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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Esporte

Surfistas da PUC contam como colecionam ondas e histórias

Igor de Carvalho - Do Portal

10/10/2010

Isabela SuedHistórias curiosas, “perrengues”, sufoco. Sem casos assim, as viagens atrás das melhores ondas estariam incompletas. A tese – e algumas histórias de pilotis – são compartilhadas por dois surfistas  separados pelo tempo. Guilherme Braga, 26 anos, formado em administração, dividia os afazeres acadêmicos com as aventuras sobre a prancha. Foi um dos criadores do PUC Surf. Gabriel Vallim, 19 anos, terceiro período de direito, combina a rotina dos livros com as manobras molhadas. Participa pela primeira vez do PUC Surf. Reunidos no campus a convite do Portal PUC-Rio Digital, eles dividiram memórias e ideias sobre a paixão em comum.

Guilherme acredita que o “barato” das viagens guiadas pelo surfe são as "histórias para contar",  especialmente sobre as complicações na jornada rumo ao paraíso chamado surfe. Ele lembrou de uma passagem assim, no Equador:

 Isabela Sued – O ônibus em que eu estava enguiçou por falta de gasolina. Tivemos de pegar gasolina emprestada de outro ônibus. Mas, ainda assim, meu ônibus não ligava. Toda a galera que estava nele, umas 30 pessoas, teve de descer para empurrá-lo. Quando pensei que jamais aconteceria de novo, passei pelo  imesmo tipo de aperto em Fiji.

Gabriel viveu história parecida, também num país vizinho. Ele estava na praia de Porto Viejo, na capital peruana, quando a van que o transportava atolou na areia. Na companhia dos amigos, Gabriel teve de buscar ajuda. O caminho até a onda perfeita tem dessas coisas.

Já os motivos que os levaram às manobras na prancha foram diferentes. Guilherme sonhava ser surfista "desde pequeno". E de repente o menino que colecionava álbum de surfe virou um bamba sobre as ondas:

– Eu idolatrava o surfe. A prancha era algo mágico. Até que, aos 12 anos, ganhei uma prancha da minha mãe. Aí juntou a fome com a vontade de comer, e não parei mais.

No caso de Gabriel, a paixão pelo surfe é hereditária. Um destino meio inevitável para o filho da competidora de bodyboard e do surfista veterano:

– Desde criança, meu pai dizia que eu tinha que surfar. Comecei ficando em pé numa prancha de bodyboard. Aos 5 anos, ganhei dela a primeira prancha. Ele sempre me apoiou e incentivou a competir.

Quando ainda cursava administração na PUC-Rio, Guilherme saía das aulas direto para as ondas. Pegava muita onda naquele período. Mas sem prejuízo dos deveres acadêmicos. O bom rendimento na universidades garantia-lhe tranquilidade para dar algumas fugidinhas para aproveitar condições ideais do mar e para viajar nas férias.

Gabriel persegue também o equilíbrio entre a responsabilidade nos estudos e a dedicação ao surfe nos momentos livres:

 Isabela Sued

– Tento surfar sempre. Sempre que tem onda, eu tento estar na d’água. Mas, em época de provas, nem procuro saber se tem ondas boas. Fico em casa estudando e nem olho o mar – brincou.

Quando a questão é escolher os melhores locais para o surfe no Rio de Janeiro, eles também tomam rumos parecidos. Ambos preferem pontos menos procurados, como na Joatinga, entre o Posto 3 e o Quebra-mar, a locais muito frequentados pelos surfistas cariocas, como a Prainha.

Eles também se afinam nas ondas do PUC Surf. Criado por Guilherme, o circuito reúne alunos e ex-alunos da universidade e celebra o casamento entre esporte e educação.

– Tentamos fazer com que os alunos exerçam, no evento, as profissões escolhidas. O pessoal de design, por exemplo, produz a camisa do campeonato e a nova logomarca. O pessoal de comunicação trabalha na assessoria de imprensa. Também incentivamos a prática esportiva e a qualidade de vida – destaca Guilherme. 

Para Gabriel, novato no circuito, a oportunidade de competir em um torneio da própria universidade o incentivou a voltar aos treinos:

– Andava meio parado. Mas, depois ter ficado em terceiro lugar na primeira etapa desse ano, voltei a treinar mais. Já fiz até prancha nova para competir na próxima etapa.

Apesar da busca pelo topo, a relação de camaradagem entre os veteranos e novatos é uma das marcas do torneio. Uma ótima oportunidade para fazer novas amizades, diz Gilherme:

– É uma maneira de unir os alunos. De repente, um ex-aluno formado em comunicação, por exemplo, troca uma ideia com um novato e oferece uma vaga de estágio na sua empresa. Esse ex-aluno mostra também como ele conseguiu continuar surfando e trabalhando depois de sair da faculdade.

Amigos à parte, muitos querem ser Kelly Slater. Tanto Guilherme quanto Gabriel consideram Slater um “fenômeno”, e um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento do surfe nas últimas décadas. Uma referência de estilo de vida, observam.

Transformar a prática do surfe em profissão era um desejo de ambos. Eles ressalvaram, porém, que os maiores investimentos na área "só aconteceram nos últimos 10 anos" e ainda é difícil se manter na elite do surfe brasileiro.

– Tenho amigos que viraram profissionais e viveram disso, mas poucos conseguiram permanecer nesse patamar – observou Guilherme.

Gabriel acredita que é preciso continuar competindo, mas por vontade própria, sem pressão excessiva. A pressão em excesso foi decisiva para desmotivá-lo a competir:

– Já fui mais focado em competição. Quando não se tem mais aquele prazer em competir, perde-se um pouco da vontade de se tornar surfista profissional.

Guilherme e Gabriel acreditam que os estudos podem ser atalhos para uma qualidade de vida semelhante à alcançada pelos surfistas profissionais. Guilherme usa as competências aprendidas no  curso de administração para aproximar os rumos profissionais do surfe:

– O que me traz felicidade agora é fechar negócios na área de esportes, de eventos como o PUC Surf. Além de ser meu estilo de vida, o surfe também é o meu trabalho.

A felicidade de Gabriel passa pelo acúmulo de experiências no surfe fora do país. Depois das três viagens ao Peru, ele quer expandir o roteiro das ondas:

– Ir para o Havaí é certo, Indonésia é mais certo ainda, Austrália, Panamá Costa Rica, El Salvador. Também quero ir para a Europa, onde também há ondas boas.

Já Guilherme esbanja experiência internacional, com sete viagens para o Peru, nove para o Equador, três vezes para a Indonésia, ilhas Fiji. Nada se comparou a Papua Nova Guiné, na Oceania:

– Acho que fui o primeiro a surfar lá. Andava pelas ruas e as crianças gritavam “homem branco!”, pois a maioria deles é índio. Foi uma experiência de vida. Ver crianças, mesmo com sérias doenças de pele,  sempre sorrindo. Pretendo voltar para desenvolver algum projeto social, chamando o pessoal do surfe.

“O surfe também é uma válvula de escape para esse cotidiano de trânsito, tumulto, problemas”, acrescentou Gabriel. “Além do prazer proporcionado, é um estilo de vida. Aprende-se a controlar os medos. É um autoconhecimento”. Para Guilherme, é sobretudo um ensinamento:  

– Com o surfe, aprendi a respeitar a diferença dos outros, a ter uma visão mais humana de tudo.