Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 2025


Ciência e Tecnologia

Livro digital deve ajudar educação

Gabriel Picanço - Do Portal

17/12/2010

Mauro PimentelLeitores digitais como o iPad – lançado no íncio do mês no Brasil – facilitam a pesquisa e permitem ao estudante carregar os livros em um único aparelho, do tamanho de uma revista. Dispensam o corte de milhares de árvores e economizam a energia gasta na fabricação do papel e na distribuição dos livros. Por esses motivos, especula-se que o livro de papel –soberano no mercado há mais de 500 anos – será substituído por aparelhos eletrônicos capazes de carregar bibliotecas inteiras em memórias virtuais. O professor Fernando Sá, da Editora PUC-Rio, considera que o livro "não vai acabar", mas prevê a disseminação do formato digital. Para ele, a mudança será vantajosa tanto para leitores quanto para editores, e deve ser aplicada no aperfeiçoamento da educação brasileira. A professora Eliana Yunes, da Cátedra Unesco de Leitura (PUC-Rio) admite que a "revolução" do livro digital poderá contruir para elevar o nível de leitura no país, mas condiciona este avanço a outra série de esforços, como a familiarização com a pesquisa.

– A indústria de papel é altamente poluidora. A impressão, acabamento e distribuição são complicadas, sem contar a necessidade de estoque. Com a internet, não tem isso. Toda a logística atual se tornará desnecessária.  Basta apertar um botão e o livro vai para qualquer lugar. É uma revolução. Eu consigo daqui do Rio de Janeiro vender um livro para Manaus, com dois cliques na máquina. Acho que todas as editoras do mundo terão que ter uma politica para esse formato de livro – observa Sá.

Por enquanto, há pouca oferta de obras em português digitalizadas, a tecnologia não é "definitiva" – exige aperfeiçoamentos – e o preço segue alto para a maioria dos consumidores. Aparelhos como iPad e Kindle estão ainda restritos a poucos usuários, a maior parte deles interessada por gadgets (aparelhinhos tecnológicos de última geração). Mas é provável a popularização desses aparelhos nos próximos anos, a exemplo do que se obesrvou com computadores e celulares.

Substitutos da prateleira: Os principais aparelhos para a leitura digital

Positivo Alfa - Primeiro e-reader da empresa brasileira, tem tela sensível ao toque de seis polegadas, com tinta eletrônica, teclado para anotações, memória de 2 gigas e entrada para cartão de SD. Transfere livros pela entrada USB ou diretamente de wi-fi. Preço médio de R$ 700.

 Amazon Kindle - O leitor mais vendido do mundo tem teclado, tela e-ink, 2 gigabytes de memória e baixa livros atravez de wi-fi ou 3G. Não é comercializado no Brasil. O preço lá fora é US$ 189.

Aple iPad - Ler livros é apenas uma das várias funções desse aparelho. Se por um lado permite a leitura visualmente rica, com interatividade, por outro a tela brilhante pode se tornar incômoda na leitura de textos mais longos. O iPad chegou ao Brasil no começo de dezembro. O modelo mais barato saí por cerca de R$ 1.650 reais.

Gato Sabido Cool-er - O aparelho da editora brasileira com tela e-ink de seis polegadas é a opção mais básica e barata para a leitura digital. Nem tão barata assim. O modelo custa R$ 600. A loja virtual reúne mais de 2 milhões de livros (a maioria em inglês) para venda.

Iriver Story EB02 - Aparelho da empresa coreana, já vem com 200 títulos na memória, todos em inglês. A tela de seis polegadas também usa a tinta digital. O grande problema ainda é o preço: Média de R$ 969 para um aparelho com funções limitadas.

Embora alguns especialistas acreditem que a evolução tecnológica aumentará o conforto da leitura, outros apostam que a relação com o formato clássico jamais desaparecerá. Enquanto doutores em marketing e em consumo discutem a dimensão da mudança, editoras se ajustam ao avanço do livro digital.

O primeiro aparelho portátil para leitura de livros digitais foi lançado em 1998. Mas o primeiro lançamento significativo sairia quase uma década depois: a linha Sony Reader, em 2006, precursor da tecnologia e-ink: a tinta eletrônica imita o papel e dispensa a tela de LCD luminoso, que incomoda a vista. Em 2007, a loja online Amazon, maior vendedora de livros do mundo, anunciou o seu "revolucionário leitor": Kindle, que se tornou o portátil para leitura mais usado no mundo.

A hegemonia do Kindle começou a ser ameaçada com a lançamento do iPad, da Apple, que combina a função de leitura com outras utilidades. Um dos principais atrativos é possibilidade de leitura interativa, com animações, filmes e sons, o que pode ajudar a atrair novos leitores. Segundo  o escritor e bibliófilo italiano Umberto Eco, oséculo XXI será a “glória da palavra escrita” graças à internet.

Se no século XX as imagens dominaram a comunicação humana por meio da fotografia, do cinema e da TV, agora a produção e o consumo de conteúdo escrito migra para os e-books, sites de notícias, blogs, redes sociais. Na avaliação de Fernando Sá, todo esse conteúdo disponível e as novas tecnologias devem ser aproveitadas para melhorar a educação no Brasil:

– Todas bibliotecas disponíveis. Isso é uma maravilha. A gente tem que prestigiar essa revolução,  fazer que isso se dissemine cada vez mais. Em um país como o Brasil, um dos projetos fundamentais, importante para melhoria da educação, é a banda larga.  O Brasil está atrasado nisso. Deve democratizar a banda larga, colocar informática nas escolas, baratear o custo dos computadores – propõe o editor.

O Brasil ocupa a 47ª posição entre os 53 países com maior índice de leitura. Segundo mais recente pesquisa sobre o assunto (Retratos da leitura no Brasil, de 2008), 45% da população não gosta de ler.  A mesma pesquisa mostra que a média de livros lidos anualmente por cada habitante é 4,7 (a maioria deles obrigatórios no ensino formal). Nos Estados Unidos, a média é de 10 por pessoa. Para a professora Eliana Yunes, da Cátedra Unesco de Leitura (PUC-Rio), os números são o resultado "de anos de uma pedagogia equivocada que desincentiva a leitura entre os jovens":

– No Brasil, aprende-se a ler como se fosse unicamente tarefa de domínio de um código. Considera-se que, dominados os códigos, a pessoa saiba ler. Mas isso não é verdade. A produção de sentido se dá no circuito em que estão o texto, o contexto e o leitor. O ato de aprender a ler implica uma troca de experiências de vida, suas memórias. A pedagogia da leitura, no Brasil, faz prevalecer a ideia de que o texto tem que ser compreendido em um único sentido, e isso contribui para o sentimento de incapacidade do leitor, que não adivinha o que o autor quer dizer.

Para Eliane, o acesso universal à internet e a novidade dos suportes para leitura digital pode contribuir para o desenvolvimento da leitura no país. Mas este desafio, ressalva a professora, exige outros esforços e competências coordenados.  Segundo ela, um grande passo é familiarização dos alunos com a pesquisa:

– Assim as pessoas vão ler mais. Se antes eu tinha que sair da minha casa e ir a uma biblioteca pesquisar, agora eu não preciso mais. O surportes tecnológicos poderão ajudar em certas circunstâncias, mas não há garantia de que a tecnologia nova vá resolver o problema que o livro não resolveu.