Jorge Neto - Do Portal
22/11/2011A fatura dos vilipêndios ambientais pesará menos sobre o planeta do que sobre o próprio homem. "Não temos de salvar o planeta, e sim nos salvar", afirmou o economista Sérgio Besserman, especialista em mudanças climáticas e professor da PUC-Rio, no I Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Ambiental (ENPJA). Parte do IV Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (IV CBJA), a iniciativa reuniu, nos dias 17, 18 e 19, na universidade, palestras e painéis em torno da cobertura jornalística da conferência Rio+20, no próximo ano.
Para Besserman, "nossa onipotência" cria uma espécie de miopia sobre as consequências da falta de cuidados com o ambiente:
– Não temos que salvar o planeta. Nosso tempo é um e curto. O tempo da natureza é longuíssimo. O problema é crítico, mas é crítico para nós, a humanidade. O planeta já passou por problemas muito maiores do que os que podemos criar. A natureza vai se recuperar, nós não – alertou o ex-presidente do IBGE e do Instrituto Pereira Passos.
Receoso com os rumos das mudanças ambientais, o também economista Ladislau Dowbor, professor da PUC-SP, lembrou que a mídia precisa ser uma forte aliada para o desenvolvimento de uma cultura menos consumista e, assim, mais alinhada à sustentabilidade:
– O conteúdo midiático, propagando, por exemplo, a venda de carros, piora tudo. É necessária uma mudança cultural, começando pelos meios de comunicação, para acabar com essa cultura de consumo.
Outra providência importante, ainda segundo Dowdor, é a melhor avaliar a contribuição dos recursos naturais para o Produto Interno Bruto (PIB), a soma das riquezas nacionais. Para o professor, esse tipo de subtração corresponde a “vender a mobília de casa”:
– O sistema está entrando em colapso e o planeta exige mudanças. O PIB, por exemplo, não mede a redução de estoques de recursos. È como vender a mobília de casa, nós ganhamos dinheiro, mas ficamos sem nada. A gente mede como positivo todo esse uso de recursos naturais e achamos que estamos bem. No conjunto, o aumento do consumo prejudica a vida do planeta. O PIB não mede o que realmente precisamos medir – crirtica o professor.
Outra grande preocupação dos especialistas reunidos na PUC-Rio refere-se à qualificação para abordar de forma consistente e contextualizada assuntos e encontros dessa natureza, como a Rio+20. Membro da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental e professor da PUC-Rio, o jornalista André Trigueiro avalia que a imprensa precisa cobrir tais discussões com mais profundidade e espírito crítico:
– Jornalista ambiental tem que vir com o crachá escrito: "eu incomodo", e não é isso o que tem acontecido. Houve uma cobertura mal feita sobre o Código Florestal, e agora a maioria dos brasileiros não sabe o que é Rio +20. O que falta a mídia para denunciar o outro lado de uma boa notícia? – provocou.
Marcada para os dias 4, 5 e 6 de junho, a conferência da Organização das Nações Unidas Rio+20 discutirá a "economia verde" e governança o para desenvolvimento sustentável. O jornalista Aron Belinky, da Vitae Civilis e Ecopress, prevê uma cobertura frenética, por conta do "calendário de eventos muito complexo".
– Na segunda-feira anterior ao início da conferência já terá movimento. Nos dias seguintes aos debates, teremos de repercutir as decisões. E ainda teremos a reunião da G20.
A Rio+20 já mobiliza ações e palestras na PUC-Rio. Uma semana antes da conferência (25 a 30 de maio), dez ganhadores de Prêmio Nobel, entre outros acadêmicos, pesquisadores e cientistas, se reunirão na universidade para discutir os pontos principais da agenda verde e do desenvolvimento ustentável. Mais informações em http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=11376&sid=148 e http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=11315&sid=148.
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