Gustavo Rocha - Do Portal
03/05/2011Alugar um carro e pagar somente pelo tempo de uso. Trocar o que se tem pelo o que se quer, como um relógio de pulso por uma câmera fotográfica. Isso é o que se chama de consumo colaborativo, nova tendência que consiste na troca, aluguel e compartilhamento de produtos em grande escala.
O primeiro beneficiado é o bolso, pelos baixos preços envolvidos nas transações. O segundo, o meio ambiente: trata-se de uma prática de consumo com viés sustentável, uma vez que não demanda a fabricação de novos produtos (extração de recursos naturais, emissão de gás carbônico durante o transporte até os pontos de venda, produção de lixo etc.).
Originado nos anos 1990, nos Estados Unidos, o consumo colaborativo foi tema do livro de Rachel Botsman, What's Mine Is Yours: The Rise of Collaborative Consumption (O que é meu é seu: O surgimento do consumo colaborativo – em tradução literal). A obra ainda não foi publicada no Brasil. Para Botsman, especialista e consultora no assunto, a Internet possibilita uma disseminação e consequente consolidação da nova prática.
– Vivemos hoje em uma “vila global”, que permite troca de objetos em uma escala nunca antes possível. Muitas dessas ideias de consumo colaborativo são antigas, mas só puderam ser concretizadas por conta da eficiência e segurança oferecidas pela tecnologia – afirma a autora. – A Internet permitiu uma confiança entre estranhos no momento em que trocam bens, no momento em que compartilham um mesmo produto.
Rachel Botsman cita um exemplo ilustrativo: o Zipcar, que oferece carros estacionados em pontos variados de diferentes cidades dos Estados Unidos, para serem alugados por uma hora ou mais. O cliente envia, por email, cópias de documentos que comprovem sua condição como motorista habilitado. Dias depois, recebe em casa um cartão eletromagnético. O usuário acessa o site da empresa, escolhe um automóvel entre os disponíveis naquele momento e o reserva. Com o cartão, o cliente pode destrancar o carro reservado, pegar a chave no porta-luvas e começar a dirigir. Gasolina e seguro estão inclusos no preço, mais baixo do que o que se paga no sistema convencional de aluguel de automóveis. Dessa forma, diversas pessoas podem compartilhar o mesmo veículo num mesmo dia, sem precisar comprar um. Menos carros comprados, menos carros nas ruas. Menos carros nas ruas, menos emissão de gás carbônico.
Para o jornalista e professor de Jornalismo Ambiental da PUC-Rio, André Trigueiro, o grande mérito dessa nova prática é o de promover o desapego aos bens materiais, uma vez que desestimula as pessoas a terem posse de objetos.
– Este gênero de consumo está contrariando a expectativa equivocada de que quanto mais coisas tivermos, maiores serão nossa segurança e felicidade – afirma. – A importância do consumo colaborativo reside aí, a meu ver.
A nova tendência já encontra ecos no Brasil. Uma empresa de São Paulo oferece o mesmo sistema do Zipcar. A frota já está disponível em 11 pontos da capital paulista. Segundo o site da empresa, um veículo compartilhado retira outros 13 das ruas.
– Essa tendência dá certo em economias fortes, onde há capital para se investir em novas ideias, em novos empreendimentos. Por isso, essa e outras modalidades de consumo colaborativo certamente seriam viáveis no Brasil, que já desenvolveu sistemas de compartilhamento de bicicletas – comenta Botsman.
Um exemplo é o Pedalusp, trabalho de conclusão de curso de dois alunos de Engenharia Mecatrônica da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo). O projeto, ainda em fase de testes, consiste na disponibilização gratuita de bicicletas aos estudantes, professores e funcionários do campus. Para poder retirar o veículo, o usuário precisa chegar a uma das estações e passar, em um leitor eletrônico, a carteirinha que comprova sua filiação à universidade. Mauricio Villar, um dos idealizadores do Pedalusp, ressaltou o desejo de se criar um projeto que "desse retorno à sociedade”.
– Através de um estudo, concluímos que, se cem bicicletas fossem disponibilizadas no campus, seis toneladas de gás carbônico deixariam de ser emitidas por mês – explica Villar. – Nossa expectativa em relação à aceitação do projeto é enorme. Será difícil suprir a demanda – aposta.
O Pedalusp se assemelha ao Pedala Rio, projeto de compartilhamento de bicicletas implantado pela Prefeitura carioca em dezembro de 2008. Cada um dos 38 pontos de distribuição – alguns deles próximos a estações do metrô – oferece de 10 a 14 bicicletas aos usuários. O Pedala Rio esteve suspenso por três meses, em 2009, após o furto de 56 bicicletas. Mesmo após ser reativado, oferecendo travas mais resistentes, outros 17 veículos foram roubados. Segundo a Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, o Pedala Rio "está aprimorando seus dispositivos de segurança para garantir o conforto dos usuários".
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