Michelle carrega nos braços sua filha recém-nascida enquanto é abraçada por outras seis mulheres. O que une essas pessoas, de diferentes lugares e idades, é o vírus da Aids. A cena faz parte de Positivas, filme de Susanna Lira, que reúne histórias de vida de mulheres que contraíram o HIV por intermédio dos seus maridos. Baseado em depoimentos de soropositivas, o filme, apesar de tratar de um tema difícil, foca na superação empreendida por cada uma dessas sete mulheres.
Susanna estava filmando Nada sobre meu pai quando viu a notícia de que 64% das mulheres de Cuiabá infectadas com o HIV contraíram a doença em relações sexuais com os maridos ou parceiros fixos. Enquanto em 1989 havia seis homens infectados para cada mulher, em 2009 o índice já era de 1,6 para 1. Considerando o tema mais urgente, a cineasta interrompeu as gravações de Nada (agora seu próximo lançamento) e mergulhou na pesquisa sobre as mulheres soropositivas.
Com a intenção de alertar para o crescente número de mulheres portadoras infectadas com o vírus, o Centro Loyola de Fé e Cultura da PUC-Rio promoveu uma sessão do filme seguida de um debate, mediado pela diretora do documentário e pela doutora em Teologia pela PUC Cássia Quelho, no Centro Cultural João XXIII, em Botafogo, na segunda, 15. Segundo Cássia Quelho, a Igreja, ao se deparar com a doença, não pode se distanciar da perspectiva evangélica de se preocupar com o outro. A teóloga,também enfermeira obstetra, circula entre os dois ambientes desde os tempos em que a Aids era uma doença praticamente desconhecida: “Tive que fazer vários testes de HIV, devido à precariedade do sistema público da época”, contou. Para Cássia, o debate em torno da Aids está evoluindo, e uma prova disso seria o fato de uma instituição católica ter proposto o debate.
Positivas também toca em questões como o da moralidade. As personagens do filme se sentiam seguras dentro da instituição do casamento e foram surpreendidas com a infidelidade dos maridos. O choque da notícia e a tristeza pela traição se somaram ao preconceito que acompanha a Aids, doença ainda relacionada a comportamentos sexuais pervertidos.
O filme ganhou o prêmio de melhor documentário pelo júri popular do Festival do Rio de 2010. Susanna ficou surpreendida com o êxito, pelo tabu que cerca o tema, e ao mesmo tempo honrada, pois considera o festival sua “escola de cinema”. Formada pela Facha em jornalismo e publicidade, a diretora iniciou sua carreira como cineasta em 2005. Insatisfeita com a velocidade das notícias no meio jornalístico, Susanna encontrou no cinema a possibilidade de se aprofundar nos seus temas de interesse.
Para Susanna, a cena do abraço entre as mulheres “positivas” simboliza o que as pessoas deveriam fazer mais vezes:
– O mundo passa por tantos problemas que nós precisamos nos unir para enfrentá-los juntos. Eu filmo para abraçar o mundo. Porque o abraço tira tanta coisa... Quando abraço, eu não vejo se a pessoa está suja ou limpa, se é bonita ou feia. Esse contato nos faz ser pessoas melhores. Temos que procurar fazer isso para dar sentido à nossa existência.
Financiado pelo Ministério da Saúde, pela Secretaria Especial de Política para Mulheres do governo federal e pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), o filme, fora do circuito comercial, tem exibições previstas na TV Brasil e no Canal Futura, e está disponível para venda no blog do site oficial: http://positivasofilme.blogspot.com/.