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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


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Manual de sobrevivência aos excessos do feriado calórico

Patrícia Côrtes - Do Portal

04/04/2012

 Arte Jefferson Barcellos

Não é à toa que o nome “chocolate”, dado pelos maias à bebida feita de cacau, signifique “alimento dos deuses”. Difícil achar quem não goste do doce. Especialistas afirmam que seu consumo ainda pode melhorar o humor e garantir energia para prática de exercícios. Mas, em excesso, responde por aqueles quilinhos extras nocivos ao espelho e ao bem-estar. Na Páscoa, a gula é reforçada por tentações da mesa farta. Para render-se aos sabores da festa sem perder a elegância e a saúde, o Portal PUC-Rio reuniu orientações de médicos e nutricionistas num manual de sobrevivência aos excessos deste feriadão calórico. 

Primeiro, é preciso entender que nada acontece de uma hora para outra. O equilíbrio corporal exige (re)educação alimentar e atividades físicas regulares, orientadas por profissionais da saúde. Dietas que prometem perda muito rápida de peso, cortando vários alimentos, representam riscos ao organismo. A compensação por exageros como consumo exagerado de álcool, comidas gordurosas e doces — que, combinado com o sono precário, submetem o corpo a um castigo pesado —, deve começar com uma alimentação baseada em produtos naturais, desintoxicante:

— Como houve uma sobrecarga no organismo, devemos evitar produtos industrializados, fazer uma alimentação balanceada, dando preferência a alimentos integrais, vegetais, carne branca, frutas e sucos — orienta a nutricionista Rosane França.

Pratos balanceados, com equilíbrio entre carboidratos, proteínas e as gorduras "boas" (castanha, amêndoas, nozes, por exemplo), devem ser aliados à prática regular de exercícios físicos. Essencial à saúde, a combinação reduz o risco de cardiopatias e diabetes, por exemplo, e potencializa as chances de emagrecimento — ou, como preferem os profissionais da área, de uma composição corporal ótima (mais massa muscular, menos gordura, simplificadamente). O professor de educação física Rogério Fernandes, mestre em nutrição esportiva, explica que um dos atalhos para sair da inércia é incorporar hábitos simples à rotina:

— Devemos fazer caminhadas diárias de mais ou menos 35 minutos. Quem achar mais divertido pode pegar uma bicicleta. Se uma pessoa vai de ônibus ao trabalho, pode saltar dois pontos antes e caminhar o restante do percurso. Quem vai de carro pode estacionar mais longe — exemplifica — Mas é fundamental fazer uma avaliação médico-funcional antes de iniciar a rotina da atividade física.

O chocolate até pode ajudar. Uma barra fornece energia para uma caminhada de 45 minutos, estima Fernandes. Rosane esclarece que o tipo amargo com 70% de cacau na composição é mais indicado para uma vida saudável. Tem ação antioxidante e previne o acúmulo de gordura nas células (veja quadro no fim do texto).

Chocolate dietético é alvo de equívoco

O endocrinologista Walmir Coutinho, professor da Escola Médica da Puc-Rio, reitera que a iguaria festejada na Páscoa deve ser consumida com moderação, pois a ingestão de alto índice de gordura significa um risco para o organismo. Ele sugere até que, em alguns casos, se troque os ovos de chocolate e outras tentações calóricas por outras lembranças. O médico alerta:

— Deve-se ter muito cuidado ao comer chocolates diets. Eles não têm açúcar, mas contêm mais gordura. Por isso, seu consumo pode causar justamente o efeito contrário do esperado.

 Isabela Castro Se for impossível moderar ou resistir, pode-se substituir o doce por algo que “tem gosto e cara de chocolate, mas não é”. Assim a nutricionista define a alfarroba, vagem naturalmente adocicada transformada, vendida na forma de barrinhas, bombons e até ovos.

— Além de nutritivos, os produtos feitos com alfarroba são isentos de lactose, glúten e açúcar, podendo ser consumidos inclusive por quem tem alergia ao leite – explica. (Leia mais sobre presentes que fogem do chocolate tradicional)

A convite do Portal, alguns chocólatras, como a professora de Comunicação Cristina Matos e o estudante de Cinema Alan Ribeiro, experimentaram a barrinha feita com tal vagem. Vencido o ceticismo inicial, eles reconheceram que lembra o chocolate, mas não a ponto de substituí-lo (no paladar e no coração). O gosto um pouco mais amargo e uma pequena diferença na consistência são suficientes para que Alan se mantenha fiel à delícia derivada do cacau:

— Eu não trocaria o chocolate tradicional por essa barrinha. Mas, para quem não pode comer chocolate, é uma opção interessante – admite.

Cristina também não trocaria. Mas a professora se mostrou mais receptiva:

— É, até que lembra aquele tipo de chocolate com amêndoa... 

 

Mitos e verdades sobre o chocolate

A origem do chocolate vem da civilização maia. De tão importante, a bebida feita de cacau era oferecida aos deuses. Quando chegou à Europa, no século XVI, caiu no gosto do povo e os ingleses fizeram a primeira barra de chocolate. No Brasil, onde as diversas versões do doce também fazem sucesso, vários mitos resistem e até colaboram para tornar a iguaria tão popular. Rosane esclarece o que é verdade e o que é folclore.

Chocolate dá espinha?
Apesar de alguns chocolates serem ricos em gordura, é um mito afirmar que o alimento dá espinha, causada por obstrução das glândulas sebáceas da pele.

Chocolate diet adianta para emagrecer?
Chocolate diet é indicado para o diabético, porque não contém açúcar, não para que quer emagrecer. Ele é mais gorduroso, portanto tem mais calorias. Se o objetivo é controle de peso, o amargo é menos calórico. Quanto menor a concentração de chocolate, maior a concentração de manteiga de cacau, que o torna mais calórico.

Chocolate amargo emagrece? 
Rico em flavonóides, quanto mais amargo melhor para a saúde. O chocolate que traz benefício terapêutico é o composto por 70%, ou mais, de cacau. É recomendada a porção de 20g por dia. Os flavonóides têm ação antioxidante, isso previne o acúmulo de gordura nas células e, consequentemente, doenças cardíacas. Além disso, os ácidos fenálicos presentes no cacau interferem na produção de leptina, que é o hormônio associado ao controle da saciedade, sendo de forte ajuda no caso de obesidade.

Chocolate "supre" carência emocional? Ele vicia? 
Os chocolates ajudam na produção de serotonina, um neurotrasmissor associado ao bem-estar e ao controle da obesidade. Por isto, quando estamos tristes, um chocolate nos faz tão bem. Por estar associado ao prazer e bem-estar, pode viciar.