O documentário Diário de uma busca, exibido nesta quinta-feira no auditório do RDC, carrega a generosidade didática das melhores biografias. “Ajuda quem não viveu a ditadura a entendê-la”, resumiu o cineasta João Moreira Salles, aos estudantes que acompanharam o debate após a exibição. Premiado nos festivais de Gramado, de Biarritz (França), do Rio e de Puntal del Este (Uruguai), o longa de Flávia Castro conta a trajetória do pai, Celso Castro, na luta contra o regime militar. O ex-militante de esquerda morreu em 1984 na casa de um ex-oficial nazista.
– O documentário realiza algo difícil e incomum, que é reunir uma história pessoal, como a da família Castro, com a política do país na época da ditadura. O filme mostra a luta que aquelas pessoas tiveram para melhorar nosso país. Sem ficar narcísico – avaliou Moreira Salles.
A avaliação foi compartilhada pelos aproximadamente 20 espectadoras que acompanharam o filme e o debate. Para Gabriel Zambrone, formado em cinema pela PUC-Rio, o documentário superou as expectativas de um filme sobre o regime militar:
– A minha geração não sabe o que foi a ditadura. Não vivemos isso. O filme foi bem guiado, levou um estudante de 2011 junto com a família pelos exílios – elogiou.
Flávia Castro contou à plateia bastidores que somaram 120 horas de gravação. Nesse garimpo, a cineasta usou táticas variadas para colher os depoimentos:
– Entrevistei policiais sem dizer que Celso era meu pai, mas isso não me poupou de nada – ressalvou – Não descobri nenhum fato bombástico que tenha mudado a memória do que o meu pai é para mim.
Para Salles, a iniciativa também serve como exemplo de empreendedorismo. Aos alunos de cinema "que muitas vezes têm boas ideias mas não conseguem produzir", ele ressaltou:
– Esse filme começou de um projeto que a Flávia tinha, mas não sabia como executar. De concreto, só tinha a vontade de contar a história do pai dela.