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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Esporte

Torcedores expulsam o estresse da arquibancada

Júlio Molica - Da sala de aula

13/05/2008

Gustavo Lima reuniu dois amigos numa noite de terça-feira no play de sua casa. Na véspera, tinha passado na Saara e comprado tintas e panos pretos e brancos, além de alguns pincéis. Os três se juntaram para pintar um "trapo" de apoio ao Botafogo. Trapo é nome que dão às bandeiras feitas de forma caseira.

- Os Loucos estimulam que cada um faça o seu próprio ‘trapo’ e que tente ser o mais criativo possível. É o nosso diferencial, em vez de um bandeirão, várias bandeiras - explica.

No trapo de Gustavo, lê-se ‘Biriba’, nome do cachorro do filho de um antigo presidente do clube. O animal era solto durante os jogos quando o time estava perdendo com objetivo de esfriar o adversário e facilitar a virada. Virou um dos símbolos alvinegros. Já Os Loucos pelo Botafogo ilutram um movimento que reúne torcedores fanáticos dispostos a expulsar o ranço de violência dos estágios.  

Diferentemente da maioria das torcidas organizadas, os Loucos pregam apoio incondicional ao time. Durante os 90 minutos de jogo (e os 15 de intervalo, pasmem!), cantam sem parar músicas exclusivamente de incentivo. Quando o time está mal, eles cantam mais alto.

- Teve um jogo em que nós perdíamos por 4 a 0. Enquanto os outros vaiavam, a gente apoiava - lembra Lucas.

Os cânticos exaltam o amor pelo time e pedem a vitória. Ninguém nunca escutará dos Loucos algo como “Já sei espancar/ a Raça Rubro-Negra não deu nem pra começar”, trecho de uma canção (de guerra) de uma torcida organizada tradicional.

- Nós pregamos a paz. Vamos para aos jogos do Botafogo só para apoiar. Não nos interessa xingar o adversário. O importante é ajudar os jogadores na busca da vitória - esclarece Pedro Fonseca, tocador de surdo e "louco".

Outro diferencial, por incrível que pareça, é encontrar muitas camisas do Botafogo na torcida.
- As organizadas vendem camisas delas mesmas para arrecadar dinheiro, mas nós acreditamos que devemos usar a camisa do time.

Para arrecadar dinheiro, os Loucos fazem rifas e pedem doações para integrantes de uma comunidade no orkut. Com pouca verba e muita animação, fazem uma festa no Maracanã.

- Levamos três surdos, uma caixa e pratos, além de papel picado e pequenas bandeiras, que distribuímos para os torcedores que ficam próximos - conta Pedro.

Os Loucos pelo Botafogo são inspirados em movimentos de torcedores de outros países latino-americanos, como os Borrachos del Tablón, do River Plate, e La 22, do Boca Juniors, ambos da Argentina. Essas torcidas são chamadas de barras bravas e se caracterizam por longas faixas verticais que limitam o espaço onde ficam os torcedores.

No Rio, os Loucos foram pioneiros, mas os outros clubes acolhem representantes deste novo jieto de torcer. Como os Guerreiros do Almirante, do Vasco, e a Legião Tricolor, do Fluminense.

E o trapo do Biriba. 

- Vai ficar para o próximo jogo. Teremos que dar outra demão de tinta, ficou fraca a pintura.