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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Esporte

"Esporte é jornalismo, mas também entretenimento"

Caio Cidrini e Matheus Vasconcellos - Do Portal

09/08/2012

 Divulgação

Apontada entre executivos da mídia impressa como um dos caminhos para mantê-la competitiva na era digital, a profundidade da informação tende a ser também mais valorizada por veículos eletrônicos. O prognóstico foi feito pelo jornalista Afonso Garshgen, editor-chefe do Globo Esporte no Rio, em palestra na XV Mostra PUC. Aos cerca de 40 estudantes reunidos no RDC, nesta quarta-feira, Afonso alertou: para o êxito de uma cobertura esportiva, como a do Campeonato Brasileiro ou da Olimpíada, não basta relatar simplesmente os fatos principais, é preciso "ir além do factual", aprofundá-lo, desdobrá-lo.

O trilho dos programas esportivos também passa, ainda de acordo com o editor, pela harmonia entre informação jornalística e entretenimento. Ele disse acreditar que o esporte da Globo e de outras emissoras precisa seguir esta combinação para conquistar uma audiência "que se informa por outras tecnologias". Afonso aposta no casamento entre boas histórias e humor:

– Não basta querer ser engraçado. Até a bobagem tem que ser relevante. Há espaço na televisão, inclusive na cobertura esportiva, para bobagens relevantes. Mas é necessário também manter o limite do respeito – ressalvou. 

O tempero de espirituosidade nas coberturas e nos programas esportivos começou a se acentuar na década de 1990. Repórteres como Tadeu Schmidt e Régis Rosing trouxeram olhares diferentes e novas maneiras de construir crônicas sobre o futebol e outras modalidades. Reportagens que contavam histórias de bastidor, a maioria recheada com personagens, ganharam espaço ao lado do noticiário factual. Não por acaso, mas por necessidade, observou Afonso. Como o rádio sempre foi mais veloz e a internet se revelava um "avanço incontrolável", se o programa do dia seguinte mantivesse o formato convencional, correria risco cada vez maior de se tornar dispensável.

A busca por "grandes histórias" e o exercício de um olhar mais curioso, menos superficial, sobre o esporte assumem papel estratégico para amealhar uma audiência mais exigente e conectada, acostumada a saber dos fatos esportivos em "tempo real". Este modelo se multiplica na cobertura dos Jogos de Londres. Reportagem da TV Record sobre as mães de três atletas brasileiras em Londres ilustra, entre outras tantas reportagens mundo afora, o esforço em avançar além da notícia (veja aqui).

 Maria Christina Corrêa  Num mundo em que se pode ver, por exemplo, os gols da rodada ou saber o resultado de um jogo de vôlei no Japão em computador ou celular com acesso à internet, o cultivo de histórias exclusivas, originais, revela-se decisiva para a cobertura esportiva na TV, reiterou Afonso. Aos futuros jornalistas, ele enfatizou que, nos programas diários, esse olhar autêntico precisa ser obrigatório, para supreender o público com informações novas. O editor do Globo Esporte acrescentou que, de certa forma, tal conteúdo deve conjugar informação e entretenimento:

– Não é mais fazer só jornalismo esportivo. O esporte também é jornalismo, mas é muito entretenimento também. Um dos desafios é contar e encontrar histórias que tornem cada evento esportivo particular.

Ele acredita que as redes sociais, sites e portais responderão pela transmissão do factual (treinos, viagens, entrevistas coletivas, resultados), enquanto a mídia impressa e a televisão, sobretudo os canais abertos, transmitirão mais desdobramentos, projeções e reportagens exclusivas. No caso da TV, tais histórias, explica o jornalista, devem ainda ser emolduradas com recursos como ilustrações, efeitos sonoros e visuais, dramaturgia, animações – o que as aproxima de um show. Manter o equilíbrio entre o show e o jornalismo insinua-se, assim, um das principais habilidades profissionais.

– Não basta fazer jornalismo; é preciso fazer televisão. Quem quiser trabalhar nesta área deve compreender isso. Para construir uma cobertura esportiva com entretenimento, a edição de imagem é fundamental. O editor tem de descobrir como contar da melhor maneira as histórias e informações apuradas pelos repórteres.

Esporte Interativo anuncia canal por demanda e transmissões em HD

Também nesta quarta, o canal Esporte Interativo anunciou na Mostra PUC o lançamento de um sistema distribuindo material esportivo jornalístico por demanda, ainda este mês. O Interativo Plus será o primeiro canal de streaming na área de esporte. Na palestra Como fazer da sua paixão o seu trabalho?, voltada para alunos de comunicação, o diretor-executivo Leonardo César revelou que ainda este ano o canal lançará sua programação em alta definição e que fechará contrato com duas grandes empresas, cujos nomes não foram revelados.

O Esporte Interativo tem os direitos de transmissão da liga de futebol americano, a NFL, e da Liga dos Campeões da Europa, maior competição do futebol europeu, até 2015. Por isso, nos próximos meses, a empresa contratará entre 40 e 50 funcionários, sendo pelo menos 30 estagiários. Segundo Leonardo, o canal precisa de pessoas apaixonadas por esportes:

– Precisamos de pessoas que se identifiquem com nossos sonhos, nossos valores. Apaixonados como nós. Pessoas com brilho nos olhos, vontade de crescer, vontade de construir junto conosco. Desejamos ser o maior canal de esportes da televisão brasileira.Ligia Lopes

O programa de estágio do Esporte Interativo oferece vagas nas áreas de jornalismo, publicidade, economia, administração e engenharia, para universitários com previsão de formatura até dezembro de 2013. O início do programa é em setembro, e os interessados devem acessar o site e fazer a inscrição até o dia 31 de agosto.

Ao fim da palestra, Leonardo sorteou camisas do Real Madrid e do Barcelona e mochilas entre os estudantes (foto).