A leitura é uma atividade bem mais ampla do que simplesmente decifrar o sentido de letras e palavras escritas. Para provocar essa reflexão, o poeta e cronista Affonso Romano de Sant’Anna promoveu a mistura de economia, tecnologia, medicina e literatura na noite de lançamento de seu mais recente livro, Ler o mundo, quarta-feira dia 10, na PUC-Rio. A convite de Sant'Anna, participaram de uma mesa-redonda o economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES; o clínico geral e gastroenterologista Pedro Henrique Paiva; e o especialista em informática Antônio Furtado. Todos concordaram que ler é fazer qualquer tipo de interpretação em relação ao mundo.
Paiva, por exemplo, destacou que “o ato de fazer medicina está diretamente ligado a ler o outro, que espera uma determinada solução, uma determinada resolução” do médico. A economia, para Lessa, é também uma forma de decifrar o mundo:
– Usando o conhecimento econômico, é possível ler muitas coisas, e a própria economia é objeto de leitura. Acho que no conceito de leitura que o Affonso maneja é uma categoria absolutamente abrangente e universal.
Ler o mundo é um conjunto de crônicas publicadas em jornais, textos de conferências e aulas magnas – professor do Departamento de Letras, do qual já foi diretor e onde criou a pós-graduação em literatura brasileira, Affonso Romano já lecionou nos Estados Unidos, Alemanhã e França. O tema do livro é a leitura, e a obra acaba sendo um registro do esforço de seu autor pela difusão da literatura pelo Brasil. Presidente do conselho da Cátedra Unesco de Leitura da PUC-Rio, com mais de 40 livros publicados, Affonso Romano de Sant'Anna participou de diversos projetos e conferências a favor da expansão da leitura nas últimas décadas. E, como diretor da Biblioteca Nacional, entre 1991 e 1996, ajudou a criar o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e o Proler, projeto vinculado ao Ministério da Cultura que apoia projetos de incentivo à leitura.
– Para mim este é um livro muito especial, porque é uma história de pessoas que estavam no interior do Brasil fazendo coisas magníficas, em cidades como Mulungu (PB), Morro Reuter (RS), ou Faxinal do Céu (PR). Em cada lugar do Brasil existe um pequeno movimento se articulando pela leitura. A questão da leitura no Brasil se transformou graças ao trabalho deste grupo. Existem mais de 10 mil projetos compendiados pelo projeto Viva Leitura – afirmou o escritor, que incluiu no novo livro um relato sobre sua experiência no comando da biblioteca.
A escritora Marina Colasanti, sua mulher, assistiu à mesa-redonda entre professores, alunos e fãs do poeta, como o estudante de Letras da PUC Maurício Fernandes:
– Conheço Affonso desde a escola, quando li uma crônica, chamada Na porta da escola. Depois disso, conheci seus livros e sua vasta poesia. Sou fã de carteirinha.
Outra admiradora presente à palestra foi Júlia Klien, também estudante de Letras. Ela já leu a poesia completa de Affonso Romano, além de ter sido aluna do poeta num curso na Casa do Saber.
Marcado para as 17h, o evento começou com 40 minutos de atraso devido a uma forte chuva que prejudicou o trânsito na cidade. Preso no engarrafamento, Carlos Lessa abriu o debate criticando a falta de planejamento urbano e econômico que leva ao aumento no número de carros:
– Fico besta com a imbecilidade nacional de querer a prosperidade criando a destruição da existência.