Fabiane Mariano - Da sala de aula
12/09/2011Com a intenção é diminuir a poluição visual e deixar o Rio mais bonito para a Copa, em 2014 e as Olimpíadas, em 2016, decreto municipal estabeleceu padronização dos ônibus da cidade.. Os ônibus agora são todos brancos com alguns detalhes em diferentes cores que identificam as regiões. A cor verde corresponde às linhas da concessionária Santa Cruz (Zona Oeste); laranja, Internorte (Zona Norte); amarelo, Transcarioca (Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Recreio); e azul, Intersul (Zona Sul e Grande Tijuca).
O transporte coletivo do Rio de Janeiro conta hoje, de acordo com o Instituto Pereira Passos, com cerca de oito mil ônibus, distribuídos em 47 empresas e 925 linhas. São transportados cerca de 80 milhões de passageiros por mês ou, aproximadamente, 2,7 milhões de passageiros por dia. Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, a pintura para padronizar a frota custou R$ 80 milhões.
Muitos dos usuários, acostumados a identificar as linhas pela cor, foram contra o projeto. Leonardo Ivo, carioca de 29 anos, técnico em eletrônica criou um blog e um abaixo-assinado contra a padronização dos ônibus do Brasil. Entre as principais reclamações recebidas no blog “Movimento anti-padronização dos ônibus no Brasil”, a que mais repercute é o gasto de quase R$10 mil para cada ônibus pintado. “Não consegui achar uma boa razão, será que é passar a impressão de organização? Não é por aí que conseguirá. Ônibus de cores diferentes é uma marca do Rio de Janeiro e boa parte da população reconhece as linhas pelas cores. Além disso, tem coisa mais importante nos transportes hoje do que as cores do ônibus” disse. A estudante Bruna Ortiz, de 21 anos, também não gostou da mudança: “Vai ficar mais difícil identificar o ônibus. Todo mundo já grava pela cor. Muita gente vai errar. Se o prefeito quer seguir o modelo europeu, que siga em tudo” completou.
Mesmo com as manifestações contrárias as cores foram aplicadas aos ônibus e a população tem tentado se adaptar as novidades. “A padronização está aí, resta torcer que a qualidade do transporte melhore, para compensar a perda estética” resume Marcelo Pereira, busólogo e colaborador do blog “Movimento anti-padronização os ônibus do Brasil”.
Eduardo Paes teve como argumentos para a mudança a limpeza estética da cidade e a tendência mundial de padronização nas cidades européias, como Londres, sede da próxima Olimpíada, em 2012, o que causou insatisfação. Em Londres, sedes das Olimpíadas em 2012, mudanças nos transportes públicos também ocorreram, mas bem diferentes das simples troca de cores vistas no Rio. A frota dos “Routemaster”, os famosos ônibus vermelhos de dois andares, saiu de circulação temporariamente para ser toda substituída. O símbolo inglês volta a circular apenas em 2012, com um design mais contemporâneo e uma nova proposta ecológica, gastando menos combustível, emitindo menos CO2 e fazendo menos ruído que o anterior. O sistema de transporte público de Londres é conhecido por ser um dos melhores do mundo. O usuário do ônibus não precisa andar mais de três quadras para chegar ao ponto ou estação mais próxima de sua casa, jamais espera mais do que 15 minutos para pegar um ônibus ou trem – mesmo aos domingos ou madrugada – e os ônibus nunca estão superlotados como é comum em qualquer grande cidade brasileira. Isso ocorre porque o motorista controla a quantidade de pessoas que adentra ao veículo. Quando chega ao limite para que todos fiquem confortáveis o motorista não deixa mais ninguém entrar. Além da ótima manutenção dos ônibus da capital inglesa, a cidade ainda oferece o metrô como alternativa de transporte público e tem feito uma campanha significativa para que a bicicleta seja adotada como meio de transporte dos ingleses, contribuindo para o trânsito e o meio ambiente.
Célia Rezende, funcionária do Detran-RJ, garante que as melhorias foram além da estética. “Toda a fiscalização está mais exigente e abrangente. As melhorias nos carros foram solicitadas. E uma campanha elucidativa foi realizada pela Rio Ônibus (sindicato das empresas do setor) para divulgar a nova identidade visual dos ônibus e não confundir os usuários”, afirmou. Entre outras medidas adotadas para a melhoria do transporte público está a garantia de penas rígidas para os operadores que não seguirem as regras. Entre elas estão a anulação da concessão no caso de mau serviço prestado e multas caso o consórcio leve mais de 30 minutos para rebocar um ônibus quebrado. Tudo para facilitar o trânsito carioca em sua totalidade.
* Esta reportagem foi produzida para a disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso, ministrada pela professora Carla Rodrigues, que debateu com os alunos, ao longo do primeiro semestre de 2011, a recuperação da cidade do Rio de Janeiro, seus desafios, perspectivas e impasses. O trabalho resultou numa série de cinco reportagens, publicadas no blog Rio de Janeiro em Debate, e agora pelo Portal. Leia também Uma marca para a Cidade Maravilhosa, Promessas para o porto e Rio, o paraíso cinematográfico.