Débora Póvoa - Do Portal
10/05/2010Desde o deslizamento de terra em Angra dos Reis, na virada do ano, fenômenos naturais viraram motivo de preocupação frequente para a população e o governo do Rio de Janeiro. No início do mês passado, mais um alerta: chuvas torrenciais provocaram mais de 200 mortes no estado, a maioria soterrada. A necessidade de mecanismos de prevenção de acidentes do gênero torna-se premente. Neste sentido, os Departamentos de Engenharia Civil, Informática e Geografia da PUC-Rio avançaram alguns passos. Criaram a plataforma GeoRisc, um sistema de computador para detectar riscos ambientais.
Desenvolvido em conjunto com outras outras universidades, sob a coordenação do professor de Engenharia Civil Tácio Mauro Pereira de Campos, o sistema cria "mapas e gráficos de suscetibilidade" a partir do cruzamento de dados de ordem geológica e geotécnica, como distribuição de precipitações, declividade, tipo de cobertura vegetal, clima e uso do solo. Estas informações são obtidas em instituições parceiras do projeto, como a Geo-Rio e as prefeituras, e podem ser utilizadas em diferentes escalas e modelos.
– A plataforma permite o uso de diferentes modelos, de acordo com o caso, considerando, por exemplo, movimentos de massas, escorregamentos, processos erosivos. Isso é um diferencial – observa o professor.
Para um diagnóstico confiável de riscos ambientais, a análise da qualidade e da quantidade dos dados levantados mostra-se essencial. Segundo a pesquisadora Monica Moncada, essa é a importância de reunir informações dispersas em vários órgãos:
– A reunião dos dados indica, em princípio, a necessidade de se ampliar ou não a pesquisa em determinado local. Indica também se há necessidade de as informações originais levantadas serem tratadas para entrarem na plataforma. É o caso de dados provenientes de teses ou dissertações – explica.
Apesar da base de dados consistente, a plataforma GeoRisc ainda enfrenta desafios. São necessárias informações mais detalhadas referentes, sobretudo, à dinâmica de intervenções humanas no meio físico. Recursos como fotografias de satélite e sobrevoos de helicóptero são eficazes, porém caros. Para o coordenador do projeto, o principal problema remete à distância entre informação e ação:
– O conhecimento desenvolvido, tanto aqui na PUC quanto em outras instituições de ensino e pesquisa do país, está muito à frente da forma com que tem sido utilizado em beneficio da sociedade – avalia Pereira de Campos.
Ele ressalva:
– A plataforma vai prever a ocorrência de acidentes, jamais evitá-la. Neste sentido, a sociedade deve contar com os alertas das entidades públicas.
Os pesquisadores planejam a atualização semi-automática da plataforma GeoRisc. Informações de caráter prático, como a ocorrência de um deslizamento ou a construção de um novo mecanismo de drenagem, poderão ser inseridas no sistema pelo próprio usuário e calibradas com o banco de dados já disponível. Dotada de "sistemas multiagentes"– uma espécie de inteligência artificial – a plataforma "aprenderá" com as informações e fará uma previsão precisa de acidentes.
– O sistema indicará os tipos de movimentos em um determinado local e a distância que pode alcançar. Assim, teremos uma melhor previsão de risco – destaca o professor – Significa risco de vida. E não é um risco passageiro, de um mês, dois meses. É um risco físico, geográfico, não vai mudar. A natureza fez aquilo daquela maneira e a gente tem que aprender a respeitá-la.
Depois do aperfeiçoamento da atualização e do tratamento dos dados, o passo seguinte é facilitar o acesso à ferramenta. Segundo o pesquisador Baldoíno Fonseca, pós-graduando em Informática, a GeoRisc chegará à internet móvel:
– A plataforma foi desenvolvida para ser utilizada em desktops, mas agora ela está sendo levada para a web. Os usuários poderão acessá-la em qualquer ponto com internet, inclusive em dispositivos móveis, como palmtops e celulares.
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