Monique Rangel - Do Portal
19/07/2012Com uma voz tranquila e determinada, Ana Caroline Martins, aluna de Engenharia Civil na PUC-Rio conta seus planos de uma vida estável “mas sem ostentação”. A convite do Portal, ela fez o teste da Global Footprint Network (faça aqui) para calcular os impactos de suas ações no planeta. Mesmo sem pendor consumista e com estilo de vida, digamos, moderado, a estudante viu o teste indicar que se todos vivessem como ela, o mundo precisaria de uma capacidade de 0,9 de regeneração por ano, ou seja, quase um planeta inteiro. A tendência, apontam alguns estudos, é que esse número aumente, em decorrência, por exemplo, do avanço da renda familiar e do consumo que caracterizaram a ascensão de uma classe média (ou classe C, como preferem os institutos de pesquisa) que, no Brasil, já responde por 54% da população. É o caso da família de Caroline, cuja renda mensal gira em torno de R$ 2 mil.
Se por um lado a perspectiva de mais consumo – impulsionada, em parte, pelo acesso de ex-integrantes das classes D e E a um admirável mundo novo de bens e serviços – revela-se importante para lubrificar uma economia ameaçada pela crise europeia, por outro lado representa uma ameaça às reservas naturais, cujo esgotamento supõe uma infinidade de transtornos socioecômicos. A família de Caroline, como milhares de outras, está no centro desse impasse entre o apelo do consumo, especialmente para quem finalmente tem a faca para cortar o queijo, e a preservação sem a qual o mundo caminhará para um desequilíbrio perigoso.
Equilibrar desenvolvimento econômico e sustentabilidade talvez seja o desafio mais nevrálgico e difícil da nossa era. Encontrar essa delicada harmonia exige, repetem especialistas mundo afora, desde políticas de governo e iniciativas empresariais até mudanças elementares, como reciclar o lixo e adotar um modelo de consumo mais comprometido com as necessidades ambientais. De acordo com a Global Footprint Network, se todos vivessem como um americano médio, seriam precisos cinco planetas para suportar a demanda.
Salto de renda desperta mais promoções e produtos para a classe média
Um dos componentes mais expressivos, e voláteis, desta equação é a chamada nova classe média. Faz tem que se tornou a menina dos olhos do mercado, não raramente uma tábua de salvação. De acordo com o estudo “O Observador Brasil
O objetos de desejo da estudante de 24 anos estão ainda um pouco abaixo do modelo de consumo predominante, o americano, que, observa o publicitário Bernardo Mariani, inclui “a casa e os dois carrões na garagem, como os vistos nos filmes”. Para o professor de Comunicação da PUC-Rio, o padrão de consumo tende se alterar com o avanço da consciência ecológica:
– A consciência ecológica é um movimento
É preciso uma "regulamentação democrática" dos impactos ambientais, diz Besserman
Para o economista Sérgio Besserman, presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e Governaça Metropolitana do Rio, os sonhos de consumo da classe C tratam de “um desejo legítimo e um direito”. Besserman, também professor da PUC-Rio ressalva, no entanto, que “não se pode perder de vista o problema”: os recursos naturais já esgotados.
– Existe a necessidade de precificação e uma “regulamentação democrática” dos impactos ambientais causados pelo homem. A consciência ambiental não é individual, é social. Um dia será feio ter um carro do ano e grande, um vinho caríssimo – pondera.
Nada simpatizante à cultura do descarte, Caroline lembra que sempre preferiu produtos de longa duração. Ela acredita que, sem abdicar dos planos embalados pelo aumento da renda, possa harmonizar o consumo com as exigências ambientais. O que a preocupa, confessa a universitária, "são os hábitos do dia a dia", como apagar as luzes de casa e separar o lixo para a reciclagem. Promete tornar-se mais "engajada" nestas ações.
A pesquisa Consumo Consciente
– Eu me preocupo, mas no meu dia a dia não costumo parar para pensar se os produtos são ecologicamente corretos na hora da compra – admite Caroline.
Princípios verdes ficam à margem da avaliação de compra
Assim como a estudante, 67% dos consumidores não levam em conta se o produto está de acordo com os princípios verdes, aponta estudo da Fecomércio. Embora ainda intangível para o comprador médio, o prejuízo causado por consumo exagerado ou em descompasso com as necessidades ambientais apresenta, cedo ou tarde, uma fatura socioeconômica significativa, alertam ambientalistas.
Para calcular a “pegada ecológica” e os impactos das atitudes da estudante no meio ambiente, o teste da Global Footprint Network, feito por Caroline, reúne perguntas como as relativas ao valor gasto em roupas e em eletrodomésticos e a frequência que se come carne e viaja de avião. Segundo a estudante, esses valores vêm aumentando, principalmente, há oito anos:
– Antes carne era uma vez por semana e as viagens para visitar a família no Nordeste eram a cada dois anos, pois tínhamos que juntar o dinheiro mês a mês. Recentemente, a minha mãe resolveu viajar e foi em uma semana. Ainda é preciso planejar, mas antes isso era impensável – comemora.
Depois de refletir sobre o resultado do teste, Caroline decidiu que, mesmo abaixo do padrão consumista, quer repensar os hábitos de compra:
– Tenho preocupação com os recursos do planeta. Aplicar isso no meu dia a dia é o que eu preciso melhorar agora.
Manual do consumidor consciente Além dos 8 R’s incentivados pelas organizações não-governamentais especializadas no tema (reduzir, reutilizar, reciclar, respeitar, refletir, reparar, responsabilizar-se e retuitar), as condutas para um consumo comprometido com as metas sustentáveis reúnem ações relativamente simples. Boa parte delas exige não mais do mudanças de hábitos. Por exemplo: . Dispense as sacolas de plástico; . Vá as compras com tudo planejado; . Prefira as empresas com práticas ambientais; . Compre produtos com menos impacto na natureza, como madeira certificada e sprays que não tenham CFC’s; . Dê preferência a produtos que exijam menos gastos com transporte.
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