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Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2024


Esporte

'Maracanã tem que ser repolitizado'

Matheus Vasconcellos - Do Portal

26/10/2012

 Eduardo Ribeiro

O antropólogo Marcos Alvito, defendeu a repolitização e a repopularização do futebol no Brasil, em debate realizado nesta quinta-feira, na PUC-Rio. Para o professor, especialista em antropologia do esporte, antes de a sociedade debater as torcidas organizadas, o esporte precisa ser entendido pelo que ele é. De acordo com o antropólogo, o esporte não pode ser visto como um “mundo à parte”, mas como uma vertente para a atuação da política.

– O estádio de futebol precisa ser “repolitizado”. Foi num estádio que se colocou pela primeira vez uma faixa pelas Diretas Já, e a mesma coisa aconteceu com a Anistia. O esporte tem papel importante na política e na economia – ressaltou Alvito, que disse também que os estádios de futebol estão se transformando em “shoppings”, para vender ao torcedor uma impressão de que os grandes eventos proporcionarão grandes melhorias na cidade. Eduardo Ribeiro

– Esses megaeventos funcionam, na verdade, como Cavalo de Troia para que a população aceite e apoie, achando que eles irão causar alguma melhoraria. Estão demolindo o Maracanã e nós vamos pagar por isso. Nós somos muito ricos, porque estamos dando dinheiro para as empresas privadas que vão ganhar a concessão do estádio – criticou o professor.

O debate sobre Torcidas Organizadas, Hooliganismo e Copa do Mundo foi organizado pelo grupo Roda de Futebol, formado pela Coordenação de Educação Física e por alunos do curso de História da PUC-Rio, nos pilotis da Ala Kennedy. Além de Alvito, professor de Antropologia do Esporte na UFF, o evento contou com a presença do historiador Murilo Sebe Bom Meihy, professor de História do mundo contemporâneo na PUC-Rio; e de João Paschoa, presidente da Federação de Torcidas Organizadas, a Ftorj.

O professor Murilo Sebe, do Departamento de Relações Internacionais da PUC-Rio, lembrou a Tragédia de Port Said, a briga entre torcidas dos clubes egípcios Al-Ahly, da cidade do Cairo, e El-Masry, clube de Port Said, no dia 1º de fevereiro de 2012, quando 74 pessoas foram mortas e mais de mil ficaram feridas. Na ocasião, Murilo ressalta que a batalha, apesar de ter acontecido dentro de um estádio de futebol, foi consequência da revolta da sociedade civil contra uma ditadura instaurada por Hosni Mubarak. Eduardo Ribeiro

– No Egito as torcidas são divididas por lado político. O Al-Ahly é o time mais popular do país e se colocou contra o governo ditatorial, e o El-Masry é o clube que apoia o governo. Dias antes da partida, a polícia espalhou boatos de que a torcida do time do Cairo estaria marchando para destruir a cidade de Port Said. O pior foi que a Fifa só emitiu uma nota “repudiando o acontecido” – explicou o professor, palmeirense e descendente de árabes, explicando que a batalha foi política e não teve nada a ver com o resultado do jogo.

O tema das torcidas organizadas dos clubes de futebol do Rio de Janeiro foi abordado também pelo presidente da Ftorj, João Paschoal. Por orientação da Fifa e do governo, as torcidas organizadas vão assistir à Copa do Mundo de fora dos estádios.

– Estaremos longe dos estádios por causa das Fun Fests, que são festas que transmitem os jogos da Copa em locais públicos. Tudo para os turistas não verem o movimento das organizadas – queixou-se João, que reclamou também da imagem que a população tem das torcidas organizadas:  Eduardo Ribeiro

– Hoje ninguém mais quer entrar em briga. Nenhum torcedor quer virar bandeira de time, porque quem morre torcendo pelo seu time vira um rosto na bandeira do clube – afirmou Paschoa, defendendo a imagem do torcedor.