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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Esporte

Em busca de soluções para conter a saída de craques

Guilherme Maniaudet - Da sala de aula

06/10/2010

Mauro Pimentel

Em junho, às vésperas da Copa, quatro comissões do Senado Federal aprovaram mudanças na Lei Pelé, que permite ao jogador de futebol, no fim do contrato com o clube, definir o seu futuro. Segundo o relator Álvaro Dias (PSDB-PR), o projeto visa proteger os clubes formadores de atletas e evitar o êxodo dos jovens jogadores para o exterior. De acordo com o senador, o primeiro contrato com os profissionais do futebol poderá ter validade de cinco anos e, após seu término, o clube formador tem a preferência para firmar um novo contrato, por mais três anos.

O relator afirma que, pelo texto, os clubes formadores terão direito a até 5% de todas as transferências nacionais de jogadores. No caso de transferências internacionais, não há limite para o valor da multa rescisória dos atletas de futebol. Os benefícios trazem também mais obrigações. Os clubes passam a ter de dar complemento para a formação educacional dos atletas. Dias afirma ainda que, em caso de problemas na administração dos clubes, os dirigentes poderão ser responsabilizados por "gestão temerária".

Para o repórter Diego Rodrigues, do Globoesporte.com, esta é uma maneira de tentar corrigir "o erro que é a Lei Pelé", e proteger os times brasileiros, que já sofrem com o baixíssimo poder financeiro:

– Nosso futebol é pobre, mas apenas financeiramente. Somos a maior fábrica de jogadores do mundo, mas essa fábrica é quase falida. E com a Lei Pelé, tudo fica mais difícil. Os empresários acabam se tornando os grandes "managers" do futebo. Eles que decidem para onde os seus atletas vão, e não mais os clubes que os criaram, que deram apoio e foram fundamentais em sua formação. Um bom exemplo é o caso do Ronaldinho Gaúcho em 2000, que assinou um pré-contrato com o Paris Saint Germain (da França) e o Grêmio, que o formou, ficou de mãos abanando.

 Brasil: a maior "fábrica" do futebol mundial

Desde o início do atual século, o Brasil se tornou o maior exportador de jogadores do futebol pelo mundo. Segundo reportagem do portal G1 de 2009, nos últimos anos, a saída de futebolistas movimentou mais de US$ 440 milhões, tornando-se este um dos principais “produtos” de exportação do nosso país, ultrapassando a banana, a maçã e a uva. Em 1993, o Banco Central começou a registrar a venda de atletas para fora do país. Desde então, tais movimentações já somam mais do que dois bilhões de dólares. 

 Mauro Pimentel

O destino principal dos jogadores brasileiros é Portugal. No ano de 2008, 209 profissionais foram para aquele país. O mercado europeu é o maior importador. Também em 2008, dos 1776 atletas que saíram daqui, 762 foram para a Europa. Em segundo lugar, vem a Ásia, com 222 jogadores. Esse elevado número de brasileiros pelas ligas de futebol mundo afora acaba fazendo com que as seleções também “adotem” os jogadores. Incomodado com este fato, Joseph Blatter, presidente da FIFA, chegou a afirmar que um dia "todas as seleções do mundo jogarão apenas com brasileiros." Na Copa da África do Sul, por exemplo, seis brasileiros atuaram em outras seleções:: Benny Feilhaber, pelos Estados Unidos; Cacau, pela Alemanha; Marcos Túlio Tanaka, pelo Japão; e Deco, Liedson e Pepe, por Portugal.

O ex-atacante Wagner Lopes, que jogou praticamente toda a carreira no Japão e defendeu a seleção nipônica na Copa do Mundo de 1998, não vê este fato da mesma maneira que Blatter. Para ele, isso só comprova a superioridade do futebol brasileiro:

– Jogar no Brasil não é fácil. Os que disputam a primeira divisão nacional por aqui são a grande minoria. A maior parte dos jogadores ganham um salário muito baixo, devido à saturação do mercado brasileiro mesmo. Muitos não conseguem sustentar as suas famílias com o que ganham e acabam aceitando propostas de país sem cultura no esporte, como Chipre e Noruega. Eu não tenho o que reclamar da minha carreira. Fui ídolo no Japão e em quase todo Mundial vemos um brasileiro com a camisa de outra seleção. No próprio Japão, nas quatro Copas em que disputou, havia um brasileiro: eu, em 1998; o Alex Santos, em 2002 e 2006; e o Túlio Tanaka na atual. É a grande quantidade de talento que leva a estes números. Quem tem muito, acaba não tendo espaço para todos.

Esta saída em grande quantidade de brasileiros não significa muito dinheiro entrando. O meia Kaká é um bom exemplo. Em 2003, o São Paulo o vendeu ao Milan, da Itália, por US$ 8,25 milhões. Em 2009, o clube italiano passou o jogador ao Real Madrid, da Espanha, por 65 milhões de euros. A maior transferência de um atleta brasileiro para o exterior foi em 1999, quando o Real Betis, da Espanha, pagou ao mesmo São Paulo US$ 32 milhões.

Texto produzido para a disciplina Laboratório em Jornalismo, ministrada pela professora Carla Rodrigues.