Gabriel Picanço - Do Portal
20/04/2011O reitor da PUC-Rio, o padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J, alertou, na última terça-feira (19/04), para a necessidade de se resgatar a prática de promoção da harmonia com o Criador e com as demais criaturas por meio do contato mais profundo com a natureza (Veja o vídeo da palestra na íntegra). A fala foi proferida no debate “Ecologia e Espiritualidade”, organizado pelo Centro Dom Vital e que teve a participação do jornalista Luiz Paulo Horta.
Segundo o reitor, a reestruturação dessa aliança é fundamental para que o homem encontre soluções para amenizar os problemas ambientais. Para o padre Josafá, que é biólogo, o imediatismo e a velocidade fizeram com que o Homem perdesse a capacidade de olhar e perceber os detalhes, cheiros e sabores da natureza, se distanciando dos outros seres e rompendo a aliança entre Deus, o Homem e a natureza. Para reatar esta tríplice relação, o reitor propõe um exercício de interiorização, buscando a mística perdida através do contato com os outros seres vivos e seus detalhes.
– É preciso resgatar o olhar místico, contemplando e ao mesmo tempo percebendo os detalhes. Essa visão contemplativa é fundamental, a sensibilidade para ver naquele detalhe, nas características que não existem em nenhum outro ser. Ali está a mão de Deus – definiu Josafá.
Luiz Paulo Horta, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras, também chamou atenção para a falta de sensibilidade na relação com a natureza.
– Devemos perceber melhor esse mistério fascinante, inesgotável, pelo qual passamos muito distraidamente hoje em dia – defendeu Horta.
Para o jornalista, esse é o momento para os homens perceberem a si mesmos como parte da obra de Deus. Não a mais importante, mas sim no mesmo patamar de todos os outros seres vivos.
– Não existe uma Bíblia para natureza e outra para o ser humano. Nós fazemos parte do mesmo magnífico universo criado. E quanto mais tomarmos conhecimento disso, mais nos serão indicadas as saídas desse aperto ecológico que estamos começando a viver – disse Horta.
Para o padre Josafá, atualmente vivemos um paradoxo, resultado do distanciamento do homem com a natureza. Se por um lado nunca se criou tanto do ponto de vista da racionalidade técnica, por outro, nunca se destruiu tanto, a ponto de hoje ser impossível frear esse processo que “cria a partir da destruição”:
– Temos que superar a visão puramente utilitária e mecanicista da natureza, como se ela fosse uma máquina, com peças que podem ser tiradas e repostas. A natureza tem uma dimensão transcendente. É uma pretensão muito egoísta achar que ela está a nosso serviço.
Após séculos de distanciamento e exploração do meio ambiente, as conseqüências, como o aquecimento global, começam a aparecer. Segundo o reitor, a melhor maneira de amenizar os efeitos das ações do homem sobre a Terra é buscando o equilíbrio entre os valores espirituais e racionais, por meio do contato maior com o que ele chamou de “mistério de Deus manifestado na natureza”.
– Cabe a cada um de nós fazer essa experiência, ter a consciência do ambiente, ter consciência planetária. É uma experiência que é difícil ser falada. Deve ser vivida, experimentada – disse Josafá.
Para ele, é importante também reconhecer a racionalidade existente na natureza:
– Duas categorias foram criadas: as dos seres racionais e irracionais. Mas existe uma inteligibilidade própria em todos os seres, enquanto manifestação de Deus, manifestações pequenas de um amor maior.
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