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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Cidade

A maratona para chegar até o sonhado pódio do rock

Jorge Neto - Do Portal

27/09/2011

 Jorge Neto

Rock na estampa e nas veias, o estudante Mauricio Collaço mergulhou de cabeça no batismo em festivais. O aluno de Engenharia da PUC preparou-se para dedilhar paciência nos quarenta quilômetros entre a sua Niterói e o pódio metaleiro da Zona Oeste do Rio. Alividada pelo trânsito de domingo, a maratona revelou-se muito mais branda do que os acordes que o aguardavam. De barca e ônibus, o rapaz de 20 anos levou oitenta minutos. Um recorde olímpíco, comparado às horas de filas enfrentadas, na sexta-feira, para embarcar rumo à festa roqueira. Filas, Mauricio só encontrou nas lanchonetes do complexo. Nem a fome nem o espírito de aventura conseguiram superá-las. O repórter Jorge Neto, veterano em shows do gênero (no de Paul McCartney, em maio, ele pediu em casamento a namorada sob um irresistível "Hey, Jude"), acompanhou a aventura do calouro Mauricio. Embora a experiência tenha confirmado o desafino de alguns serviços, as dificuldades foram facilmente vencidas pela alma lavada de música, dança e palhetas garimpadas no gramado.

O tempo nublado anunciava chuva no início do terceiro dia de Rock in Rio, mas isso não desanimou nenhuma das 100 mil pessoas que foram ao dia do metal. Assim como tantos outros, o estudante Mauricio Collaço partiu de longe para assistir aos shows. Eram duas da tarde quando o aluno do 4º período de Engenharia Mecânica da PUC-Rio deixou sua casa, em Niterói, para encarar o pequeno rodízio de transportes até a Cidade do Rock.

O 751D das 14h30 o deixaria na Gávea, onde pegaria uma carona até as imediações do Riocentro, a 500 metros do complexo montado naquela confluência entre Recreio e Jacarepaguá. Na última hora, Mauricio mudou a estratégia. Juntou-se a três amigos que avistara na calçada. Recepcionado pelos novos companheiros de viagem com uma cerveja gelada, o jovem pegou uma nova estrada para o rock’n roll.

Mesmo sem saber como chegariam a Jacarepaguá, os amigos foram de barcas até o Centro do Rio. Com um pouco de sorte, descobriram que o 251 os deixaria a poucos passos do destino aguardado. Talvez a informação nem fosse necessária: todos os ônibus para festival carregavam a placa “Rock in Rio, eu te levo”.

Ao contrário dos roqueiros que se espremeram nos coletivos "especiais" na sexta-feira, Mauricio e sua turma embarcaram com tranquilidade e encontraram pistas livres. Nada como um domingo. Durante a uma hora que passou sentado, o fã de Metallica já transbordava empolgação:

– Ainda não acredito nisso direito. Primeiro, eu não consegui ir ao show deles ano passado. Depois, eu não consegui comprar o ingresso antes de esgotar. Só comprei num lote especial do banco Itaú. Agora, eu quase consigo ouvir a voz deles – exagerou Mauricio. 

Do Riocentro, onde saltaram, até a entrada do complexo, brincadeiras ajudavam a percorrer os 400 metros finais. Uma caminhada relativamente curta, inversa à ansiedade. Em frente à Cidade do Rock, o estudante ajoelhou-se para extravazar num berro a felicidade de um calouro no festival: "Mermão, estou no Rock in Rio".

Com o festival inteiro pela frente, o grupo se separou e se perdeu no mar de gente. Infelizmente, o lixo pelo chão mostrava-se proporcional, num misto de falta de educação e de lixeiras, restritas às partes laterais.

 Jorge Neto

Durante a espera pelo protagonista da noite, o Metallica, a fome apertava. As filas para qualquer restaurante ou lanchonete beiravam o inimaginável. A solução foi recorrer aos biscoitos trazidos na mochila. O desfile de mochilas, algumas estiradas pelo gramado, confirmava: estávamos num autêntico festival de rock.

Filas para comer, duas míseras pias por banheiro, montes de lixo, tudo se dissipou para Mauricio e os cem mil ali no mesmo compasso quando as três atrações finais ganharam o palco principal (Mundo).

Ao som de Motorhead, novos amigos juntavam-se a Mauricio no balançar de cabeças e mãos, a cada grito dos vocalistas. Depois de descansar no chão entre as toneladas de copos, cestas e sacolas que cobriam o gramado, Mauricio voltou à carga no show do Slipknot. “É o melhor show da minha vida”, vibrava.

Pouco antes dos primeiros acordes do Metallica ecoarem pelo início de madrugada, Mauricio foi achado pelos colegas de viagem. Sua mochila laranja brilhava na multidão, enquanto ele tentava avançar para um lugar mais próximo do palco.

Metallica entrava no palco, todos gritaram, depois emudeceram. A voz de James Hetfield contagiava e despertava uma energia capaz de sublimar as durezas de ser roqueiro. Mais duas horas de show marcaram o fim do “único dia de Rock in Rio” para Maurício. Uma estréia em grande estilo do calouro em festivais.

Enquanto a multidão debandava, Mauricio concentrava-se numa derradeira missão. Para conquistar o pódio nessa olimpíada, faltava uma recordação simbólica. Ele garimpava entre os restos de papéis, tênis e comida, a sua medalha de ouro, a prova de que "estive lá." Foi recompensado. Achou no chão uma das palhetas jogadas pelo guitarrista do Metallica para o público:

– Consegui! Consegui! – comemorava, como um maratonista que completa a prova.

O cansaço da volta foi superado pela animação com o concerto inesquecível. Às quatro e meia da madruga, Mauricio iniciava, feliz, a jornada de volta à realidade dos livros e testes em laboratório. Pegou carona com um dos colegas da Riobotz, equipe de luta de robôs da PUC-Rio, e seguiu para universidade. Precisava terminar a montagem de um novo robô de batalha. Do metal para o metal, uma de suas outras paixões o chamava.