Há 80 anos de "braços abertos sobre a Guanabara", o Cristo recebeu nova iluminação e tomou um banho de loja para receber o volume crescente de turistas impulsionado pela sequência de grandes programações internacionais, como Rock in Rio, Rio+20, Copa 2014, Olimpíada 2016. Se a cidade está na moda, o seu grande cartão postal, uma das sete maravilhas do mundo moderno, tem de dar o exemplo. Abstraída a euforia das festas de aniversário, observa-se que alguns serviços associados à estátua concebida pelo francês Paul Landowski, e inaugurada no topo do Corcovado em 12 de outubro de 1931, merecem uma estatura mais compatível à importância do monumento para a história, a memória e os negócios brasileiros.
Equipe do Portal PUC-Rio Digital acompanhou a primeira vez no Cristo da estudante de Comunicação Social Patrícia Côrtes. A cadeirante de 20 anos representa uma parcela dos 10 mil visitantes diários para qual o deslumbre panorâmico torna-se recompensa especial, porque é mais difícil de ser alcançada. Patrícia experimentou a acessibilidade ao ponto turístico, melhorada com as obras de adaptação para o passeio do público, em 2002.
As dificuldades começaram antes de sair de casa. Imaginando a subida até o Cristo, Patrícia trocou o conforto da habitual cadeira motorizada pelo tamanho compacto do modelo comum. Já na estação do Cosme Velho, a universitária decidiu fazer a primeira parte do passeio de van (R$ 20 por pessoa). Assim apreciaria a vista do Mirante Chapéu do Sol e do heliponto do Corcovado. (Outra opção é o tradicional passeio de trem: R$ 43 a inteira e R$ 21,50 a meia.)
Havia menos gente do que de costume, ou do que se imagina no caminho até uma das principais atrações do país. Culpa das nuvens. O tempo parcialmente nublado permitiu um passeio relativamente tranquilo. Pelo menos na subida, quando a estudante não precisou esperar muito para embarcar na van com mais quatro pessoas. Nem as nuvens nem a falta de adaptação no veículo desanimaram a primeira parte da “viagem”. Nada que arranhasse a ansiedade em conhecer a celebrada paisagem lá do alto.
Sob fina chuva, a primeira parada foi um dos momentos mais árduos. Apesar do esforço do motorista da cooperativa em proporcionar conforto à estudante – emprestando-lhe um guarda-chuva –, um obstáculo testava o desejo e a capacidade de improviso. Três barras de ferro, na entrada do heliponto, dificultavam a passagem de Patrícia. A jovem apoiou-se nas barras enquanto outro turista passava a cadeira por cima do obstáculo. Era a fatura para apreciar a vista "incrível".
Apesar do visual cinematográfico e da ajuda de simpáticos turistas nos degraus, o acesso precário a cadeirante fez a caloura no Cristo desistir de conhecer o mirante daquela área. Para ela, as restrições conduzem o portador de necessidades especiais para um “roteiro único”:
– O problema é que, se eu viesse aqui sozinha, não poderia ir a nenhum desses lugares. Teria de fazer o passeio que é possível, que eles querem que eu faça.
Na entrada do Parque Nacional da Tijuca, Patricia pagou R$ 17,75 pelo ingresso regular (meia é limitada a crianças de até 11 anos e idosos) e pegou outra van. A bilheteria de difícil acesso era a última etapa até os pés do Cristo. Funcionários alertararam que, por conta da garoa, as escadas rolantes estariam desligadas e a cadeirante teria de ser carregada por dois lances de escada. Ela decidiu ir até onde era possível.
As duas rampas encontradas por Patrícia no caminho até os elevadores perdem a utilidade quando a fome aperta. Para lanchar, é necessário descer mais dois degraus. As barreiras estruturais, entretanto, são amenizadas pelos funcionários da atração. Eles superam os obstáculos com simpatia e boa-vontade, mas sempre no improviso.
Sorte que o sol reapareceu e as escadas rolantes estavam ligadas. Excelente hora para uma bênção. Patrícia pôde contemplar a Cidade Maravilhosa. Uma vista capaz de apagar os percalços, até redimi-los, e renovar as energias para a volta. Melhor seria se a qualidade do acesso acompanhasse o banquete visual.
– Aqui de cima é lindo, mas eu esperava uma estrutura melhor de serviços e de preservação – ressalvou Patrícia – Pois o Cristo é um marco do Brasil.
Na descida, foi preciso esperar aproximadamente 25 minutos até a van lotar e poder sair. Mal havia lugar para a cadeira de rodas, que ficou solta entre as poltronas e a porta.
Descontadas as dificuldades, Patrícia diz que o saldo foi "muito positivo". Ela espera, no entanto, que a atração octogenária ganhe os aperfeiçoamentos necessários ao nível de acesso.
– As barreiras foram compensadas pela paisagem e pela simpatia dos funcionários. Além disso, espero que a experiência sirva de alerta para que o Cristo receba mais atenção – reforça a estudante.
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