A nanotecnologia aproxima o dia a dia da ficção científica. Aplicada, por exemplo, numa tinta capaz de regenerar-se automaticamente ao ser arranhada ou provador artificial de café, a manipulação de partículas com um bilionésimo de metro - quase invisíveis - cria produtos impensáveis, como um nano-robô que encaminha o remédio diretamente ao local da infecção, no interior do corpo humano. Nesta escala, uma bola de futebol é tão grande para uma partícula dessa como o mundo é para a bola de futebol.
Ainda não é possível para o corpo humano ficar do tamanho de uma partícula em escala nano, como fizeram os médicos do filme Viagem Fantástica, de 1966, mas o conceito da atuação no local da doença foi antecipada pelo roteiro. Com a técnica do "carreamento de fármacos", evita-se uma intoxicação de outras partes do corpo pelo remédio. Embora grande parte dos estudos sobre nanotecnologia seja voltada à área da saúde, as aplicações estendem-se a diversos setores, desde usos prosaicos até sofisticados, como para a extração de petróleo. O professor Marco Aurélio Pacheco, do Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Rio, observa que as pequenas empresas podem conduzir o processo inovador:
- As grandes empresas estão utilizando a nanotecnologia nas áreas de petróleo ou exploração de mineiras. O desenvolvimento de novos produtos fica a cargo das pequenas empresas.
Especialista neste tipo de pesquisa, Pacheco esclarece que os produtos desenvolvidos com nanotecnologia tendem a facilitar a rotina, mesmo sem representar necessariamente uma grande mudança. Por exemplo, um líquido que, borrifado nas janelas, faz a luz do sol desprender a sujeira do vidro. Assim, a água da chuva leva os resíduos embora. A tecnologia dispensaria, portanto, a limpeza manual da janela.
- O produto vai fazer sucesso, porque ninguém vai querer mais limpar as janelas - prevê o professor.
Segundo o professor, a produção de tintas "inteligentes" também recebe investimentos crescentes em nanotecnologia. A nova geração de tintas deixa a superfície mais lisa e recupera automaticamente o estado original, em caso de dano. Uma auto-cicatrização.
Além de remédios, produtos de limpeza e tintas, os alimentos também correspondem a um campo de aplicação potencial da nanotecnologia. Diversos estudos dedicam-se a melhorar a produção, tanto na quantidade, quanto na qualidade do plantio.
Em dois anos estará no mercado um revestimento feito de nanopartículas de prata que envolverá os alimentos e bloqueará a ação de bactérias, e assim diminuirá o desperdício. Um outro exemplo, ainda no setor de alimentos, flerta com a ficção: a Embrapa desenvolve, desde 2005, uma lingua eletrônica. Nanosensores, mais aguçados do que a lingua humana, avaliam a qualidade do produto. O provador artificial foi desenvolvida inicialmente para o café e começa a ser adaptado para analisar a qualidade das laranjas.
Capacitação profissional
Se na décade de 80 Bill Gates "criou" a Microsoft numa garagem, seria improvável algo do gênero no inovador mundo "nano". O desenvolvimento desta tecnologia exige estrutura de ponta - como equipamentos caros - e pesquisa aprofundada. Na PUC-Rio, os estudos concentram-se na pós-gradução, que serviu de base para a criação de duas empresas especializadas, ainda em fase de concepção. A partir do próximo semestre, a univeridade oferecerá o curso de Engenharia em Nanotecnologia.
"A formação de novos profissionais com acesso a equipamentos e à cultura empreendedorista da PUC são ingredientes para aproximação entre empresa e universidade", ressalta o professor Omar Paranaíba, doutor em nanotecnologia. Segundo ele, o profissional de nanotecnologia terá "uma área de atuação imensa". A capacitação inclui conhecimentos da maioria dos segmentos da engenharia (mecânica, elétrica, química, genética).
Estudos analisam os efeitos
Mesmo com a promessa de revolucionar o cotidiano das pessoas, os produtos produzidos a partir de nanotecnologia não têm futuro garantido. Estudos buscam ainda precisar os efeitos das partículas. Como são menores do que as células humanas, há o receio de que as entrem nestas células, comprometendo a saúde. O professor Marco Aurélio Pacheco pondera:
- Certamente que há riscos - como em toda nova tecnologia -, mas, até o momento, nada significativo. A minha sensação é a de que a nanotecnologia é uma mina de achados - entusiasma-se.
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