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Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 2025


Ciência e Tecnologia

Modificação genética contra a dengue no Brasil

Juliana Oliveto - Do Portal

01/03/2010

 Getty Images

Um grupo de pesquisadores publicou esta semana um estudo que sugere uma alteração genética no Aedes aegypti como forma de combater a dengue. A pesquisa – publicada online na página do Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS) – apresenta conclusões sobre o uso de machos geneticamente modificados.

Como a transmissão da dengue é feita através da picada da fêmea contaminada do mosquito, os pesquisadores estão produzindo machos modificados capazes de produzir alterações na próxima geração de fêmeas. Os machos recebem um gene que limita o crescimento das asas. Dessa forma, as fêmeas da nova geração não tem a capacidade de voar e, assim, não podem se reproduzir e nem contaminar as pessoas.

Luke Alphey, professor da Universidade Oxford, diretor de pesquisa da companhia Oxitec Ltd e um dos responsáveis pela pesquisa, disse ao Portal PUC-Rio Digital que a necessidade de impedir a proliferação da doença foi a chave para a pesquisa, combinado com o fato de que os métodos existentes não são considerados eficazes.

– O que se faz hoje é espirrar uma substância química para tentar matar os mosquitos adultos ou, ainda, tentar encontrar e limpar os focos de mosquito. Precisávamos de um método capaz de controlar o mosquito sem agredir o ambiente e que fosse eficiente para caçar as fêmeas – explica o professor.

O pesquisador brasileiro Osvaldo Marinotti, professor na Universidade da Califórnia e um dos participantes do projeto, explica a vantagem do método escolhido:

– O método baseado na genética do mosquito é vantajoso, pois seu único alvo é o Aedes Aegypti, além de possibilitar a redução do uso de inseticidas. Os outros insetos e demais organismos não serão afetados, o que vai acabar reduzindo o impacto ambiental do controle.

Segundo os pesquisadores, o estudo é um avanço importante que pode ajudar a reduzir significativamente a mortalidade por esse tipo de doença, especialmente nas áreas tropicais, como o Brasil. O que o estudo precisa, agora, é sair do papel.

– Precisamos testar o mosquito fora do laboratório, na natureza. No ambiente de pesquisa e no modelo matemático o resultado é muito bom. Apesar de ser um método já utilizado na agricultura, essa é uma nova variante e precisamos agir com cautela, pois os bons resultados podem trazer grandes benefícios para a saúde – afirmou Alphey.

Já Marinotti conta que, depois da regulamentação e aprovação do método, o passo seguinte será a criação de uma espécie de fábrica para produzir os ovos transgênicos do mosquito.

– Uma característica fundamental para o modelo proposto é que os ovos do mosquito, uma vez produzidos, podem ser armazenados por muitos meses sem perder a utilidade. Assim, ao invés de se levar mosquitos para as áreas de aplicação, o que seria complicado, levam-se os ovos.

Os pesquisadores também acreditam que os espécimes modificados levariam de seis a nove meses para substituir a população de mosquitos existentes. Para eles, o ideal é que esse novo método de controle esteja disponível em todos os países que sofrem com a epidemia de dengue, sendo o Brasil um dos maiores e mais importantes.

– Não temos planos imediatos de conduzir pesquisas de campo no Brasil, mas isso certamente seria apropriado e prático se o país desejasse – completou Alphey.

O artigo Female-specific flightless phenotype for mosquito control pode ser encontrado na íntegra, em inglês, no acervo online do PNAS.