Tarde do dia 28 de março de 2008. Uma segunda-feira até então serena no Rio de Janeiro é substituída de imediato pelo alvoroço. Ronaldo Fenômeno, ainda jogador do Milan, da Itália, estava na cidade em fase de recuperação após mais uma cirurgia daquelas no joelho. O rebuliço era por conta de um envolvimento em um escândalo com um travesti em um motel na Barra da Tijuca.

Ronaldo é talvez a maior celebridade do mundo do futebol a estampar capas de revistas, portais nas internet e, nesse caso específico, até manchetes policiais. Eleito o melhor jogador do mundo em três oportunidades (1996, 1997 e 2002), sempre teve de conviver com a perseguição dos paparazzi, seja em Milão, Madri ou no Brasil. Uma marcação tão ou mais cerrada quanto à dos zagueiros que enfrentava, e que volta e meia é questionada no meio. Há a necessidade de tamanha fixação por um ídolo, uma estrela?

– Isso parte da premissa de que matéria que não diz respeito ao esporte vai parecer que é de fofoca. Um preconceito total, porque o personagem esportivo não é só o atleta em campo, é a vida dele inteira em campo – argumenta Gustavo Poli, editor-executivo do site Globoesporte.com.

Obviamente, a exclusividade não é do Fenômeno. Tablóides ingleses se especializaram nas últimas décadas em coberturas que prestigiam uma simples foto, ainda que banal, à naturalidade e beleza do texto. O público comprou, literalmente, a ideia do jornalismo de celebridade. O astro David Beckham, que ganhou status mundo a fora mais pela grande presença na mídia do que pelo futebol, é um grande exemplo. São esses jogadores os novos motores do" jornalismo de celebridade"?

– Talvez seja um exagero dizer que são os novos motores do jornalismo de celebridade, mas é claro que, se temos alguém que gere notícias, fotos boas, fofocas como as que envolveram Adriano ou o Ronaldo, vamos investir. Afinal, fora de campo os jogadores também são celebridades. Queremos foto do filho do Kaká, do casamento do Robinho, da mulher do Ronaldo... Porque todo mundo quer ver – explica Claudia Croitor, editora do portal Ego.

No Brasil, o nome de "Adriano" apareceu frequentemente fora dos cadernos de esporte em março do ano passado. As ameaças de que seria um jogador-problema se concretizaram, e o Imperador colecionou polêmicas com a namorada, multas na carteira de motorista, refúgios em Búzios – onde também foi encontrado pelos paparazzi, diga-se. Em campo, deixou o Flamengo com metade do Império do Amor. Vagner Love também acabou no noticiário policial ao ser filmado ao lado de traficantes armados em um baile funk na favela da Rocinha.

A recaída de Adriano foi o chamado gancho de que o jornalista investigativo Leslie Leitão, do jornal O Dia, precisava para  desvendar detalhes da vida do atacante. Reportagens informaram que uma moto registrada em nome da mãe ligaria supostamante Adriano a traficantes. O jogador teve de prestar depoimentos à polícia antes de viajar para a Itália, onde atua pela Roma.

– Essa história se repete há mil anos. A gente muito transcendeu essa idéia de que o atleta só vale o que faz no campo. Não é verdade, pois o que ele faz fora é um espelho. Eles são ídolos e responsáveis pelo que essa imagem transmite. “Ah, ele não quer ser ídolo”, argumentam alguns. Grandes poderes trazem grandes responsabilidades –diz Poli.

As irresponsabilidades podem custar caro. Por conta de escândalos divulgados na imprensa, Adriano, por exemplo, deixou de lucrar com publicidades. Sua imagem também ficou arranhada, e seus “feitos” foram lidos por milhões. Somente a confusão no morro da Chatuba, que provocou o “sumiço” do jogador, rendeu 1.373.390 acessos à reportagem no portal do EGO e Globoesporte.com. A matéria sobre a ida de Adriano ao treino ao lado de Joana rendeu mais de 1,2 visitas únicas, número superior ao dobro da circulação normal dos três grandes jornais brasileiros juntos.

– Se for uma história ótima, tipo as brigas do Adriano com a Joana Machado, costuma dar mais cliques até do que atores globais ou ex-BBB – observa Croitor.