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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Ciência e Tecnologia

Saúde espiritual e social ajuda o combate ao estresse

Evandro Lima Rodrigues - Do Portal

25/10/2010

Mauro Pimentel

“Mente sã, corpo são, espírito são”. A busca da vida saudável une ciência e espiritualidade, afirmou professor titular da área de homeopatia da Escola Média de Pós-Graduação da PUC-Rio, Jorge Biolchini, na abertura do terceiro ciclo de palestras do Programa de Promoção da Saúde. “Precisamos cultivar uma saúde global: física, mental, social e espiritual", orientou Biolchini. Com o tema Saúde Mental, o encontro reuniu, quinta-feira passada, na universidade, a psicóloga Tereza Negreiros, professora do Departamento de Psicologia da PUC-Rio; o psiquiatra Eduardo da Costa Barros, chefe do Setor de Pesquisa Clínica da Santa Casa de Misericórdia do Rio; e a teóloga Nina Boff, também professora da PUC-Rio. Eles enfatizaram a importância da espiritualidade e do equilíbrio psicológico para combater a ansiedade – que atinge, aproximadamente, 400 milhões no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.

 Mauro Pimentel

Segundo Biolchini, estudos revelam o peso do humor no surgimento de doenças conhecidas como “somatização”. Por exemplo, um resfriado contraído logo após um período de estresse. A relação, esclaraceu o homeopata, tem mão-dupla: durante o resfriado, só para ficar no mesmo exemplo, o humor é alterado, assim como as emoções. Biolchini acrescentou ainda que a saúde também depende da dimensão social:

– O indivíduo não está isolado no mundo, e a saúde mental deve ser pensada no sentido da interação entre a esfera pessoal e a social.

Ainda conforme o especialista, pesquisas comprovam que pacientes “bem acompanhadas” por familiares e amigos reagem melhor ao tratamento. O sistema imunológico muda de acordo também com as relações sociais.

Tereza Negreiros (foto) reforçou a constatação. Segundo ela, o ser humano é constituído "mais pela interação nas instituições escolares, religiosas e familiares do que por aspectos biológicos". Para a psicóloga e professora, aspectos como o consumo em excesso atingiram um nível extremo e têm provocado uma reação de redescoberta da espiritualidade como um dos caminhos da saúde. Ela lembrou que, no latim, saúde e salvação equivalem-se, e pregou uma união de esforços para melhorar a qualidade de vida: 

 Mauro Pimentel – Pode-se estabelecer uma relação entre psicoterapia, religião e espiritualidade – recomendou.

Essa prescrição carrega, segundo Lina Boff, um dos principais ingredientes para reduzir o risco de doenças: harmonia. A integração de saberes, ressaltou Lina, é um dos principais passasos para o equilíbrio necessário à saúde. Nessa lógica, a cura torna-se um processo global. Resulta da construção de uma unidade entre corpo, mente, espírito, interação social.

Ansiedade relaciona-se a uma série de transtornos

À plateia formada por professores e estudantes, Biolchini explicou que o corpo humano é composto, basicamente, de três grandes sistemas reguladores: o nervoso, o imunológico e o endócrino, que sofrem influências entre eles. se por um lado tais interferências são positivas, ajudam o funcionamento do organismo, por outro lado podem gerar desequilíbrio em determinadas condições.

Mais sobre a Síndrome do Pânico

Ele é tão extremado que “incapacita, congela, paralisa”. Os componentes do pânico levam a características como, antecipação do futuro. Ou seja, buscam antever acontecimentos improváveis quase sempre relacionados a prejuízos próprios.

Outro elemento é o medo que surge de um estresse grave e repentino como um assalto, por exemplo. Segundo o médico Biolchini, o pequeno medo é estimulante. A um nível alto leva a um terror na hora que está acontecendo e depois. Neste aspecto há um retorno a antecipação que levaria a uma impressão de impotência, de paralisia.

Esse efeito é a sensação da certeza da morte. No entanto trata-se de um aspecto subjetivo. Assim é importante a intervenção diante de um caso: “as pessoas têm que ajudar mostrando a irrealidade da situação”.

Outra característica de quem sofre de pânico é a falta de ar. Numa crise além de sufocar a vítima também deixa de sentir o coração. Neste caso, deve-se valorizar a “velha” recomendação do “respirar fundo e contar até dez”: é uma ação que induz a mudança de estado.

Uma das principais fontes de desequilíbrio é o estresse. Concebido originalmente como um esforço ao qual o corpo é submetido – e necessário para desenvolvimento orgânico –, virou sinônimo de pesadelo para o homem contemporâneo.

– Com a nossa vida social civilizada, o modo de estresse mudou – esclareceu Biolchini – Entre os outros animais, o estresse é rápido e passageiro. No ser humano, tornou-se frequente e excessivo. O estresse passageiro, como no caso do aluno que estuda pelo estímulo da prova, pode ser positivo. Em excesso, pode levar a pessoa ao esgotamento.

O estresse excessivo é um dos transtornos relacionados à ansiedade, explicou o psiquiatra Eduardo Costa Barros. Segundo ele, tais distúrbios dividem-se em dois grupos: físicos, em que a ansiedade associa-se a sintomas como suor, dor no peito, falta de ar, tontura; e psíquicos, ligados a nervosismo e "ideias obsessivas". O ansioso apresenta, por exemplo, uma preocupação muito grande com o corpo:

 Mauro Pimentel

– Quando aparece uma mancha, ele (o ansioso) começa a pensar obsessivamente naquilo, e a ansiedade passa a fazer parte do campo patológico – observou – Por exemplo, passar mal antes de uma prova, ter diarreia, brancos de memória, não conseguir dormir na noite anterior. Quando isso é ocasional, não se deve dar importância. Mas quando se repete excessivamente, chega-se ao nível do transtorno de ansiedade generalizada.

De acordo com o psiquiatra, quem sofre de ansiedade generalizada pensa o amanhã. “Quando vai dormir revisa o dia todo. Tem tudo programado. Está sempre no sufoco e não consegue relaxar”, descreve.

O pânico, outro transtorno de ansiedade, é sintetizado por Barros como um ataque de medo. Em princípio, natural da sobrevivência humana: "como se um animal fosse atacar outro e precisasse desenvolver um sistema de defesa, de fuga rápida".

– Nessas situações observa-se, por exemplo, uma abertura maior dos olhos, para aumentar o campo visual. O coração dispara, para irrigar melhor a musculatura envolvida na solução do problema. que vai sofrer um impulso pra sair daquela situação. A pele que fica amarela, porque naquele momento é o órgão menos importante: o sangue será direcionado para órgãos mais necessários à fuga – explica o especialista.

A constância nessas reações caracteriza o transtorno. Observam-se ataques que duram de cinco a vinte minutos, sem causa aparente. Lugares escuros, fechados, por exemplo, transformam-se em agentes de medo e de angústia.

Avanço tecnológico aguça fobia social

Já se houver uma motivação externa, o transtorno é caracterizado como “fobia específica”. Represente o medo, por exemplo, de algum lugar ou de insetos, como barata. Outra tipo de fobia é a social, indicada por comportamentos como a recusa sistemática em usar banheiro público, alimentar-se na frente de outras pessoas e em assinar a folha de presença na sala de aula. Segundo Barros, com o avanço tecnológico colabora, em parte, para que esse transtorno fique crônico:

– Se a pessoa precisava, por exemplo, sair para fazer pagamentos em bancos ou resolver outros problemas, hoje a tecnologia permite que faça de casa. Assim, a fobia social acaba tornando-se crônica. A pessoa não precisa do enfrentamento.

O estresse pós-traumático mostra-se igualmente nociso. Resultado de uma situação extremamente estressante – como a dos mineiros que ficaram presos na mina San José, no Chile, por 69 dias –, esse transtorno foi sistematizado após a Guerra do Vietnã. Os médicos precisavam dar um nome à modificação na personalidade e no comportamento dos ex-combatentes. Diferentemente dos outros transtornos, o pós-traumático apresenta quadros de alucinação e estímulos sensoriais que remetem ao estresse sofrido. Assim, ops pacientes estão sujeitos a ataques de pânico, medo, reações inesperadas e depressão. Aspectos climáticos e relacionados à violência podem intensificar esse tipo de estresse.

Pessoas que evitam lugares e situações que supostamente não tenham condições de prestar-lhes atendimento caso sofram algum problema de saúde também apresentam, de acordo mcom Barros, outro caso de transtorno. Conhecido como agorafobia, desenvolve um comportamento “evitativo”:

– A pessoa não vai ao Maracanã ou a uma fazenda, por exemplo, porque imagina a possibilidade de passar mal e não ter quem a ajude. Assim essa pessoa se isola no seu círculo de segurança – observou.

Pensamentos repetidos

O Transtorno Obsessivo Compulsivo, ou TOC, é considerado o mais grave. O psiquiatra apontou, como as principais características, os pensamentos repetidos, irracionais, obsessivos.  Associa-se a uma ideia fixa, geralmente relacionada a um tema "desagradável".

– Por exemplo, começar a contar placa de caminhão, carro e depois multiplicar – disse o especialista – São pessoas que aparentam uma vida "normal", mas sofrem internamente com a ideia obsssiva. Querem evitá-la, mas não conseguem. O pensamento acaba invadido pela ideia fixa. Torna-se uma obsessão.

A compulsão seria, assim, uma atitude para aliviar o pensamento, explicou Barros.  "Para não contaminar o ambiente, a pessoa lava as mãos de forma excessiva: 100, 500 vezes”, exemplifica.

Programa de Promoção da Saúde

Promovido pela Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio, o ciclo de palestras do Programa de Promoção da Saúde está em sua terceira edição. O objetivo é trazer discussões e esclarecimentos sobre a saúde, vinculadas a datas com importância mundial.  Desde agosto mesas-redondas e debates abordaram temas como a saúde do jovem e do coração.

A primeira em comemoração ao Dia Internacional da Juventude reuniu especialistas que falaram sobre dependência digital, cuidados com o sono e deficiência física. A segunda edição, em setembro trouxe em pauta temas como, sedentarismo, fatores de risco cardiovascular e qualidade de vida para comemorar o Dia Mundial do Coração.

Para o professor da Escola Médica Jorge Biolchini os temas estão relacionados a um conceito das últimas décadas defendido pela Organização Mundial da Saúde: “o foco não é na doença, e sim na saúde”.

Em novembro já está programada a última palestra do ciclo. Lembrando o Dia Mundial do Diabético o encontro será no próximo dia 14 na sala 102 k. Fatores de risco e hábitos de consumo e cultura diabética estarão entre os temas.