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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


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Seminário debate convivência de moderno e arcaico

Davi Raposo e Luísa Oliveira - aplicativo - Do Portal

05/05/2015

O estudo do tempo pelas ciências sociais foi influenciado pela tecnologia, que ajudou na disseminação de pesquisas de diversos países, acredita o professor de História Britânica David Gange, convidado do segundo dia do I Seminário Programa de Pós-Graduação em Comunicação, PUC-Rio e School of History and Cultures, University of Birmingham – Comunicação, temporalidades e culturas, em que debateu sobre “Tecnologias e culturas do tempo” com a antropóloga Tatiana Siciliano, professora do Programa de Pós-Graduação de Comunicação Social.

– O ‘boom’ de trabalhos acadêmicos das ciências sociais sobre o assunto surgiu no fim dos anos 1980, quando autores que tratavam do tempo e da construção social do espaço, separadamente, começaram a ser traduzidos para o inglês. Esse fenômeno incentivou diversos pesquisadores a unir os temas, algo que ainda não era feito. Hoje temos acesso a diversas obras sobre tempo-espaço, o que pode ser um facilitador para conceituar esse termo, que vive em transformação constante – afirmou o professor, que estuda a história da arqueologia, das religiões e a ressignificação da temporalidade nos dias de hoje.

Pós-doutorado pelo Trinity College em Cambridge, Gange citou o Oriente Médio como exemplo de cultura que passou por mudanças na temporalidade, lembrando que pesquisas procuraram estabelecer conexões entre a cronologia descrita na Bíblia e a relatada pela Grécia Antiga por meio dos conhecimentos egípcios de tempo:

– Estudiosos do século XIX tentaram achar o elo entre a cronologia hebraica e a grega, através do Egito Antigo. Mas descobriram que a forma dos egípcios de lidar com o tempo era completamente diferente. Basicamente não existe cronologia no Egito Antigo, uma sociedade que não tem um conceito de espaço-tempo como o que conhecemos.

  Paula Bastos Araripe

Com base no trabalho do professor da Universidade de Tel Aviv On Barak, Gange traçou um paralelo entre o impacto das tecnologias nos países do Oriente Médio e uma mudança de valores do tempo do Egito Antigo para os dias atuais:

– A tecnologia sempre promove uma quebra, como Barak diz em seus trabalhos. Ela ficou tangível como forma de transformação das dimensões sociais e políticas da sociedade. No Egito Moderno, observam-se camelos sendo substituídos por trens, por exemplo. Mas a tecnologia está sempre frágil, porque não se pode saber qual será a próxima mudança a ser incorporada à sociedade.

Na visão de Gange, ainda há muitas diferenças entre o Oriente Médio e outros países que passaram pelo processo de globalização – termo que considera em “constante mutação”. Evidência disso seria a discrepância entre os ideais islâmicos e a cultura europeia, apesar da proximidade geográfica.

Rio da Belle Époque, período de constante inovação

As relações de tempo e espaço também foram o ponto de partida da apresentação da professora Tatiana Siciliano, coordenadora do curso de Publicidade da PUC-Rio e diretora-adjunta do Portal PUC-Rio Digital, que tratou de “Velocidade, artefatos e novas invenções na Belle Époque carioca”.

A partir do estudo de crônicas e charges da época, publicados em jornais e revistas ilustradas, Tatiana observa a sociedade do Rio capital federal neste período de constante inovação tecnológica e social que foi o raiar do século XX. Ela lembrou as primeiras influências da modernidade e dos ares de Paris nos modelos que seriam formados na arquitetura e no estilo de vida dos grandes centros urbanos. Foi no governo do presidente Rodrigues Alves, a partir de 1902, que o Rio de Janeiro inicia sua experiência da Belle Époque, não só na estética, mas também na administração:

– O homem da cidade tem um temperamento diferente do homem do campo. A vida moderna é feita de relâmpagos na consciência, por isso, era necessário um caráter blasé para se adaptar a todas essas modernidades. Era uma sociedade do espetáculo, dos artefatos e da medicina, tudo isso misturado e amalgamado. O jornal e o romance ajudaram na constituição de uma sociedade cujo todos os membros se reconheciam, sem se conhecerem.

Autora do livro O Rio de Janeiro de Artur Azevedo: cenas de um teatro urbano, em que detalha o olhar do escritor sobre a Belle Époque, Tatiana lembrou que a elite brasileira se inspirava na Cidade Luz como modelo em suas vidas, quando parte dessa elite viajava com frequência à capital francesa para se atualizar:

– O Rio entra nessas reformas urbanas e se torna cartão-postal para o Brasil e para o estrangeiro. A Avenida Central era um dos palcos dessa transição carioca, pois agregava essa modernidade que chegava com o automóvel e a avenida. Novidades que atraíam, mas despertavam medo em alguns. Havia os Carranças (pessoas apegadas ao passado) que eram ilustradas na RevistaCosmos reclamando da Avenida Central. Eram as ideias modernas e arcaicas vivendo juntas, mas em constante conflito – exemplifica, ponderando que a realidade era bem diferente para as camadas mais populares: – Para eles, a Bela Época não era tão bela assim, uma vez que eram civilizadas por meios de decretos-leis e repressão policial.

Ouça a entrevista da professora Tatiana Siciliano à repórter Larissa Fontes, na Rádio do Portal.

O seminário será encerrado nesta quarta-feira, dia 6, com um debate sobre Juventude, gênero e construções de beleza, que terá como palestrantes a professora Juliet Gilbert, do Departamento de Antropologia e Estudos Africanos da Universidade de Birmingham, com o tema “Seja grato, paciente e sempre piedoso: negociando feminismo, respeito e a religião própria numa Nigéria competitiva pela beleza”, e a professora Cláudia Pereira (PPGCOM PUC-Rio), apresentando sua pesquisa “Beleza e corpo entre adolescentes nas escolas de modelo: a questão da inclusão social na 'Cidade de Deus' e na Zona Sul do Rio”.  O seminário, realizado na 102K, das 16h às 19h, tem transmissão ao vivo pelo Portal PUC-Rio Digital.

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