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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Esporte

Às vésperas das Olimpíadas, jovens talentos vão treinar fora do Brasil

Matheus Vasconcellos - Do Portal

18/12/2012

 Arte: Eduardo Ribeiro

Faltando pouco mais de três anos para os Jogos Olímpicos, é cada vez mais frequente a saída de jovens atletas do Brasil para outros países. De acordo com a agência Daquiprafora, empresa que faz a transferência de atletas de esportes de modalidade olímpica, em 2012 houve um aumento de 33%, em relação a 2010, no número de atletas buscando melhor treinamento e condições para profissionalização no esporte. Tudo isso aliado à oportunidade de estudar oferecida em universidades norte-americanas.

  Esse foi o caso de Rebeca Pereira, 19 anos, tenista da University of North Florida (UNF), nos Estados Unidos, e campeã da Atlantic Sun Conference de 2012 pela universidade. Morando no exterior desde janeiro de 2012, Rebeca começou seu processo para ingressar na UNF em 2010, quando foi morar no Centro de Treinamento Kyrmair, em Serra Negra (SP), que prepara atletas para disputar bolsas de estudos nos EUA. Quando chegam à idade mínima para entrar na universidade, os atletas podem procurar agências como a Daquiprafora. 

 – O processo começa com duas provas de inglês, o SAT e o TOEFL. Além disso, fazemos um vídeo mostrando nossas habilidades para os técnicos. As universidades interessadas entram em contato com o atleta, que pode escolher aquela que oferecer a melhor bolsa ou a que atender melhor a seus interesses – conta Rebeca, classificada como atleta de nível máximo pelos treinadores da UNF.

A tenista conta que a falta de apoio financeiro no Brasil foi o principal motivo para a busca de profissionalização no exterior. Assim como Rebeca, o golfista Pedro Junqueira, 16 anos, bicampeão do torneio Faldo Series South América Championship, a etapa sul-americana da Faldo Series, não tinha patrocinador e começou a enfrentar dificuldades em realizar seu sonho pela falta de apoio e estrutura para seguir sua carreira.

– Meus pais sempre foram meus principais patrocinadores, eles é que me incentivaram a ir para os Estados Unidos. A falta de infraestrutura foi a minha maior dificuldade no Brasil. Muitas vezes treinei sem ter um treinador, e em outros momentos faltavam bolas, tacos e material para o exercício. O fato de eu ter sido campeão de dois torneios muito importantes no Brasil me ajudou a conseguir uma bolsa nos EUA. Lá eu tenho a oportunidade de participar de torneios, mais disputados e de nível melhor, toda semana – conta Pedro, que hoje mora em Bradenton, na Flórida. Arquivo Pessoal / Thais Pastor .

De acordo com a Confederação Brasileira de Golfe (CBG), hoje, são realizados no Brasil cerca de 12 torneios durante o ano, e cada etapa é jogada em um estado diferente. Por meio de sua assessoria de imprensa, a confederação afirmou que procura investir em mais torneios e prêmios melhores para que os atletas fiquem no Brasil.

– Enquanto nossos torneios premiam em torno de R$ 320 mil, os torneios americanos pagam em prêmio quase US$ 1 milhão. Ainda não dá para competir – exemplifica o assessor Júlio Faria, afirmando que “não é do dia para a noite que essa realidade vai mudar”.

A falta de torneios também foi motivo para os atletas deixarem o país, pois os torneios brasileiros não promoviam experiência suficiente para a pontuação em rankings nacionais e internacionais. A Confederação espera mudar esse quadro em 2015 recebendo parte do PGA Americano, maior torneio de golfe do mundo. O Brasil já sediou o PGA Latino América, cuja pontuação vale para o ranking mundial.

Rubens Lisboa, da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), afirma que a exportação desses atletas está relacionada ao modelo educacional que as universidades americanas apresentam.

– As pessoas saem do Brasil pensando mais na universidade do que no esporte em si. Geralmente quem escolhe um curso fora do país está pensando mais na chance de estudar nos Estados Unidos do que em se profissionalizar como atleta. Existem circuitos juvenis para auxiliar na formação dos tenistas no Brasil, mas não existe nenhum programa que segure esses atletas aqui; quando ele decide ir embora, não há nada que possamos fazer – reclama Rubens, dizendo que os circuitos oferecidos dentro do país somam pontos no ranking nacional e podem qualificar esses atletas em torneios no exterior, mas mesmo assim muitos preferem as universidades americanas.

Andrea Ramal, doutora em Educação pela PUC-Rio, acredita que a ligação entre esportes e falta de investimento para a formação de novos atletas começa muito antes da fase universitária. Andrea diz que a falta de investimentos na estrutura desde a base é um grande problema, mas não o único:

– As escolas não dedicam muitas horas à prática de esportes. Duas aulas de 50 minutos por semana, das quais apenas metade é usada efetivamente para a prática esportiva, é algo muito limitado. Sem falar que as escolas em geral não têm vestiários, nem espaços para práticas como atletismo, por exemplo. O estudante acaba percebendo que, se quiser se tornar um atleta, não encontrará apoio suficiente.

Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Ayrton Senna/Atletas para a Cidadania e pelo Instituto Votorantim, cerca de 30% das escolas públicas brasileiras não oferecem espaço para a prática de educação física. No Rio, cidade-sede das Olimpíadas de 2016, mais de 40% das escolas municipais não têm quadra esportiva. No Brasil, 56% das escolas não têm vestiário e 13% não têm bola de futebol. Em Japeri, um dos IDHs mais baixos do estado, está o único campo de golfe do Rio de Janeiro.

Apesar de ter escolhido tentar a vida esportiva nos Estados Unidos, Pedro acredita no potencial do Brasil para o golfe, desde que haja uma mudança no cenário atual desse esporte:

– Vejo o mercado brasileiro com muito potencial a ser explorado. Na América do Sul há muitos golfistas que tentam seguir carreira, mas poucos lugares para treinar e competir com qualidade de primeiro mundo. Caso houvesse um trabalho de desenvolvimento do golfe profissional e amador de alto rendimento no Brasil, o país poderia se tornar a grande nação de golfe da América Latina.  Arquivo pessoal

A tenista Rebeca Pereira também crê em um futuro melhor para o tênis no Brasil, e aponta que a falta de reconhecimento das pessoas ainda é a maior dificuldade do esporte no país.

– Infelizmente, o tênis ainda não é um esporte muito popular no Brasil. Existem muitos atletas talentosos no país, mas a falta de reconhecimento e incentivo ainda é o motivo da grande dificuldade de crescimento do esporte em geral no nosso país – lamenta.

Jovens talentos que treinaram fora do Brasil

 Marta – Futebol: Após atuar como juvenil do CSA, de Alagoas, Marta iniciou a carreira profissional no Vasco da Gama, em 2000. Depois de dois anos no time cruzmaltino, transferiu-se para o Santa Cruz, de Pernambuco, onde jogaria por mais duas temporadas antes de defender o Umeå IK, da Suécia. Por este clube, tornou-se muito mais conhecida na Europa e foi se destacando cada vez mais, até ser considerada a melhor jogadora do mundo por cinco vezes seguidas.

 César Cielo – Natação: Foi em Auburn, nos Estados Unidos, que Cielo ganhou uma bolsa de estudos para defender o time de natação da universidade em 2006. O nadador escolheu estudar Comércio Exterior. Lá, foi treinado pelo australiano Brett Hawke, ex-finalista olímpico, que fez os últimos meses de preparação do brasileiro para as Olimpíadas de Pequim em 2008, quando conquistou duas medalhas: ouro e bronze.

 Nenê Hilário - Basquete: começou a jogar pelo time do Vasco/Barueri em 2000. No ano seguinte, jogando pelo Vasco da Gama, sagrou-se campeão brasileiro. Em 2002, inscreveu-se na NBA, onde foi selecionado pelo New York Knicks. Os Knicks o negociaram com o Denver Nuggets, time em que jogou por dez anos. Em 2012, passou a defender o Washington Wizards.

 Tiago Pereira – Natação: Prata em Londres 2012, Tiago começou a nadar no Clube dos Funcionários da CSN, em Volta Redonda, começando a se destacar aos 12 anos. Estes anos nadando chamaram a atenção do Minas Tênis Clube de Belo Horizonte. Em 2005, se mudou para os Estados Unidos para uma temporada de treinamentos em Coral Springs.