Carina Bacelar e Evandro Lima Rodrigues - Do Portal
19/11/2010O número de casos aumenta: só no estado do Rio já são 43 notificados. No Distrito Federal, segundo a Secretaria de Saúde, 22 pessoas morreram em decorrência da superbactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), resistente aos antibióticos de uso habitual. Embora as vítimas se limitem praticamente a pacientes de UTI, mais vulneráveis, o avanço da KPC renova a discussão – e impõe esclarecimentos – sobre o uso de antibiótico. Ainda que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenha proibido a venda indiscriminada do medicamento, o infectologista Rômulo Macambira, professor da Escola Médica de Pós-graduação da PUC-Rio, propõe um rigor maior na prescrição e na comercialização de antibióticos. A banalização do uso desse tipo de remédio pode causar uma série de complicações.
– Assim, quando há um corte no braço, por exemplo, não há por que entrar logo com antibiótico. Nesse caso, o corpo pode produzir mecanismos de defesa capazes de vencer a infecção – explica.
Macambira esclarece que o antibiótico (utilizado pela primeira vez em escala industrial na década de 1940) é importante, e muitas vezes imprescindível, para o combate a determinadas inflamações. Mas deve ser usado mediante exame médico que identificará a bactéria causadora e, assim, o antibiótico específico para combatê-la. Para evitar problemas como a formação de superbactérias e outros efeitos prejudiciais à saúde, os cuidado com a dosagem e o tempo de uso são igualmente importantes. Deve-se seguir a orientação médica.
– Se o medicamento for usado, por exemplo, por tempo menor do que o adequado, corre-se o risco de criar bactérias resistentes, o que leva a outras complicações – alerta.
Segundo o especialista em medicina intensiva Cid David, atualmente há uma discussão em torno do tempo de ingestão do medicamento. Mas ele depende do tipo de bactéria: “tratar a infecção não “esteriliza” o doente, que quando muda de enfermaria, pode disseminar o germe” – explicou Cid.
Para o especialista a falta de informação é um dos principais problemas no uso indiscriminado de antibióticos. Segundo ele, é comum pessoas com determinados problemas de saúde buscar médicos com especialidades que não atendem as suas necessidades. Outro problema apontado por Cid é o uso de receitas antigas para tentar resolver algum novo problema de saúde.
– A pessoa usa o mesmo medicamento prescrito uma vez em outras ocasiões. O doente acha que é sempre a mesma coisa (a ser tomada). Essa venda inadequada eu acho incorreta.
O surgimento de bactérias resistentes aos antibióticos está relacionado a vários fatores. O uso indiscriminado é um dos mais relevantes. Embora seja observado com mais frequência – ou mais gravidade – em hospitais, o problema se manifesta em ambientes diversos. Segundo Macambira, existem bactérias multirresistentes além da KPC. Ele aponta o uso abusivo de medicamentos de caráter anti-inflamatório como causa de uma doença chamada Colite Pseudomembranosa. Significa uma inflamação do cólon que quase sempre aparece em pessoas tratadas previamente com antibióticos.
Segundo Cid, o uso de antibióticos causa a geração de superbactérias quando são destruídas as sensíveis e ficam somente as resistentes. Essas últimas podem agravar a infecção ou ainda se disseminar. Ele ressaltou que em muitos casos, a simples troca de antibiótico resolve o problema, pois a bactéria se torna resistente a um determinado tipo de medicamento. Mas, se continuar o uso frequente de vários medicamentos, as possibilidades se esgotam.
– As autoridades de saúde devem identificar os germes resistentes e isolá-los, para investigar melhor o seu perfil – salienta Cid.
Macambira explica que há duas formas de contaminação por bactéria: pela pele ou pelas mucosas. Quando sadias, seriam elas as primeiras barreiras contra uma infecção. Ao contrário, provocariam quatro sintomas no corpo:
– A pessoa começa a sentir dor e a área da infecção fica vermelha, quente e inchada. Esses quatro sintomas chamamos de inflamação.
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