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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Ciência e Tecnologia

Cooperação espacial enfrenta dificuldades

Gabriela Pacheco - Da sala de aula

07/11/2008

A Semana Mundial do Espaço, realizada entre 4 e 10 de outubro, foi comemorada por mais de 50 nações, mas marcada por fortes divergências entre os países. Além de divulgar o tema do ano, "Explorando o Universo", o intuito do encontro promovido pelo Comitê para o Uso Pacífico do Espaço (Copuos) e o Escritório de Assuntos Espaciais (OOSA), ambos ligados à Organização das Nações Unidas (ONU), foi reforçar a necessidade de diálogos entre os programas espaciais.

O grande desafio da cooperação entre os países é a desigualdade das partes envolvidas, e em se tratando de tecnologias espaciais, a desproporção só aumenta. A vantagem para os países subdesenvolvidos em uma possível parceria espacial é mais clara: com a mesma verba, ou talvez menos, podem obter melhores resultados. No entanto, o posicionamento de economias fortes, como a americana, divide-se entre manter a posse sobre a tecnologia e a informação desenvolvidas e o risco de ficar obsoleta ao não trabalhar em conjunto. Apesar disso, o analista aeroespacial e jornalista Jeff Foust afirma que há bastante cooperação espacial entre países que competem em outros setores da economia.

– Um exemplo de cooperação é a missão lunar indiana Chandrayaan-1, que contou com equipamentos dos EUA e da Europa, além dos desenvolvidos na própria Índia. Qualquer tipo de colaboração como esta pode ajudar os países a trabalharem juntos pacificamente e evitar a proliferação de armas no espaço, afirmou Foust ao Portal PUC-Rio Digital.

Desde 1999, a Nasa, agência espacial americana, estabeleceu algumas regras para o seu envolvimento em projetos espaciais e aeronáuticos desenvolvidos em colaboração internacional. Proteção contra a transferência de tecnologia e questões relacionadas à competitividade industrial americana devem ser discutidas em todas as negociações.

A conduta da União Européia (UE) com relação a cooperação espacial se baseia nos princípios de expansão e equilíbrio. Empresas de países-membros da UE já venderam satélites de comunicação para a China no passado. No site Space.com, no artigo Europa e China, Vicent G. Sabathier, membro Centro de Estratégicas e Estudos Internacionais (CSIS), diz acreditar que “a democracia e o livre comércio asseguram a paz mundial, e a cooperação aumenta a liberdade”.

– Durante a Guerra Fria, os EUA e a URSS cooperaram para a construção da Apollo Soyuz. Economias competitivas estão cientes que seus recursos são limitados e a cooperação para avanços no espaço ajuda a aliviar o custo e aprender mais sobre o outro país. E enquanto colaboram a nível global, eles diminuem o risco de um conflito no espaço, disse Sabathier.

Por sua vez, a China já é reconhecida por seu progresso espacial, com um programa que a torna a terceira nação a lançar um homem em órbita. Assim como os demais países, o interesse chinês no espaço está na busca de status mundial, tecnologia e informação sobre seu próprio território. Colaborações são vistas com bons olhos pelo programa espacial chinês, que ainda precisa lidar com uma relação delicada com a Nasa. Para Foust, a parceria ainda é improvável, mas poderia gerar grandes resultados.

– A China tem um progresso considerável, como demonstrado no lançamento da Shenzhou-7, e os Estados Unidos é, indiscutivelmente, o país mais poderoso no espaço. Se estes países trabalhassem juntos no futuro, eles poderiam fazer muito mais. No entanto, será preciso superar muitas barreiras, afirmou o analista.

A resposta dos EUA a possíveis parcerias com a China baseia-se em fatores políticos: na suspeita de tentativa de roubo de tecnologia espacial americana, na dificuldade de aprovação do Congresso para que a NASA estabeleça uma relação concreta com o governo chinês e na falta de incentivo para colaboração no espaço com qualquer nação asiática. No entanto, já existe alguma movimentação para que a China torne-se parceira na Estação Espacial Internacional.

A Agência Espacial do Japão, Jaxa, poderá tornar-se um elo da relação entre a China e os EUA. No artigo Pisando em ovos: a cooperação americana com a China, publicado no site Space Review, o editor do SpaceEquity.com, Taylor Dinerman, diz acreditar que a Jaxa está lutando para se adaptar e encontrar um novo papel dentro do cenário mundial. Caso ela se torne uma negociadora dos EUA com o programa chinês, “poderá ser um grande trunfo japonês, em vez de ser apenas um centro pequeno de desenvolvimento de tecnologia e pesquisas científicas”, argumenta Dinerman.

Devido aos custos de qualquer operação espacial, a posição do Brasil é de se beneficiar com a cooperação internacional, através dos acordos da Agência Espacial Brasileira (AEB) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O principal exemplo é a Estação Espacial Internacional (EEI). Para funcionar como um laboratório espacial, que está sendo construído em órbita desde 1998, a EEI conta com equipamentos brasileiros. Em troca, houve a ida ao espaço do astronauta brasileiro Marcos Pontes, em 2006, e são realizados por lá experimentos de interesse nacional.