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Rio de Janeiro, 4 de maio de 2024


Esporte

Paixão pelo Botafogo vira empreendimento online

Clarissa Pains - Do Portal

06/01/2010

 Lucas Landau

Ela é a caçula de cinco irmãos, todos botafoguenses. Era a última chance de o pai, flamenguista, transformar um dos filhos em companheiro de torcida, mas não deu certo: desde criança, Maria Clara Cardona (foto) já era apaixonada pelo Botafogo. Aos 22 anos, a estudante de jornalismo da PUC-Rio transforma a paixão em empreendimento. Ela dirige o conteúdo do site Redação Alvinegra, na rede há apenas seis meses, já com média de 58.000 acessos mensais e mais de mil seguidores no Twitter.

Ao menos a profissão da filha o pai conseguiu influenciar, pois ele também trabalhava com jornalismo esportivo. Quanto ao time do coração, as influências seriam inúteis. Pois, como Maria Clara diz, “a paixão pelo Botafogo não surgiu, nasceu com ela”.

– Minha paixão é pelo clube, ultrapassa o esporte. Eu não seria apaixonada por futebol se o Botafogo não existisse.

Única mulher na administração do site, Maria Clara é “chefe” de muitos meninos, como Danilo Rezende (foto), também colega de curso na PUC-Rio. Danilo comandará, a partir deste mês, o programa Noutros esportes, sobre esportes amadores (“para lembrar que o Botafogo não é só futebol”, ressalta Maria Clara). No Redação Alvinegra, os internautas podem acessar a programação de treinos, a cobertura de jogos, crônicas, vídeos raros, a história do clube, colunas, charges, levantamentos dos perfis adversários.

Desde novembro, o site abriga uma rádio 24 horas. O programa Direto da redação reúne comentários de notícias depois dos jogos, à noite e nos fins de semana. Há também o Tarde alvinegra e o Madrugada alvinegra, que, mais informal, permite a participação dos internautas por meio do Skype e do Orkut.

“Não me considerava empreendedora, mas agora posso dizer que sim”

Maria Clara geralmente é a única mulher dentre os amigos torcedores. Otimista, ela se esforça para convencê-los a assistir aos jogos no estádio. Nem sempre funciona, especialmente quando o time atravessa uma fase ruim. 

– A final do Carioca do ano passado, por exemplo, eu assisti sozinha. Mas, no estádio, a gente sempre encontra várias pessoas legais da torcida, pessoas da comunidade do Orkut. Quando eu era mais nova, ia ao estádio com meu irmão e seus amigos ou com colegas do meu pai que torciam pelo Botafogo (meu pai se recusava a ir). Tenho a impressão de que, naquela época, havia mais botafoguenses.

Moradora de Marechal Hermes, na Zona Norte, Maria Clara vai aos jogos de trem. Conta que já correu muito por causa das recorrentes confusões entre torcedores: “Uma vez, tive que me abaixar no trem para desviar de pedras”. Brigas, só se for na luta-livre, esporte de que também gosta. Igualmente difícil é o percurso feminino no jornalismo esportivo, acredita a estudante:

– Sempre achei muito difícil uma mulher se aventurar nesta área, que ainda é predominantemente masculina. Principalmente no futebol. Mas as pessoas gostam do que eu escrevo, então estou começando a ter mais confiança de que posso sim trabalhar com esporte.

O site divide a rotina profissional com o estágio na Superintendência de Seguros Privados do Ministério da Fazenda. A jovem planeja converter o espírito empreendedor em novos projetos:

– Tocar o site significa representa uma parte importante da minha vida. Às vezes, vem primeiro até do que dormir. No início, não me considerava empreendedora, mas agora posso dizer que sim.

Além de estudar e estagiar, ela faz curso de jornalismo esportivo à noite. Chega em casa por volta de 22h30, pronta para uma nova jornada.

– Eu trabalho na hora que dá, geralmente de madrugada ou de manhã bem cedo. A qualquer horário, se tenho dez minutos, vou usá-los para fazer algum trabalho do site, porque a demanda é grande todo dia.

Dono do jornal Folha da ACM, de Madureira, o pai, mesmo rubro-negro, apoia a filha. Divulga na publicação o site que ela ajuda a manter no ar.

– Ele entende que existem outras formas de entrar no mercado além de se tornar empregado de um veículo de comunicação. Essas formas alternativas às vezes dão mais retorno que as tradicionais.

No início, era um blog...

O Redação Alvinegra era apenas um blog, até um dos jovens que o comandavam ter a ideia de transformá-lo num site. Com a ajuda de um web designer e um programador, fizeram o layout do site. Faltava o conteúdo. Ao saber da iniciativa pelol Orkut, Maria Clara topou o desafio.

Lucas Landau

– Inicialmente, eu deveria apenas colaborar com o site, escrever algumas matérias, fazer clipping. Mas eu comprei a ideia de tal forma que passei a respirar aquilo dia e noite – conta.

A equipe se organiza da seguinte forma: seis pessoas, divididas por turnos, escrevem as matérias; um jovem é responsável pelo núcleo de pesquisa, outro, pelo núcleo multimídia; dois rapazes, repórter e editor, trabalham no núcleo de rádio; outros dois na parte de web; há também um fotógrafo. Maria Clara divide o comando do site com dois colegas. Enquanto ela está à frente da parte jornalística, eles coordenam a parte de marketing e de web, que ela diz “não entender nada”.

Para não dizer que não falei de superstições

Muito supersticiosa, a estudante tem um altar do Botafogo em casa. Nele, objetos que ela encontra nos estádios, fitinhas, velas e ainda imagens de São Jorge e de Nossa Senhora Aparecida.

– Apesar de não ser católica, essas são coisas em que eu acredito além do espiritismo, religião que eu sigo – explica – No altar, também há objetos relacionados ao futebol mesmo: camisas do título de 95, camisas n° 7, n°9. Uso “roupa de jogo”: camisa preta nem pensar; se o time joga de branco, eu também tenho que estar de branco; uso a mesma calça comprida, os mesmos shorts. E faço algumas rezas antes dos jogos. Não posso garantir que funcione, mas eu acredito.

Para fazer as reportagens, Maria Clara vai a todos os jogos no Rio. Quando a faculdade e o trabalho permitem, vai também a jogos “fora de casa”. Nas partidas, as superstições estão de bola cheia.

– Quando vou ao Maracanã, fico sempre em baixo do telão, é uma tradição. Foi ali que eu vivi os melhores e os piores momentos da minha vida em relação ao Botafogo. É quase um imã. No “Engenhão”, curiosamente, ainda não desenvolvi nenhuma superstição.

Desafios 

Segundo Maria Clara, a falta de recursos financeiros e o "desinteresse dos colaboradores" são as principais dificuldades na manutenção do site. O núcleo de marketing é recente e alguns patrocínios estão em vista. 

– Ainda não temos dinheiro para remunerar os colaboradores,e, assim, atrair mais interesse.

Ela ressalta que a ideia do Redação não é competir com canais como o Globo Esporte ou o Lance, mas "complementar e aproximar o torcedor e o clube”.