama outro.

Caixinha 2
A trocadora pergunta ao motorista:
– E aí, você vai continuar pagando a caixinha?
– Eu não, isso aí já era, não dá mais...

Lan house proibido para menores
Da jovem trocadora da van para um amigo passageiro:
– Me falaram que agora precisa de autorização dos pais para menores usarem a lan house. Vão fazer que nem minha prima: falsificar a assinatura da mãe. 

'Chiques'
Ao passar ao lado do caminhão de uma empresa de gás, uma passageira exclamou:
– Tem até Nacional Gás aqui agora! Estamos chiques!

Agora tem
Do motorista para uma passageira:
– Hoje acordei às 4h da manhã porque minha mulher estava com dor nas costas. Já falei para ela ir para o hospital, e ela não quer.
– Agora tem a UPA! – lembrou ela.

O que será?
Duas garotas dialogavam dentro da van:
– Onde nós vamos pegar?
– Acho que na Cruzada, lá tem um do bom.
– Aqui com certeza não dá mais para pegar.

Nem sempre
Apesar da impressão de que UPP era o assunto da vez entre os moradores, na primeira viagem da Gávea a São Conrado não houve nenhuma conversa sobre a ocupação.

Nem nunca
A prisão do traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, líder do tráfico na Rocinha há seis anos, não foi citada por qualquer passageiro das quatro viagens de van realizadas pela reportagem.