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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Esporte

Encontro do esporte com a cidadania

Fabiana de Freitas - Da sala de aula

23/07/2008

 Fabiana de Freitas

Ao som de muito hip-hop, o Viaduto de Madureira parou para assistir a mais uma rodada da Liga Brasileira de Basquete de Rua (Libbra). Na quinta rodada das eliminatórias, participaram times do Espírito Santo, Paraná, São Paulo, Bahia e, claro, do Rio de Janeiro. Organizado pela Central Única das Favelas (Cufa), os jogos contaram também com competição de duplas de skate, apresentação de break, pinturas de grafite, sem falar nas disputas de basquete na rua e mano a mano. O estilo era o mais americano possível, com direito até a líderes de torcida, as “Cufetes”.

O basquete de rua da CUFA começou em 2002 durante o Hutúz, encontro de hip-hop da organização. O que era apenas uma brincadeira ficou sério, transformou-se em torneio e depois um campeonato nacional. Hoje, existe a Seletiva Estadual de Basquete de Rua (Sebar) em quase todos os estados do país e muitos outros times se inscrevem para participar.

A Libbra nasceu em 2005 com o objetivo de dar maior destaque ao basquete. Pouco tempo depois, a CUFA iniciou as aulas do esporte nas escolinhas dentro das comunidades. A coordenadora dos eventos alternativos do Hutúz, Nega Gizza, passou a organizar a Libbra e hoje é a presidente da liga. Ela fala como surgiu o trabalho na ONG:

– A gente queria passar um pouco da prática do basquete de rua, uma técnica alternativa que as pessoas têm mais facilidade de pegar. É uma forma de fazer uma grande reunião de jovens, onde eles podem se sentir respeitados. Naquele instante, não tem nenhum tipo de repressão, nem álcool ou droga, é um momento de direção para a vida desse jovem como ser humano, porque o basquete de rua tem o seu valor, o skate também, conta Gizza.

 As regras do basquete de rua são bem flexíveis e há a possibilidade de fazer jogadas mais ousadas, brincadeiras e criar algumas coisas que não são permitidas no de quadra. A organização da Libbra preferiu mesclar as normas. “A gente tentou fazer uma mudança e ficar entre um e outro porque, como é um campeonato nacional e a gente tem jogadores de rua e de quadra, não queremos beneficiar nenhum jogador”, explica Nega Gizza.

Marcelo Paes, jogador do time Otta, do Rio de Janeiro, já jogou basquete de clube e afirma que tem muitas diferenças, como o piso e a cesta, que é mais baixa. “Dá para fazer mais enterradas, o pessoal gosta mais”, diz Marcelo.

DJs e MCs animaram o evento. O público também estava bem entusiasmado. Na arquibancada cheia, os torcedores dançavam e faziam coreografias. Com tantas atrações, os visitantes se dividiram para assistir a todos os eventos do dia, como o vigilante André Proence:

– Eu estou tentando assistir a todas as competições e apresentações, mas estou indeciso, pois não sei o que é mais legal, eu gosto de tudo. Pena que minha noiva está trabalhando e não pôde vir. Estou gostando muito, conta André.

Aulas de cultura

Criada em 1998, por jovens de várias favelas do Rio de Janeiro, a CUFA tem vários projetos na área social. A ONG já tem sede em 23 estados do país, e lançou filmes e livros, como Falcão, meninos do tráfico, que teve repercussão nacional. No Rio, existem bases em Madureira, Cidade de Deus, Complexo do Alemão e Acari. Além da escolinha de basquete, a organização tem outros projetos, como escola de futebol e capoeira nos esportes. Nas artes, organizam oficinas de grafite, break, artesanato, leitura, teatro e eventos de cinema.

Muitos dos alunos da ONG já fazem apresentações ou dão aula, como o professor de grafite Alexandre Alfa, que aprendeu tudo na escolinha e agora ensina. Já Maurício Nóbrega, o Royal, já dançava break quando entrou para a CUFA, mas agora tem um espaço para treinar de graça. “Qualquer pessoa pode entrar no grupo, sabendo ou não como dançar. Os treinos são sempre às quartas-feiras, aqui mesmo no Viaduto, às 18 horas”, convida o dançarino.