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Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2024


Meio Ambiente

Brasil terá de aprender a consumir, admite embaixador

Tiago Coelho - Do Portal

11/05/2012

Jefferson Barcellos

Quem espera uma Rio+20 com agenda centrada basicamente no futuro ambiental deve rever as expectativas. O negociador-chefe do Brasil na conferência da ONU, André Corrêa do Lago, antecipou que a busca de políticas para a economia verde conduzirá grande parte das negociações: “Não há como imaginar as discussões sem falar em desenvolvimento econômico. Os países estarão aqui discutindo economia”, observou o diplomata em palestra, ontem, na PUC-Rio, da qual participou também o reitor da universidade, padre Josafá Carlos de Siqueira.

Para Corrêa do Lago, as articulações em torno de uma economia sustentável terão de superar as divergências entre os países desenvolvidos e os emergentes – que, diferentemente da Rio 92, acumulam mais fichas no tabuleiro global. O embaixador acredita que a polarização entre os interesses das nações estagnadas economicamente e as debutantes na explosão do consumo marcará os debates entre os líderes mundiais. Oitenta chefes de Estado têm participação confirmada na conferência que o Rio acolherá entre os dias 20 a 22 de junho.

Depois da palestra, André Corrêa Lago conversou com o Portal PUC-Rio sobre essa nova fase do conflito de interesses entre países centrais e periféricos. Ele reconhece que será difícil convencer países como Brasil – que, a despeito das desigualdades crônicas, respira avanços econômicos e sociais – a consumir menos, justamente quando uma parcela expressiva da população passa a ter acesso a mais bens e serviços.

– Sem uma lógica econômica, os países mais pobres não conseguirão pensar numa lógica social e ambiental. A primeira decisão que toma uma pessoa que ascende economicamente é consumir, e com o Brasil não será diferente – ponderou.

Por outro lado, Corrêa do Lago confia no potencial do país em liderar a "mudança de atitude" em relação aos hábitos de consumo. Uma mudança que, segundo ele, já é indicada pelo reposicionamento dos países emergentes no xadrez internacional:

O Brasil pode contribuir muito neste debate internacional porque estamos melhorando no campo econômico e social. Portanto, temos uma oportunidade de já mergulhar num mundo em que o consumo seja mais inteligente e mais lógico – avalia ele, reforçando que, desta vez, o Brasil e países como China, Índia e África do Sul estão no centro das decisões:

– Este é um processo complexo. Mas acredito que o Brasil possa ter uma liderança nessa área, porque tem uma tradição de encontrar satisfação em coisas simples. E eu acho essa contribuição muito importante.

Sobre transformar a chamada economia verde em um negócio viável, o negociador-chefe do Brasil na Rio+20 transfere a responsabilidade às empresas: precisam buscar soluções criativas para aliar lucro e produção sustentável. Ele reconhece, contudo, que instituições empresariais de grande porte, no exterior e no país, têm trilhado um caminho rumo ao equilírio entre crescimento econômico e responsabilidade ambiental.

– Hoje há milhares de exemplos nesse sentido, em setores econômicos diferentes. Na agricultura, na indústria e no setor de  serviços, a gente tem visto que algumas empresas comprovam um equilíbrio possível para o desenvolvimento sustentável, aliando o social, o ambiental e o econômico. Aqui no Brasil, várias empresas têm mostrado uma sensibilidade socioambiental muito forte, e continuam a ser líderes na dimensão econômica. É necessário fortalecer as empresas que escolhem este caminho.

Para assumir a liderança em políticas sustentáveis, Corrêa do Lago concorda que o Brasil precisa resolver os débitos sociais que o separa dos países desenvolvidos. Por exemplo, cerca de 55% dos brasileiros ainda não têm acesso à rede de esgoto. O embaixador acredita que o país "avança a largos passos" para dirimir esses atrasos.

– O Brasil reúne condições de saber como podemos aliar avanço social, ambiental e econômico, e promover políticas que se fortaleçam umas às outras. Observamos ótimos exemplos de cidades, regiões e comunidades, e não podemos achar que só o governo federal terá as respostas para isso. Lembro que não há uma melhor resposta para todos, as respostas têm que ser naturalmente diversas, pois as circunstâncias são muito diversas.

Ainda de acordo com Corrêa do Lago, outro desafio, não só brasileiro mas mundial, remete à conversão das promessas e discussões levantadas desde a Rio-92 em ações e políticas efetivas. Vinte anos depois, o idealismo deve se tranformar em prática:

– Na Eco-92 éramos mais idealistas. Hoje temos realidades diferentes. Em 1992, a mudança do clima era teórica, hoje é comprovada e se tornou a maior negociação do mundo. Observamos também o lado positivo de saber que a erradicação da pobreza é possível a partir do desenvolvimento sustentável. Nesse ponto, há muita diferença em relação a 92.