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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cidade

Jornada desperta não religiosos e católicos não praticantes

Guilherme Simão - Do Portal

18/07/2013

 Rodrigo Serpellone

Milhões de pessoas de diferentes nacionalidades, reunidas no Rio de Janeiro para receber o novo papa e praticar a solidariedade e o voluntariado. Diante da dimensão da Jornada Mundial da Juventude, católicos não praticantes e mesmo não religiosos resolveram se engajar no encontro. Em geral, desejam retomar práticas religiosas e manifestar solidariedade e esperança de um mundo melhor. Para analistas, o interesse dos jovens pelo encontro também pode ser explicado pelo carisma do papa Francisco e pela possibilidade de se integrar a um grupo que compartilha os mesmos ideais.

A possibilidade de ser voluntário despertou o interesse de Fabio Johas, de 19 anos. O estudante de engenharia, que se considera uma pessoa não religiosa, viu na JMJ uma boa oportunidade de mostrar solidariedade.

– Quero fazer um trabalho voluntário e ajudar de forma prática, independentemente de o evento ser religioso. Também espero ter contato com pessoas novas – afirma Fábio, que será voluntário em Guaratiba.

Já o estudante de direito Antônio Bastos, de 21 anos (foto), acredita que a JMJ é uma oportunidade para se integrar a uma comunidade religiosa. Católico não praticante, Bastos espera reforçar sua fé no convívio com jovens religiosos.

Arquivo pessoal  – Para manter a fé, é preciso ter motivações. Acho fundamental se relacionar com outras pessoas religiosas, especialmente quando elas são da mesma idade. Fazer parte de um grupo religioso ativo estimula a religiosidade. A fé vai se esvaindo quando não há contato com uma comunidade religiosa.

Para a produtora de televisão Monique Vasconcelos, de 24 anos (à direita na foto), participar da JMJ será uma oportunidade de se reaproximar da Igreja Católica. Ela vai trabalhar como voluntária na área de distribuição de kits de alimentação. Sua principal motivação é religiosa.

– Eu espero conhecer gente nova e estou ansiosa para ver o papa Francisco. Conhecendo mais pessoas ligadas à religião, eu devo receber mais convites para frequentar outros encontros religiosos.

Monalisa Marques

A vice-decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, Maria Clara Bingemer, afirma que a juventude está motivada a participar da JMJ porque considera que a Igreja está passando por mudanças positivas. Na visão da teóloga, muitos jovens, embora não frequentem instituições religiosas, desejam experiências de transcendência.

– Os jovens estão sedentos de uma espiritualidade que lhes dê sentido para a vida, mas consideram que falta algo construtivo preparado para eles. A JMJ talvez tenha aguçado sua curiosidade e reavivado sua atenção à igreja à qual pertencem. Eles não a frequentam porque consideram que ela está ultrapassada e aborrecida. Agora, a instituição está mostrando outro rosto. Então, os jovens veem na JMJ uma possibilidade de reencontrar essa fonte para sua sede.

Compartilhamento de ideais

Para o sociólogo Francisco Borba, coordenador de projetos do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, a JMJ atrai jovens católicos não praticantes e de outras religiões que buscam manifestar a sua vontade de contribuir para um mundo melhor. Borba afirma que as manifestações recentes nas ruas do país são uma evidência de que a juventude quer estar junta.

– A JMJ tem um caráter de festa jovem, no sentido de ser um encontro para compartilhar ideais. Mas sem o peso da conotação religiosa. Os jovens consideram o evento uma oportunidade de celebrar de forma alegre o seu idealismo. Eles participarão da JMJ em busca de reconhecimento do seu protagonismo na mudança da sociedade.

Bispo presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude, Dom Eduardo Pinheiro também acredita que a JMJ atrai simpatizantes que compartilham os ideais de melhorar a sociedade. Segundo ele, o jovem se identifica com o encontro ao se envolver em todas as etapas.

– Os jovens se interessam pela JMJ porque podem participar inclusive da montagem e da organização do evento. Eles se identificam com o encontro porque ele tem uma cara jovem. A JMJ é caracterizada pela cultura e linguagem juvenis. Além disso, o encontro aborda questões relacionadas à vida, valores, vocação e profissão, que não são assuntos exclusivos de quem professa uma fé – diz o bispo auxiliar de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

Apelo do papa Francisco

Arquivo Portal  Maria Clara Bingemer, professora de teologia da PUC-Rio, atribui o interesse dos jovens pela JMJ à figura do papa Francisco. Segundo Maria Clara, o papa tem apelo entre a juventude. Os voluntários do evento, por exemplo, terão um encontro com o novo chefe da Igreja Católica no dia 28.

– Os jovens veem no papa Francisco uma figura simbolicamente atraente e querem estar perto dele no evento. O papa tem atitudes jovens. Assim como a juventude, ele contesta um status quo distante e aristocrático na Igreja. Além disso, atrai multidões com sua simplicidade e seu estilo descontraído. O papa Francisco se faz próximo e fala uma linguagem mais direta. A simplicidade dele e seu estilo de vida austero chamam a atenção dos jovens.

O professor Francisco Borba, da PUC-SP, concorda que o carisma do papa Francisco atrai simpatizantes para a Igreja. Na avaliação do sociólogo, o papa tem elementos de carisma pessoal que são muito valorizados em um líder.

– O papa Francisco tem três elementos de carisma pessoal que todos aprovam. Primeiro, é um líder que usa uma linguagem fácil. Assim, as pessoas se identificam com ele. Segundo, o papa defende uma Igreja pobre e humilde. Isso impacta a sociedade moderna cujos objetivos principais são o êxito e a riqueza. Por fim, é uma pessoa alegre e feliz, o que é muito importante para os jovens. Eles querem se espelhar no papa e estão inquietos porque dificilmente encontram adultos realizados e de bem com a vida.